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28 nov 2024
Divisão interburguesa e ausência da classe operária organizada marcam a situação da guerra
Retomar o movimento massivo nas ruas! Constituir a Frente Única Anti-imperialista!
Estamos há um ano da única trégua na guerra que o imperialismo leva a cabo no Oriente Médio, em novembro do ano passado. As últimas semanas trouxeram à tona diversos acontecimentos relacionados com esta guerra de dominação. Desde os acontecimentos pontuais até aqueles mais gerais, podem levar a uma mudança da situação, mas, por ora, é a permanência do genocídio palestino que marca a situação. A eleição do republicano Donald Trump, nos EUA, certamente está entre os mais importantes, seguido pela reunião do G20, no Brasil, o mandado de prisão de Netanyahu, pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), além do cessar-fogo de dois meses no Líbano. De conjunto, esses acontecimentos indicam a disposição do imperialismo manter o Oriente Médio sob fogo, especialmente a Faixa de Gaza.
O governo anterior de Trump esteve marcado por um protecionismo reforçado, puxado pela guerra comercial entre os EUA e a China. A abertura multilateral dos democratas que o suplantaram eleitoralmente em 2019 não modificou a tendência ao fortalecimento da guerra comercial. O fortalecimento militar das potências no último período, principalmente aquelas filiadas à OTAN, tem sido um reflexo da guerra comercial. Tanto democratas como republicanos estiveram irmanados no impulso às guerras de dominação no Oriente Médio e na Ucrânia. Suas diferenças são de grau. O retorno de Trump tende a fortalecer o protecionismo, impulsionando assim as dissensões entre os EUA e China, e fortalecendo o armamentismo.
O G20, com os democratas ainda na representação estadunidense, esteve direcionado a submeter as nações de capitalismo atrasado às diretrizes do G7. O problema do genocídio na Palestina esteve longe das preocupações das potências, que estão mais preocupadas com a manutenção da sua “ordem mundial”, baseada na dominação de um punhado de nações opressoras sobre a maioria oprimida. Trata-se da necessidade do imperialismo em manter a partilha do mundo do pós-Segunda Guerra, contra as tendências centrífugas. No final do encontro, as nações assinaram um documento em conjunto. Houve divergências na sua redação. Optou-se por uma redação final genérica o suficiente para não responsabilizar ninguém pelo massacre: expressaram “profunda preocupação com a situação humanitária catastrófica na Faixa de Gaza e a escalada no Líbano” e falaram sobre “a necessidade urgente de expandir o fluxo de assistência humanitária e reforçar a proteção de civis e exigir a remoção de todas as barreiras à prestação de assistência humanitária em escala. Destacamos o sofrimento humano e os impactos negativos da guerra. Afirmando o direito palestino à autodeterminação, reiteramos nosso compromisso inabalável com a visão da solução de dois Estados, onde Israel e um Estado palestino vivem lado a lado, em paz, dentro de fronteiras seguras e reconhecidas, consistentes com o direito internacional e resoluções relevantes da ONU”. Como se vê, um mar de hipocrisia. Israel não foi responsabilizado pelo massacre, os EUA e a França tampouco foram responsabilizados por seu apoio à Israel e pelo fornecimento de armas e recursos. O fundamental é que o encontro tratou da governabilidade burguesa diante da crise capitalista persistente do último período.
A burguesia, no entanto, não é coesa. Algumas de suas frações, incluindo algumas de suas representações no comando de instituições e nações oscilaram em relação a condenação do genocídio. As inúmeras discussões na ONU são provas dessas divergências, que embora sejam reais, não tiveram força para confrontar a posição dos EUA diante da guerra. Os vetos do governo Biden nas votações para um cessar-fogo em Gaza mostram isso. A divergência interburguesa mais recente foi o mandado de prisão para o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa Yoav Gallant por “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade” em Gaza. O Hamas comemorou a sentença como um “passo em direção à justiça”. Os EUA condenaram a decisão. A França declarou que Netanyahu tem imunidade em seu território. Tudo indica que não haverá prisão nenhuma, mas o fato serve, sem dúvida, para ampliar a denúncia do genocídio. Os grandes meios de comunicação tiveram que dar a notícia. O New York Times, uma espécie de editorial de jornais de diversos países, inclusive alguns brasileiros, estampou em sua capa o drama da sobrevivência em Gaza. As pressões sobre o governo sionista vêm crescendo no último período. Certamente pesaram na decisão do governo de Israel em aceitar um cessar-fogo no Líbano, que durará ao menos dois meses. Um fato progressivo na extrapolação da guerra no Oriente Médio, mas que indica um reforço na ação sobre Gaza, como o próprio governo israelense já afirmou.
