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30 jun 2018
1ode julho de 2018
O Brasil está diante de uma ofensiva do imperialismo. Em outras palavras, uma ofensiva do governo Trump para impor sua política às semicolônias, do capital financeiro e das multinacionais. É por essa via que a maior potência descarrega sua decomposição econômica e social. Quando essa se esgota, utiliza- se a via do intervencionismo militar. Mais precisamente a opressão econômica é garantida pela opressão bélica. É o que caracteriza o capitalismo em sua fase superior de desenvolvimento, que é a do imperialismo. A extrema dificuldade das potências superarem a crise mundial, que eclodiu em 2008, agrava o avanço do capital financeiro e das multinacionais sobre as economias atrasadas e subordinadas.
A presença do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, no Brasil, trouxe à tona as brutais contradições do capitalism em decomposição. Os dois principais objetivos explícitos correspondiam à diretriz intervencionista do governo Trump. Ou seja, obrigar o Brasil a recrudescer o cerco ao regime nacionalista da Venezuela e obter a permissão de utilizer a Base de Alcântara, no Maranhão. Está claro que a ditadura civil de Temer se colocou, desde as primeiras horas, por assumer a política intervencionista do governo norte-americano. Trabalhou pela suspensão da Venezuela do Mercosul e, em seguida, se alinhou com os Estados Unidos na reunião da OEA que abriu o processo de sua expulsão.
Trump lançou sua plataforma de guerra comercial. Essa decisão visa, principalmente, a confrontar a China, mas alcança a Europa e países semicoloniais, como o Brasil. Isso explica o fato de Mike Pence evidenciar a “preocupação” com a arremetida da China sobre a América Latina. O Brasil tem despertado muito interesse nos chineses, que veem nas privatizações, na aquisição de empresas privadas e na exploração de determinados ramos da economia boas oportunidades. A disputa pelo controle do fluxo matérias-primas e commodities agroindustriais tende a se acirrar no seio de países que são grandes produtores. Esse aspecto da visita de Pence ficou subjacente. Mas se sabe que também foi um dos temas fundamentais. O que tem a ver com a guerra comercial.
Nesse final de governo, Temer corre a impor o seu plano de privatização, que é de interesse do capital financeiro e das multinacionais. Nesse preciso momento, dá um passo na entrega das distribuidoras da Eletrobras. No final de julho, estão previstos os leilões. A entrega de bacias do Pré-sal às petroleiras abre caminho para uma ampla desnacionalização da extração e do refino do petróleo. Estão também na mira do grande capital as riquezas minerais da Reserva Nacional de Cobre e Associados (RENCA). É típico do capitalismo monopolista o controle das potências sobre as reservas naturais, que se encontram nos países semicoloniais.
As reformas trabalhista e previdenciária somente na aparência comparecem como um problema estritamente nacional. Não é preciso muito, porém, para identificar suas raízes externas. Em todo o mundo, inclusive nas potências, a burguesia impõe reformas antioperárias. A flexibilização capitalista do trabalho é de ordem mundial. A especificidade do Brasil está em que se vinculam diretamente à gigantesca dívida pública. Aí está uma das mais virtuosas fontes de especulação financeira e de sangria dos recursos nacionais. Os banqueiros e os grandes fundos mantêm a política econômica do País sitiada por meio de sua dependência à dívida pública e à fantástica soma de juros a pagar anualmente. A política antinacional e antipopular da ditadura civil de Temer é um reflexo desse sitiamento.
As forças produtivas do País sofrem poderosos bloqueios. A influência do capital monopolista e a sangria de seus recursos estão em sua base. Temer já não pode fazer apologia de que seu governo tirou o Brasil do precipício. Esperava-se um crescimento de cerca de 3%, caiu para 2,6% e, no momento, o Banco Central prevê 1,55%. O que se traduz em maior desemprego, subemprego, pobreza e miséria das massas. Sempre são os explorados que suportam as consequências da crise econômica e o peso do saque imperialista.
Esse conjunto de acontecimentos diz que as condições objetivas estão mais do que maduras para as forças do movimento operário, camponês e popular constituírem uma frente única anti-imperialista. É preciso superar a passividade diante da ofensiva dos Estados Unidos e demais potências. O conteúdo político e social dessa passividade se encontra no enfileiramento do PT, da burocracia sindical, dos dirigentes dos movimentos camponês, popular e estudantil e das correntes de esquerda, principalmente o PSOL, por trás das eleições de outubro. Todos eles se declaram pela soberania nacional, no entanto, relevam, contornam ou desconhecem o avanço do entreguismo, das privatizações e da desnacionalização. Procuram convencer as massas de que a soberania do País e a defesa das estatais se darão elegendo um novo presidente, se possível Lula, e constituindo uma bancada parlamentar de esquerda. Não bastou a trágica experiência do nacional-reformismo petista, que concluiu corrompido pelas relações de poder do Estado burguês.
Os explorados e sua vanguarda precisam rechaçar os chamados a constituir uma frente democrática ou uma frente de esquerda para concorrer às eleições. Necessitamos de uma frente de combate, no caso, a frente única anti-imperialista. Uma primeira medida, nesse sentido, é a de convocar assembleias nos sindicatos e nos movimentos camponês, popular e estudantil, para organizar a luta contra a ofensiva do capital financeiro e multinacional. Formar comitês locais, regionais e nacional. Aprovar as bandeiras e um plano de ação da frente única anti-imperialista. Retomar o caminho da greve geral de 28 de abril do ano passado, mais extensa, mais unida e mais forte. Esse combate pode se iniciar com as tarefas e bandeiras: 1) defesa dos empregos, dos salários e dos direitos; 2) derrubar a reforma trabalhista, a Lei da Terceirização e a PEC do Teto; 3) impedir que burguesia recoloque a reforma da previdência; 4) acabar com as privatizações e a desnacionalização. Reestatização sob o controle operário; 5) romper a submissão do Brasil aos Estados Unidos e demais potências; 6) fim do intervencionismo norte-americano na América Latina; 7) pela independência nacional; 8) em defesa da estratégia da revolução proletária e por um governo operário e camponês.