• 26 abr 2025

    Editorial: A crise mundial avança em sua dimensão e ritmo

Editorial do jornal Massas nº 738

A crise mundial avança em sua dimensão e ritmo

O problema está na crise de direção

Um atentado na Caxemira que matou 26 pessoas reacendeu o antigo conflito entre a Índia e o Paquistão. O governo indiano culpou as autoridades paquistanesas. Em resposta, o Paquistão fechou o espaço aéreo ao país vizinho. Reuniu o Comitê de Segurança Nacional e o primeiro-ministro Shehbaz Sharif decidiu pela interrupção total do trânsito entre os dois países, pediu à Índia que reduzisse sua representação diplomática e suspendeu o comércio. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, por sua vez, suspendeu o tratado sobre o uso da água de rios. O Paquistão considerou um “ato de guerra”, caso seja bloqueado ou desviado o curso dos rios.

A Caxemira é disputada pela Índia e Paquistão desde 1947, quando a Inglaterra realizou a partilha da região em dois países. Durante cinquenta e dois anos, a Índia e o Paquistão sustentaram um conflito permanente, travando guerras. A última confrontação resultou, em 1999, em um acordo, mas que não teve como evitar vários momentos de conflitos e ameaças de retorno à guerra.

A Caxemira se encontra dividida entre a Índia, maior controladora, o Paquistão e a China. Nessa disputa territorial, estão presentes forças que lutam pela independência de Caxemira. A presente discórdia se deve à acusação pelo governo indiano de que o Paquistão apoia ações de “grupos terroristas”, responsáveis pelo recente atentado. Os dois países rivais são portadores de armas nucleares, o que torna mais grave a situação de confronto. As medidas punitivas de ambos os lados não indicam, por enquanto, movimentação militar, segundo as notícias.

A importância do acontecimento se ressalta devido ao quadro da crise mundial, que deu mais um salto à frente com a guerra comercial dos Estados Unidos, visando principalmente à China, e com os objetivos anexionistas do programa governamental de Trump, abertamente exposto no caso da Groenlândia e do canal do Panamá.

A guerra na Ucrânia e a intervenção de Israel na Faixa de Gaza continuam a abalar as relações mundiais. Trump delineou um plano de anexação do que resta do território palestino. O Oriente Médio vem sofrendo um dos maiores abalos recentes depois das guerras do Iraque e Irã e da guerra de intervenção dos Estados Unidos no Iraque. A guerra civil na Síria tende a se reacender depois da derrubada do governo de Bashar al-Assad pela organização Haya Tahir al Shan (HTS) e da continuidade dos ataques de Israel que objetiva avançar as anexações. Os Estados Unidos recrudesceram os bombardeios ao Iêmen em um claro ato de guerra. Mas, a crise na região poderá se complicar ainda mais se Trump for adiante com seu objetivo de acabar com o processo de controle da energia nuclear pelo Irã. O imperialismo pretende que os iranianos desativem suas usinas de enriquecimento do urânio e passe a importá-lo como commodities. O primeiro encontro de emissários de Trump com representantes do governo iraniano serviu para reforçar as pressões e as ameaças à nação oprimida.

A estratégia dos Estados Unidos é a de impor uma configuração no Oriente Médio com palestinos expulsos de suas terras, o Estado sionista de Israel engrandecido pelas anexações, a Síria domesticada e os principais países árabes reduzidos à condição de serviçais aos interesses dos Estados Unidos e de Israel. Trava-se a disputa dos Estados Unidos com o poderio crescente da China. As divisões entre nacionalidades, etnias e religiões favorecem a dominação do capital internacional centralizado e manejado pelas potências.

A guerra na Ucrânia chegou, ainda sob o governo de Biden, ao impasse. Ou a OTAN interviria diretamente e expandiria a guerra à Europa, ou a Rússia arruinaria a Ucrânia e venceria o conflito. Os Estados Unidos e os aliados europeus não estavam preparados para trilhar o caminho de uma terceira guerra. No plano de Trump de concentrar o embate com a China, se encaixa a suspensão da guerra na Ucrânia. As dificuldades, porém, logo se mostraram imensas. Não é tão complicado se chegar a um acordo em que a Ucrânia aceite adiar sua incorporação na OTAN. Esse foi o motivo e ponto de partida da decisão da Rússia invadir militarmente a Ucrânia. A dificuldade começa pela exigência de Putin de neutralidade e desarmamento do Estado ucraniano. Os europeus, ao contrário, decidiram por se rearmar, encabeçados pela França, Inglaterra e Alemanha. Trump admitiu reconhecer a Crimeia como pertencente à Rússia. O problema está em até que ponto a Ucrânia terá de ceder território no leste, ocupado pelas forças russas. O que está mais claro é que o governo Zelensky cedeu à exigência de Trump de colocar as fontes de matérias primas em poder dos Estados Unidos.

Biden usou a Ucrânia como bucha de canhão em seu propósito de cerco da OTAN à Rússia. Trump, agora, a usa como moeda de troca com Putin. Mas, os aliados europeus que serviram à política de Biden se sentem marginalizados e traídos. Os pontos de resistência à finalização da guerra na Ucrânia são significativos. Não se tem como saber que lado terá de ceder mais. Mas se sabe que a Ucrânia na condição de nação oprimida sairá de uma forma ou de outra sacrificada. O povo ucraniano está arcando com os brutais reflexos da restauração capitalista e pela liquidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

A classe operária e os demais trabalhadores do mundo inteiro estão pagando caro. A guerra comercial de Trump constitui um novo patamar dos choques entre nações, que estiveram na base da Primeira e Segunda Guerra. A escalada bélica se sobrepõe à diplomacia e a acordos impostos pelo próprio imperialismo, com os Estados Unidos à frente. Estão previstas para o próximo período esmagadoras dificuldades econômicas, que arruinarão ainda mais os países semicoloniais e impulsionarão a pobreza e miséria das massas.

A dimensão da crise mundial se amplia e seu ritmo se acelera. As massas procuram o caminho da luta. A resistência dos explorados com os métodos da luta de classes vem aplainando o caminho dos combates mais amplos e intensos. Há um obstáculo histórico no fato de a classe operária e os demais trabalhadores instintivamente reagirem às contradições do capitalismo, mas ainda não terem encarnado um programa próprio. Esse obstáculo tem de ser enfrentado fortalecendo os partidos que lutam sob a orientação do marxismo-leninismo-trotskismo e construindo-os onde não existem.

As burocracias sindicais e as diversas variantes dos partidos reformistas impedem que os oprimidos procurem os meios para identificarem e encarnarem o programa próprio que é o da revolução social, que vincula as reivindicações mais elementares à estratégia revolucionária de derrocada do capitalismo e de transição ao socialismo.

A ampliação e o ritmo acerado da crise que atinge todos os países se convertem em necessidade do proletariado tomar a frente da maioria oprimida pela defesa de suas condições vitais de existência, combater as guerras de dominação e a escalada militar, colocar-se na trincheira da luta pela autodeterminação das nações oprimidas, organizar a frente única anti-imperialista e unir as massas no sentido de derrubar a burguesia do poder e transformar a propriedade privada dos meios de produção em propriedade social.