O Exército israelense lançou no domingo (24), novas ordens para que os moradores de Shuja’iyya, periferia leste da cidade de Gaza, deixem a área. O Ministério da Saúde na Faixa de Gaza anunciou domingo um novo balanço 45 mil mortos no território palestino desde outubro de 2023. Ao menos 105 mil pessoas ficaram feridas desde o começo do conflito. Para a população de Gaza, a sensação é de desesperança. “Deixem eles continuarem sua guerra se quiserem. Eles podiam simplesmente parar de nos mandar de um lugar para outro. Perdi toda a esperança. Coloque-se no nosso lugar. Já não temos o suficiente nem para fazer pão.” Disse um jovem habitante de Gaza.
Em contradição com o relativo aumento da pressão sobre o governo de Israel, está o refluxo do movimento de massas que marcou os primeiros meses do conflito. Naquele momento, as massas indicaram o caminho pelo qual a luta deveria passar: movimentação massiva nas ruas, ocupações, bloqueios de portos e aeroportos, greves etc. Um exemplo está na movimentação estudantil. Nos EUA, o movimento de juventude, através das universidades, foi marcante. No primeiro semestre do ano, registrou-se aproximadamente 3.100 manifestações, mas esse número caiu para 950 no segundo semestre. A queda nas movimentações em favor da Palestina no mundo todo é evidente. Trata-se de encontrar as causas desse fenômeno. Nesse caso particular, é possível encontrar nas regras de endurecimento das universidades uma explicação. Assim como no Brasil, estudantes estão sendo punidos na USP sob a acusação de antissemitismo por protestar em favor da Palestina. Mas essa explicação não é suficiente. As causas mais profundas do refluxo serão encontradas nos problemas gerais, não nas particularidades. Entre esses problemas certamente está a ação das direções sindicais e políticas que reforçaram suas crenças de que o problema teria uma solução progressiva através dos organismos internacionais da própria burguesia, como a ONU, o TPI etc., ou através dos rompimentos de relações das nações com Israel. Desgraçadamente, o que se viu foi o oposto. O genocídio permaneceu sobre as pilhas de resoluções e debates na ONU, o número de nações que romperam as relações com Israel é ínfimo, não contendo entre elas nenhuma nação de capitalismo avançado, o que não impactou Israel.
Os novos acontecimentos se limitam às disputas interburguesas. A ausência da classe operária e demais explorados, organizados e em luta contra o genocídio permitem que essas disputas flutuem sobre as cabeças dos palestinos, enquanto o massacre permanece. Apesar da distância, a luta no Brasil não é de menor importância. O governo Lula não fez mais do que declarar o óbvio, que se trata de um genocídio, mas manteve suas relações políticas e econômicas com os genocidas. De abraços com Joe Biden, no G20, Lula mostrou o serviçal do imperialismo que é. O rompimento das relações do Brasil com Israel seria progressivo, mas não poderá ser conquistado através de petições e súplicas. Deverá ser imposto, através da força do movimento, com os métodos próprios dos explorados. O problema está em superar a política corporativista e conciliadora das direções sindicais, que insistem em manter os trabalhadores numa camisa de força em relação ao genocídio e mesmo em relação às suas necessidades mais elementares. Os comitês e frentes de luta que se formaram, bem como os poucos sindicatos e movimentos ativos na luta em favor da Palestina têm o dever de pressionar as direções políticas, especialmente a CUT e outras centrais, para que saiam da passividade e passem a ação em defesa da autodeterminação do povo palestino e pela constituição de uma Frente Única Anti-imperialista, que possa combater pelo fim das guerras de dominação impulsionadas pelo imperialismo.
Neste 30 de novembro, o Partido Operário Revolucionário, seção do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI) continua trabalhando pela organização da luta do povo palestino por uma República Socialista da Palestina, sobre a base da unidade revolucionária dos trabalhadores judeus, palestinos, árabes etc., com o objetivo de conquistar os Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio.
Pela autodeterminação da Palestina!
Pela organização de uma frente única anti-imperialista para responder às guerras de dominação!
Reconstruir o Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional!