• 27 jan 2025

    Editorial: Trump no poder – O que está por vir?

Editorial do Jornal Massas nº 732

Trump no poder

O que está por vir?

À classe operária, cabe responder com o programa da revolução social

Em meio a uma suntuosa cerimônia imperial, Trump tomou posse em 20 de janeiro e assinou à vista da imprensa mundial dezenas e dezenas de decretos. Desconheceu se eram constitucionais ou não. O gesto prepotente conta com o controle dos Republicanos na Câmara Federal, Senado e Suprema Corte. O partido Democrata se encontra debilitado, a ponto de Biden e Kamala assistirem sentados e se levantarem para aplaudir o arrasador ataque de Trump ao seu governo. Os ex-presidentes democratas se postaram ao lado do ex- presidente republicano Bush em cumprimento às formalidades da democracia norte-americana em decomposição.

Um dos decretos mais ofensivos às instituições e ao próprio governo Biden foi o indulto àqueles que invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021, em resposta à denúncia de Trump de que a vitória de Biden havia sido fraudulenta. Trump se negou a participar da posse de Biden, confirmando sua responsabilidade perante a tentativa de manifestantes de impedir a cerimonia de transição de um governo a outro. Os interesses pragmáticos dos democratas não deixaram de ocultar uma posição de colaboracionismo e covardia diante de um movimento ultradireitista que abriga tendências fascistizantes.

Nesse mesmo terreno, há que se considerar a posição de passividade das direções sindicais e dos movimentos amplamente influenciados pela política do partido democrata. Foi visível a atitude contemplativa das organizações e agrupamentos que advogam e sustentam as teses pequeno-burguesas do “identitarismo” e da igualdade racial. Nem mesmo a ala esquerda dos democratas, representada por Bernard “Bernie” Sanders, se distinguiu nesse lodo de conivência. Todos se encolheram servilmente, aceitando a volta de Trump ao poder como um acontecimento democrático.

Os decretos não se limitaram a questões internas. Indicaram o caminho que Trump pretende percorrer nos marcos das relações internacionais e da crise mundial potenciada pelas guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Nesse âmbito de conflagração militar, foi exposta a diretriz de Trump em relação à guerra comercial dos Estados Unidos com a China. Os governos europeus se mostraram “preocupados” com as mudanças de Trump na orientação que vinha sendo conduzida por Biden. O governo chinês procurou se manter equidistante aguardando as ações práticas da nova administração norte-americana. A montanha de decretos para se concretizar depende das reações internas e externas. Trump se utilizou do acordo ditado pelos Estados Unidos ao Estado de Israel e ao Hamas, para mostrar sua força política internacional.

Os decretos foram concebidos para demarcar uma linha ideológica e de ação. Trump a expressou afirmando que os Estados Unidos reagiam ao seu declínio e iniciava um novo momento de ascensão. Responsabilizou os democratas pelo descenso norte-americano e estampou nas primeiras linhas de seu discurso que a “Era de Ouro da América começa agora”.

Esse desejo imperialista reflete o desmoronamento da ordem mundial do pós-guerra ditada pelos acordos de Yalta e Potsdam. As vitórias das forças restauradoras do capitalismo, que levaram à liquidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e à recondução do capitalismo na China, serviram de respiro para o imperialismo garantir seus interesses nas novas condições de retomada da crise mundial. Os Estados Unidos e seus aliados não puderam, no entanto, conter o curso da desintegração, que tomou forma e ritmo geral já nas décadas de 1970 e 1980. As forças produtivas entraram em choque aberto com as relações capitalistas de produção e a partilha do mundo realizada após a Segunda Guerra já não garantia a expansão monopolista, chefiada pelos Estados Unidos. A resistência da Rússia em ceder terreno outrora controlado pela URSS e a emersão da China como potência capaz de concorrer com os monopólios passaram a expressar as mais profundas contradições do capitalismo da época imperialista, que historicamente é de transição para o socialismo.

Está nas mãos de Trump não apenas as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza e a guerra comercial com a China, como também a administração da crise europeia. Nada indica que sejam viáveis acordos econômicos e diplomáticos que arrefeçam a escalada militar. A ambição de Trump de reerguer a economia interna aos Estados Unidos está na dependência do curso da economia mundial. Nessa interdependência, o fator determinante é o mundial.

O conjunto de medidas internas tem tudo para agravar a economia nacional, a exemplo da expulsão de milhares e milhares de imigrantes, ou do aumento dos gastos parasitários com os monopólios. O imperialismo norte-americano terá de submeter e saquear mais a fundo a América Latina, Oriente Médio e África para fazer frente ao declínio da economia interna e à expansão mundial da economia chinesa. A ameaça de intervenção no Canal do Panamá, México e Venezuela são indicadores da política trampista de proteção aos interesses do imperialismo norte-americano. Faz parte dessa linha, as ameaças ao Canadá e à Groelândia. Esse plano certamente depende dos choques entre as forças que hoje configuram a crise mundial. Os Estados Unidos não têm como levá-lo adiante ao mesmo tempo, de uma só vez. O pronunciamento de Trump no Fórum de Davos em tom pacifista e de conciliação de interesses com a China, de fato, procura ocultar o belicismo norte-americano, que apareceu na exigência da OTAN elevar em 5% o seu orçamento militar.

A classe operária dos Estados Unidos e mundial deve se preparar para o avanço das tendências fascistizantes que se manifestam na Europa e que Trump tem tudo para encarná-las. Não haverá pacificação nem interna, nem externamente. A rota de colisão dos Estados Unidos e aliados europeus com a China tende a progredir, embora possa haver alguma pausa curta. O cessar fogo na Faixa de Gaza não desativará os confrontos que envolvem o Oriente Médio, tendo de um lado o Irã e de outro Israel/Estados Unidos. A China necessita aumentar sua influência e a Rússia não pode recuar mais do que recuou na Síria. A Rússia precisa de um acordo com a Ucrânia, desde que a paz ou armistício se configure como uma vitória. Essa configuração do presente momento evidencia mais dificuldades do que facilidades para Trump impor sua política internacional.

Na medida em que a nova administração norte-americana dar passos na aplicação do plano “América em primeiro lugar”, os explorados e as nações oprimidas poderão reagir, mais cedo ou mais tarde. A estratégia contra as medidas e ações do imperialismo se encontra no programa da revolução social, que é proletária e internacional. As reivindicações mais elementares de defesa da vida das massas, como o combate à expulsão dos imigrantes e a toda sorte de discriminação, despertarão na classe operária a necessidade de unificação e de organização independente.

A cada enfrentamento ao plano Trump, interna e externamente, emergirá o programa da revolução social e a tarefa de superar a crise de direção, construindo os partidos revolucionários como parte da reconstrução do Partido Mundial da Revolução Socialista. O Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI) vem desenvolvendo a linha do internacionalismo proletário, seguindo e respondendo passo a passo aos acontecimentos que refletem a decomposição do capitalismo e colocam à luz do dia as tarefas próprias da revolução social.