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25 fev 2019
Declaração do Partido Operário Revolucionário
Fracassa a intervenção de Trump-Guaidó na Venezuela
Só a classe operária organizada pode impor a derrota ao imperialismo
24 de fevereiro de 2019
Trump, Guaidó, Duque, Piñera e a OEA esperavam que a campanha de “ajuda humanitária” à Venezuela resultasse, no dia 23 de fevereiro, em um grande acontecimento, que abalasse o governo Maduro e impulsionasse a oposição pró-imperialista rumo ao poder. O comboio da suposta “ajuda humanitária” não teve como quebrar a barreira nas fronteiras da Colômbia e do Brasil. O chamado de Guaidó aos militares para que desertassem e a convocação de seus apoiadores a inviabilizarem o fechamento das fronteiras não foram acatados. A cena que apresentou alguns soldados desertores não passou de uma amostra patética. É bom lembrar que, durante um bom tempo, Trump-Guaidó chantagearam as Forças Armadas com uma “anistia”. Essa oferta, que leva à divisão e à traição ao País, não serviu para que o comboio entrasse na Venezuela e se guiasse triunfante até Caracas.
A arregimentação das massas para criar uma comoção nas fronteiras, por sua vez, resultou apenas em um insignificante conglomerado de manifestantes. De fato, o conflito se concentrou na fronteira com a Colômbia, em Cúcuta e Ureña. O governo colombiano, Iván Duque, comandou o espetáculo da “ajuda humanitária”. O governo brasileiro, Jair Bolsonaro, apoiou o plano de Trump, mas evitou tomar a frente.
Na véspera da provocação à Venezuela, promoveu-se um show, com artistas internacionais, financiado pelo bilionário inglês, Richard Branson. Lá compareceram de mãos dadas Duque, Guaidó e Piñera. A tríade serviçal de Trump procurou dar um ar de pacifismo e alegria. Trouxe-nos a antiga imagem de pão e circo.
Detalhe como esse se ressalta quando se observa a impostura dos invasores da Venezuela, sob a bandeira da “paz”, “democracia”, “Constituição” e “reunificação” do povo. Segundo os Estados Unidos, a entrada dos comboios pelas fronteiras da Colômbia e do Brasil não representava violação da soberania da Venezuela, uma vez que Guaidó se autoproclamou presidente e foi reconhecido por uma porção de países. Trata-se de uma fraude que mostra o quanto o imperialismo norte-americano pode pisotear e vem pisoteando o seu próprio ordenamento internacional.
Se Guaidó tivesse capacidade para se impor como presidente, apoiado inteiramente nas forças internas, não precisava se escorar nos ultimatos dados pelos Estados Unidos a Maduro, para que deixe o governo. Guaidó não passa de uma peça movida pela política de Trump e pelos interesses econômicos dos Estados Unidos sob a Venezuela e a toda América Latina.
É visível o atentado à soberania da Venezuela. Somente o povo venezuelano pode derrubar o governo de Maduro, seja lá qual for o meio. A oposição burguesa não tem conseguido cumprir esse objetivo, mesmo com o auxílio externo. A “ajuda humanitária” de Trump e seus aliados é uma máscara para ocultar o intervencionismo direto dos Estados Unidos. É um álibi para criar um confronto entre a Venezuela e seus vizinhos. A movimentação deste 23 de fevereiro resultou concretamente na violação da fronteira da Venezuela pela Colômbia, que não age por conta própria. O que quer dizer que o próprio povo colombiano não está em choque com o povo venezuelano. A burguesia colombiana e seu governo atuam como instrumento de uma política formulada fora de seu país.
Os Estados Unidos montaram um cerco econômico-financeiro para sufocar a economia venezuelana. Obtiveram êxito, empurrando o país para uma profunda crise. A Venezuela foi mais ao fundo do poço que os demais países latino-americanos, golpeados de conjunto pela desintegração mundial do capitalismo, devido ao bloqueio imperialista. Suas forças produtivas, em boa parte dependente da indústria petrolífera, foram duramente atingidas.
A oposição, encabeçada no último período do Juan Guaidó, apoiou e se valeu dessa diretriz norte-americana e, assim, fortaleceu o movimento antinacional. Em boa parte, a divisão do País se deve à ação do imperialismo contra o governo nacional-reformista de Chávez-Maduro. Não há dúvida de que as contradições internas à própria burguesia venezuelana e os choques de classes são fundamentais para o imperialismo incentivar e potenciar a divisão nacional. Também é importante, nesse sentido, verificar as disputas interburguesas entre os países latino-americanos. A Colômbia serve à política dos Estados Unidos contra o governo da Venezuela não por amor a seu povo, mas pelos interesses próprios da burguesia.
Não houve alternativa a Maduro senão declarar o rompimento diplomático com a Colômbia. Não é a primeira vez, durante o governo chavista, que se eleva a temperatura entre os dois países. O nacionalismo burguês venezuelano não era e não é compatível com o governo colombiano francamente pró-imperialista. Devido à guerra contra as FARC e outras organizações guerrilheiras, o Estado colombiano passou a ser influenciado diretamente por Washington. É claro que a Colômbia se tornou uma base militar dos Estados Unidos.
