• 05 out 2024

    Editorial: Pelo fim do massacre na Faixa de Gaza, Cisjordânia e Líbano

Editorial do Jornal Massas nº 725

Pelo fim do massacre na Faixa de Gaza, Cisjordânia e Líbano

Não à guerra no Oriente Médio!

Poucos dias de completar um ano da intervenção na Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel passaram à ofensiva no Líbano. Em seguida, o Irã respondeu à matança das mais altas autoridades do Hezbollah enviando mísseis a Tel Aviv. Esses últimos acontecimentos configuram mais definidamente a guerra entre Israel e Irã. De fato, já estava declarada pelos bombardeios das Forças de Defesa de Israel na Síria e nos atentados de Israel no Irã.

A lógica dessas ações militares, que vêm conflagrando o Oriente Médio – justificada por Israel e pelos Estados Unidos – é que o Irã apoia o Hamas e o Hezbollah. Logo, para concluir com êxito a destruição dos dois movimentos contrários a Israel, é necessário destruir as relações financeiras, políticas e militares do Irã com a resistência antissionista na Faixa de Gaza, no Líbano, na Síria, no Iêmen e no Iraque do que resta do movimento islâmico xiita.

Está líquido e certo de que Israel aguarda apenas a autorização dos Estados Unidos para se lançar ao contra-ataque. Não se tem ainda a sua dimensão. O Irã fez duas respostas ao chamado de guerra por Israel, mas comedidas e sem consequências para as posições da defesa israelense e para a continuidade de sua guerra contra os palestinos. Foram dois sinais de que o governo iraniano não poderia tolerar indefinidamente tamanhas provocações.

O assassinato da principal liderança do Hamas no dia da posse do novo presidente, Masoud Pezeshkian, em território iraniano foi um ato de guerra. Esperava-se uma ação defensiva da soberania do Irã, que de fato foi prometida e com o passar do tempo permaneceu nas intensões.

Israel e Estados Unidos vêm contando com a difícil situação econômica do Irã punido pelas sanções do imperialismo e com a crise política que se acirra com as divisões internas. A ofensiva militar no Líbano, com as mesmas táticas de destruição material e carnificina de civis, precedida e acompanhada de atentados contra a alta direção do Hezbollah, obrigou o Irã a recorrer ao lançamento de mísseis sabendo que seriam quase todos abatidos pela poderosa defesa de Israel e da coligação Estados Unidos-Reino Unido. A guerra ao Irã está posta por Israel e Estados Unidos.

Essa conflagração explodiu quando a ONU realizava sua 79ª Assembleia Geral. O seu Conselho de Segurança, mais uma vez, se mostrou incapaz de evitar a expansão da guerra na Faixa de Gaza para o Oriente Médio. Imperam os interesses e as necessidades dos Estados Unidos e das potências aliadas.

O começo da tragédia do povo palestino tomou corpo justamente com a criação do Estado sionista pela ONU em 1948. Nunca garantiu os dois Estados prometidos. Sempre facilitou a expulsão dos palestinos de suas terras, moradias, negócios e afazeres pela força econômica e as armas. A colonização sionista chegou ao extremo de confinar parte dos palestinos na Faixa de Gaza, que se transformou em um campo de concentração, e parte na Cisjordânia, que foi semi-anexada e transformada em um protetorado do Estado de Israel.

A resistência palestina – das intifadas às milícias armadas – foi esmagada seguidamente pelo poderio militar e policial dos israelenses. Os Estados Unidos e aliados prometeram a constituição do Estado palestino nos acordos de Oslo, em troca de desarmar a Organização pela Libertação da Palestina (OLP). Daí decorreu a divisão do povo palestino entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, ao ponto de chegarem perto de uma guerra civil. Mas, os acordos de Oslo ficaram no papel, como ficou a garantia pela ONU de se estabelecer um Estado palestino.

Israel desencadeou intervenções no Líbano com claro objetivo anexionista. Promoveu massacres. Nesse marco, se atomizaram as forças sociais que constituíram o Líbano e formou-se o Hezbollah, grupo xiita ligado ao Irã. Tensões, conflitos e guerras permanentes marcam a implantação e desenvolvimento do Estado de Israel. Nestes 76 anos, nunca se teve um período de paz entre palestinos e judeus-israelenses. Esse percurso de confrontações compõe o quadro mais geral do Oriente Médio desde o fim do Império Otomano, desmoronado na Primeira Guerra Mundial e submetido a uma nova partilha na Segunda Guerra. A dominação imperialista e os vários nacionalismos alimentaram as desavenças históricas e circunstanciais.

As divisões entre os próprios árabes e parte destes com os persas foram e têm sido fundamentais para os Estados Unidos e potências europeias estabelecerem um domínio armado nas entranhas do Oriente Médio. As divisões nacionais e religiosas continuam a se reproduzir e se alimentar sobre uma base econômica atrasada do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas e conservação de uma feudal-burguesia que sobrepõe os seus interesses de casta às massas oprimidas do Oriente Médio.

As variantes do nacionalismo burguês e pequeno-burguês se mostraram impotentes para impor a autodeterminação das nações oprimidas e combater a militarização imperialista do Oriente Médio. A guerra entre o Iraque e Irã, a guerra de intervenção dos Estados Unidos no Golfo Pérsico e no Iraque, a guerra civil na Síria marcada pela intervenção de forças externas e a guerra entre Arábia Saudita e Iêmen, de conjunto, formam o quadro de conflagrações em que se manifestaram as guerras do Estado de Israel e Estados árabes, bem como com a resistência palestina e libanesa.

Muitas foram as devastações e muito sangue foi vertido pelas guerras, que sempre tiveram marcadas pela intervenção do imperialismo. Quando se encontra algum equilíbrio, em seguida ressurgem os velhos choques. Agora, o Oriente Médio está na iminência de a guerra na Faixa de Gaza e no Líbano se ampliar para a guerra de Israel-Estados Unidos com o Irã.

A declaração de Biden que os Estados Unidos não são favoráveis a um ataque às usinas nucleares iranianas indica que esse é o objetivo de Israel. Não faltaram tentativas de impedir ao Irã o direito de ter o seu programa nuclear independente das ordens do imperialismo. Os assassinatos de vários cientistas iranianos foram a sinalização de Israel e dos Estados Unidos de que estavam prontos a irem às últimas consequências para impedir que os persas alcancem armas nucleares.

Para o governo de Netanyahu, criaram-se as condições da guerra tão esperada e preparada. Está apenas na dependência dos Estados Unidos, que estão obrigados a calcular os fatores da crise mundial, que, de um lado, se encontra na guerra da Ucrânia, e, de outro, na escalada da guerra comercial com a China. Mas, qualquer que seja o ataque de Israel ao Irã tem potencialidade para se consolidar em guerra no Oriente Médio.

O curso dos acontecimentos depende em grande medida de as massas e povos oprimidos do Oriente Médio se levantarem em contraposição à guerra contra o Irã e em favor do fim imediato da guerra de Israel contra o povo palestino e libanês. Está posta a tarefa de erguer a frente única anti-imperialista para derrotar as forças que impõem as guerras de dominação.