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15 set 2018
15 de setembro de 2018
A primeira e a segunda guerras mundiais evidenciaram que a fase última do capitalismo, que é a imperialista, se caracteriza pela barbárie social. Resolvida a partilha do mundo entre as potências vencedoras e passado o percurso de reconstrução da Europa, após a grande conflagração de 1939-1945 e a guerra da Coreia de 1950-1953, as forças produtivas altamente desenvolvidas voltaram a se chocar com as relações de produção e com as fronteiras nacionais. Retomaram-se as crises de superprodução e, consequentemente, as guerras comerciais. Reiniciaram uma nova etapa de armamentismo, de intervencionismo imperialista e de guerras civis internacionalizadas. As massas exploradas em toda a parte e as nações oprimidas arcaram e arcam com a impossibilidade do capitalismo continuar desenvolvendo as forças produtivas mundiais. O desemprego, subemprego, pobreza, miséria e fome, que desde sempre estiveram nas entranhas da sociedade de classes, se projetaram em grande escala.
Em contraposição histórica, a revolução russa de 1917 e as posteriores revoluções em outros países da Europa, Ásia e América Latina, romperam importantes elos da cadeia mundial do capitalismo e abriram caminho à sua transição para o socialismo. Foram gigantescas conquistas do proletariado internacional, que marcaram grande parte do século XX. Em particular, a revolução russa se distinguiu por ter constituído uma direção revolucionária marxista-leninista. Ergueu em alta escala o programa e a teoria do socialismo científico. O que possibilitou fundar a III Internacional, cujos Primeiros Quatro Congressos ampliaram a concepção internacionalista, necessariamente presente nas revoluções proletárias. Forjaram o programa e a tática mundiais, que serviram de guia à construção dos partidos comunistas no mundo todo. A centralização programática, estratégica, baseada na sólida teoria marxista, permitiu à III Internacional funcionar como Partido Mundial da Revolução Socialista. Essa monumental conquista foi amparada pela democracia interna à Internacional e às suas seções. A elaboração coletiva e o método da crítica e autocrítica consubstanciaram na prática o centralismo democrático. O internacionalismo proletário foi o pilar de sustentação da III Internacional e, portanto, da luta de classes mundial. Evidenciou organizativa e programaticamente que toda revolução proletária por sua forma é nacional e por seu conteúdo internacional. De maneira que a revolução em um país imediatamente se projetaria mundialmente. As conquistas nacionais da revolução não poderiam fechar em si mesmas e era inconcebível construir o socialismo em um só país.
As revoluções se deparam com as contrarrevoluções. O proletariado que enfrenta a contrarrevolução em seu país encontra suas forças nas revoluções de outros países. Nos países em que triunfou a revolução, sua força depende do desenvolvimento da revolução em outros países. A III Internacional foi edificada sobre a base da necessidade concreta de a revolução russa se apoiar na luta do proletariado mundial e, por essa via, combater a contrarrevolução imperialista que a cercava. A centralização do proletariado mundial pela III Internacional, que comandava estrategicamente os partidos comunistas, se mostrou como condição para reunir forças opostas à contrarrevolução burguesa. Não por acaso, o internacionalismo leninista se apoiava na tese de que a sobrevivência da revolução russa dependia do desenvolvimento da revolução europeia.
A liquidação programática e física da III Internacional por obra de Josef Stalin desarmou o proletariado mundial. Esse desarme refletiu o processo da contrarrevolução instalado no seio do próprio Estado operário, a que Trotsky caracterizou como termidor da revolução russa. A dissolução da III Internacional, em meados de 1943, respondeu às exigências do imperialismo para que a União Soviética participasse dos acordos de partilha do mundo pós-guerra. Essa via, que inicialmente parecia servir à defesa da União Soviética e ao fortalecimento do movimento revolucionário mundial, na realidade, adaptava a burocracia contrarrevolucionária aos interesses históricos do imperialismo. Passado o processo de reconstrução, sob a condução da potência norte-americana, o imperialismo se viu fortalecido e capaz de reorganizar as forças contrarrevolucionárias, dirigidas a derrubar a cidadela mundial do proletariado, que era a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Era questão de tempo para que a burocracia estalinista, que acabou gerando frações, concluísse como força motriz da restauração capitalista e do desmoronamento da URSS. A derrota da Oposição de Esquerda Russa permitiu à burocracia estalinista se firmar como termidor. A fundação da IV Internacional, em 1938, garantiu a continuidade do programa internacionalista dos Primeiros Quatro Congressos da III Internacional. Não havia, porém, condições históricas para derrotar a contrarrevolução estalinista e reconstituir as forças mundiais do proletariado. O triunfo do imperialismo impôs um devastador retrocesso às conquistas das revoluções proletárias.
Eis por que, hoje, enfrentamos uma crise de direção mais profunda que a de 1938. A desintegração da IV Internacional, nos anos 1950-1960, atingida pelo revisionismo, contribuiu para ampliar o retrocesso. Em 2008, eclodiu a mais profunda crise mundial do capitalismo pós-guerra. Em toda a parte, o proletariado, a maioria explorada e as nações oprimidas enfrentam ataques brutais às suas condições de existência. A guerra comercial, finalmente, foi declarada pelos Estados Unidos. Recrudesce o intervencionismo imperialista. E avançam as ameaças de guerras entre potências militares. É nessas condições que se realizou o IV Congresso do Comitê de Enlace, que teve por norte a luta pela superação da crise de direção revolucionária. A bandeira de reconstruir o Partido Mundial da Revolução Socialista deve ser empunhada pelo proletariado e por sua vanguarda consciente. O POR do Brasil se empenhou e se empenhará, cada vez mais firmemente, no trabalho internacionalista. O que exige a construção do partido marxista-leninista-trotskista no seio do proletariado brasileiro.