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13 out 2018
13 de outubro de 2018
O fim da transição da ditadura civil de Temer e sua substituição por um governo eleito é parte do golpe de Estado. Somente não se sabia que força política sairia vencedora no pleito. Esperava-se que a frente partidária (PSDB, MDB, DEM, principalmente), que promoveu o impeachment de Dilma Rousseff, parisse o novo presidente da República. A crise econômica e, consequentemente, a crise política, que manteve o governo de Temer constantemente abalado, criaram uma situação inesperada.
A candidatura de centro-direita de Geraldo Alckmin, PSDB, naufragou, já no início da campanha eleitoral. Esse era o homem de preferência da burguesia e do imperialismo. Ergueu-se como um meteoro a candidatura da ultradireita fascistizante, de Jair Bolsonaro, PSL. Também surpreendentemente instalou-se uma polarização com o impulso da candidatura de Fernando Haddad, PT. Entre Bolsonaro e Haddad, ficou espremida a candidatura de Ciro Gomes, PDT. A dramatizada disputa final entre esses dois pólos da política burguesa arrastou as massas, que se dividiram, sem se darem conta de que o fundamental estava em pé: o imperativo do novo governo de continuar atacando os explorados e protegendo o capital financeiro.
As eleições, não apenas colocaram o País diante de duas variantes distintas de política burguesa, como também se realizaram condicionadas a medidas antinacionais e antipopulares que o novo governo terá de tomar, seja o governo liberal direitista de Bolsonaro, ou o pseudo reformista de Haddad. Concretamente, a possibilidade de vitória da ultradireita é infinitamente maior. Essa previsão é que determina as tarefas e a tática antecipadamente colocadas. É preciso que o movimento operário, popular e estudantil se coloque desde já pelo enfrentamento com o governo de Bolsonaro. A constituição de uma frente ampla em torno a Haddad tão somente intensifica as ilusões eleitorais e democráticas na possibilidade de um governo petista.
Devemos prestar atenção ao fato de o PT sair fortalecido como oposição burguesa ao novo governo. Objetivamente, isso significa que a política de conciliação de classes continuará atravancando a luta independente dos explorados. O que pode retardar e desviar as massas do enfrentamento aberto com o governo militarista fascistizante. Saberemos, logo mais, o quanto de palavreado se gastou para reverter a arregimentação da maioria dos explorados por detrás de Bolsonaro. Saberemos, logo mais, se as reuniões e constituição de comitês contra o fascismo e pela democracia serão mantidos e imediatamente voltados a combater o novo governo. É nesse momento que se evidenciará mais claramente a responsabilidade das correntes de esquerda, que se reivindicam do socialismo, de se negarem a se colocar no campo da independência de classe do proletariado.
Nos poucos dias que faltam para a votação no segundo turno, cresce a embriaguez eleitoral, enquanto a burguesia já se prepara para montar seu novo governo, em torno a Bolsonaro. Era para a vanguarda dos explorados estar conspirando e organizando a luta desde as fábricas, bairros, escolas e o campo para responder aos novos ataques que virão, e reagir prontamente aos que estão em curso, como a implantação da reforma trabalhista e a terceirização. Mas estão, ao contrário, alimentando as ilusões de que a ultradireita e o fascismo serão barrados com a vitória de Haddad. O PT e aliados ocultam que, caso consigam por um acidente de percurso, reverter a vitória quase certa de Bolsonaro, governarão de acordo com as exigências do grande capital e do imperialismo.
As correntes de esquerda, que tiveram suas candidaturas próprias e que agora se enfileiraram por trás do PT, passam uma borracha no fato de que o retorno do PT ao poder levará a novas traições aos interesses gerais e às necessidades particulares da maioria oprimida.
Afirmamos que não será pela via das eleições e de um governo de Haddad que os explorados enfrentarão a direitização da burguesia e suas tendências fascistizantes. Somente o proletariado em luta, organizado no seu campo independente de toda influência burguesa, e sob sua estratégia própria de poder, terá como quebrar a espinha dorsal da política burguesa que sustenta o capitalismo putrefato, e descarrega sua decomposição sobre as massas trabalhadoras.
Não se pode ter dúvida de que nenhuma variante da política burguesa, por mais democrática que seja, enfrentará consequentemente as tendências totalitárias da burguesia, que se movem nessa direção devido à contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, bem como entre essas e as fronteiras nacionais. A impotência da política democratizante se converte, inevitavelmente, em fator favorável a tais tendências. Estamos com a prova viva em nossas mãos. O golpe de Estado e a instalação de uma ditadura civil expressaram a incapacidade do nacional-reformismo de utilizar o poder que as massas lhe conferiram, por meio do voto, contra o movimento reacionário insuflado pelo capital financeiro e organizado pela frente partidária antidemocrática. A fração ultradireitista, que se alimentou da alta classe média, deu lugar à ascensão de Bolsonaro. Não se pode ocultar que o desmonte do movimento de abril do ano passado, que levou à greve geral, e a adaptação do PT ao golpe como oposição burguesa, são parte desse mesmo problema.
A eleição do novo presidente não mudará o curso de ataque dos capitalistas às condições de existência dos trabalhadores. Haddad já capitulou diante das pressões da burguesia, que passou a exigir maior clareza em seu programa econômico. Uma das condições é a de manter o chamado “ajuste fiscal”. Em outras palavras, garantir a gigantesca soma em juros da dívida pública. Basta o aceno do candidato do PT de que fará uma reforma da previdência para se ter a traição antecipadamente anunciada. Bolsonaro não esconde que seu governo aprofundará o entreguismo e ampliará o sacrifício da maioria oprimida, para atender às exigências do capital financeiro. É contra esse governo, provavelmente, que as massas terão de lutar. Para isso, terá de se libertar da política de conciliação de classes e das travas da burocracia sindical. Terá, portanto, de passar por cima do PT e aliados, marchando em direção à construção do partido da revolução proletária.