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24 ago 2024
Editorial do Jornal Massas nº 722
Eleições nos Estados Unidos marcadas pela crise mundial
Potência dominante, sobressaltada pela desintegração do capitalismo
Em todo o mundo, a classe operária, as camadas arruinadas da classe média e os povos oprimidos, mais uma vez assistem a disputa entre o Partido Republicano e o Partido Democrata. A imprensa monopolista, controlada pelos Estados Unidos, faz chegar até o último rincão da terra o teatro eleitoral da ditadura bipartidária. A máquina política, rios de dólares e poderosas empresas de comunicação montam as convenções com um público arregimentado e paramentado para aplaudir os discursos ensaiados. Os jogos de luzes e movimentos de câmaras calculados são usados como se retratassem a realidade política, econômica e social da maior potência responsável, em última instância, pela marcha da desintegração do capitalismo, pela escalada militar, pelas guerras e pelos confrontos econômicos.
Fenômeno como a crise migratória que está presente no cardápio de discussão eleitoral entre republicanos e democratas não se atém aos Estados Unidos. Trata-se de grandes deslocamentos de pobres e miseráveis que saem de seus países semicoloniais, esgotados pelo saque imperialista e pelas travas aos seus desenvolvimentos econômicos. A guerra na Ucrânia foi impulsionada pela necessidade do imperialismo de colonizar as ex-repúblicas soviéticas e derrubar o poder regional da Rússia restauracionista. Está claríssimo que a Ucrânia vem servindo de pião e de bucha de canhão para a estratégia de geopolítica ditada pela burguesia norte-americana e seus aliados europeus. O massacre e genocídio na Faixa de Gaza pelo Estado sionista somente têm sido possível devido aos navios de guerra, as bases militares e o domínio exercido sobre a feudal burguesia árabe no Oriente Médio pelo poderio da América do Norte. A guerra comercial travada contra a China não tem cor republicana ou democrata. A emersão da economia chinesa – impulsionada pelo processo de restauração capitalista e penetração do capital internacional em suas fronteiras – se tornou incompatível com a ampla dominação norte-americana alcançada após a Segunda Guerra Mundial.
Em meio à guerra na Ucrânia, à ocupação da Faixa de Gaza, aos perigos de se desencadear guerras regionais e à necessidade de frear o avanço chinês, os Estados Unidos forçam as potências europeias a fortalecerem a OTAN e alavancam sua expansão para a Ásia. Em torno às guerras e as disputas econômicas em todas as latitudes com a China, sobretudo, a Casa Branca vem tecendo uma aliança militar típica de situação de pré-guerra mundial. Eis por que se tem reiniciado a potenciação das armas nucleares.
É sintomático que recentemente houve uma queda generalizada nas Bolsas de Valores, começando pela de Tóquio. O estancamento do desabamento financeiro – que lembrou os acontecimentos de 2008 com as quebras nos Estados Unidos e em vários centros financeiros -, certamente, é provisório. O considerado bom desempenho da economia norte-americana depois da recessão de 2009, tomado em relação à estagnação na Europa, parece que tem fôlego curto. Os artificialismos de política fiscal de Biden se tornaram insustentáveis. A movimentação da indústria bélica indica a via do parasitismo para alimentar a economia tendente à queda.
O gigantesco peso do orçamento militar se faz sentir no cômputo da dívida pública norte-americana que é a maior do mundo, depois da do Japão. Isso no quadro de endividamento geral dos Estados nacionais em todo o mundo. O que limita a ação dos governos imperialistas e coloca a inadimplência de boa parte das nações de economia atrasada e semicolonial. A via do grande capital é a de aumentar a taxa de exploração do trabalho, incrementar o saque e promover as guerras de dominação.
A corrida eleitoral nos Estados Unidos trouxe à tona a indesejável posição ultradireitista, para uma boa parcela da população norte-americana, que, derrotada nas eleições de 2020, promoveu a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. No entanto, o candidato à reeleição Joe Biden teve de renunciar e passar à vice-presidente, Kamala Harris, a tarefa de derrotar Donald Trump, que se achava à frente nas pesquisas.
A Convenção em Chicago foi uma tentativa de reverter os fatores negativos que inviabilizaram Biden. Armou-se uma grande unidade da cúpula democrata para fazer uma demonstração patriótica de amor aos Estados Unidos, que, nas palavras de Harris, deveriam se manter na rota da “democracia” e contra a “autocracia”. Trump havia chegado ao absurdo de acusar a candidata democrata e seu partido de “socialista”, “comunista”. Os democratas foram ao ponto de montar uma farsa em torno às negociações para um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Antony Blinken, Secretário de Estado dos Estados Unidos, fez mais uma de suas viagens para enganar o povo americano de que Biden dedicou esforços para colocar fim ao genocídio do povo palestino.
A classe operária norte-americana, sem um partido revolucionário, sem sindicatos independentes, e acomodada à dominação mundial dos Estados Unidos, não tem podido intervir com um programa próprio nas eleições. A divisão mantida pela ditadura do bipartidarismo arrasta as massas de um lado e de outro. Mas não se deve ignorar a aversão crescente de uma camada que são se adapta ao teatro dos republicanos e democratas. O mais significativo, porém, foram as manifestações de condenação à política de Biden de apoiar o Estado de Israel.
O eleitorado mais ao centro e à esquerda segue o Partido Democrata. Isso explica a existência de uma fração ainda que débil, como a representada pelo senador Bernie Sanders, de se colocar em posição crítica em relação às guerras na Ucrânia e Faixa de Gaza. As diferenças entre os republicanos e democratas, entre Biden-Kamala e Trump, se dão principalmente em torno aos direitos civis, à moralidade e à política de imigração. As semelhanças permanecem ocultas aos olhos dos norte-americanos.
Os Estados Unidos oprimem povos no mundo e ajudam as demais potências a manter sua dominação como resultado da partilha do mundo realizada na Segunda Guerra Mundial. Nota-se a limitação das manifestações das bases democratas diante das guerras, embora sejam importantes para assinalar o caminho da luta anti-imperialista.
Diante das eleições e disputas interburguesas, trata-se da vanguarda com consciência de classe reconhecer as razões da crise de direção e colocar-se pela construção do partido marxista-leninista-trotskista nos Estados Unidos, como parte da reconstrução da IV Internacional. Trata-se de travar a luta contra o domínio imperialista sob a orientação do programa da revolução social. Trata-se de erguer a frente única anti-imperialista em defesa das nações oprimidas.