O estabelecimento de relações do regime chavista com Cuba e a abertura de negócios com a China e Rússia contrariam os interesses norte-americanos. A Venezuela detém a maior reserva de petróleo do mundo e outras fontes de riquezas minerais. Estão aí os principais motivos para Trump armar uma ofensiva para derrubar o governo nacionalista e colocar em seu lugar um governo títere, que juntamente com a Colômbia, facilitaria o avanço da estratégia militarista norte-americana.
Todos dizem lutar pela paz e pela democracia. Parte das correntes de esquerda se pronunciou, diante do conflito de 23 de fevereiro, também pela paz. Essa bandeira é cínica. Há uma clara intenção dos Estados Unidos de alimentarem a divisão interna na Venezuela e convertê-la em golpe de Estado, que inclui a possibilidade de uma guerra civil. O fracasso da manobra em torno à “ajuda humanitária” não modifica o quadro interno da crise política e da decomposição do governo de Maduro. O imperialismo e seus capachos da OEA e do Grupo de Lima vão retomar os ataques com maior ferocidade e precisão.
Os noticiários acusaram Maduro de ter usado a violência contra manifestantes desarmados e de ter orientado a queima de alimentos. Guaidó, ao lado do chefe da OEA e do presidente da Colômbia, se apresentou como um anjo de amor e fé ao povo venezuelano. No entanto, não tem como esconder que sua política vem servindo de canal à intervenção dos Estados Unidos.
O discurso inflamado de Maduro a milhares de partidários, no dia 23 de fevereiro, em Caracas, indicou que seu governo ainda tem uma vasta base social e a fidelidade das Forças Armadas. Fez denúncias concretas e justas à farsa da “ajuda humanitária”, à traição de Guaidó, ao reacionarismo da oligarquia venezuelana e ao servilismo do governo colombiano. Evitou atacar diretamente o governo brasileiro, fazendo uma crítica velada ao propor a compra dos alimentos em vez de receber esmolas. O seu anti-imperialismo inflamado, no entanto, não indicou o caminho da ruptura com o grande capital, que continua espoliando a Venezuela. Não indicou o caminho do armamento popular das massas como a via mais segura para responder a uma possível intervenção externa e ao incentivo da reação à guerra civil.
Já não é possível a Maduro conter por muito tempo a sublevação da oposição e a ofensiva do imperialismo sem a expropriação da grande propriedade dos meios de produção, estatização do capital financeiro e implantação do monopólio do comércio exterior. O que exige o armamento popular, que é distinto das milícias estatais bolivarianas. Somente pela via revolucionária, o poder econômico interno e o imperialismo serão derrotados. As Forças Armadas são uma criatura da burguesia, servem incondicionalmente à sua ditadura de classe sobre a maioria oprimida. O regime chavista pôde contar com os militares precisamente porque não ameaçou a grande propriedade capitalista, não rompeu todos os laços com o imperialismo e limitou o seu nacionalismo a interesses particulares da indústria petrolífera.
A crise mundial, iniciada em 2008, impossibilitou a continuidade de governos nacional-reformistas na América Latina. Hoje, os chavistas sequer podem contar com Evo Morales, um dos últimos herdeiros do ciclo político marcado pela ascensão do nacional-reformismo. A sobrevivência de Evo dependeu e depende de sua adaptação aos ditames dos Estados Unidos. A derrubada do governo do PT, por meio de um golpe de Estado, e a eleição de um governo ultradireitista isolou completamente Maduro. Os Estados Unidos retomaram a rédea da política burguesa na América Latina. A tendência do próximo período é a de se manter o curso da direitização e da potenciação das tendências fascistizantes. O nacionalismo chavista sobrevive a pão e água. Trump e aliados têm claro que vencerão mais cedo ou mais tarde. Terão, porém, que enfrentar a resistência dos explorados.
É importante não alimentar ilusão no fracasso de 23 de fevereiro, como sendo uma vitória duradoura do regime chavista. Por outro lado, não se deve minimizar o fato de que uma importante parcela do povo venezuelano se manter ao lado de Maduro. A chave do problema se encontra na classe operária, única classe revolucionária capaz de erguer uma frente anti-imperialista, que coloque a tarefa da completa independência nacional e da expropriação do grande capital, sob o programa dos Estados Unidos Socialistas da América Latina. A sua desorganização e a ausência de independência político-programática favorecem o cerco imperialista e a conspiração contrarrevolucionária da oposição venezuelana. É preciso que a vanguarda eleve a sua consciência, rompa com o chavismo e se coloque pela construção do partido da revolução proletária.
A tarefa de defender a autodeterminação da Venezuela, opor-se à derrubada do governo de Maduro pelas mãos do imperialismo e da oposição servil não é contraditória à tarefa de organizar a classe operária para tomar o poder do Estado e instituir um governo operário-camponês. Qualquer que seja a dependência ao governo de Maduro conduz à derrota diante das forças pró-imperialistas e contrarrevolucionárias. É preciso travar um combate consciente e disciplinado pela construção do partido marxista-leninista-trotskista no seio do proletariado venezuelano, como parte da reconstrução do Partido Mundial da Revolução Socialista.
De nossa parte, no Brasil, trabalhamos pela derrocada do governo Bolsonaro, pró-imperialista e capacho dos Estados Unidos. Rechaçamos a presença do governo brasileiro na reunião do Grupo de Lima. Chamamos todas as forças que se colocam contra o governo ultradireitista e militarista de Bolsonaro e que se colocam contra a intervenção dos Estados Unidos e aliados na Venezuela a constituírem uma frente única anti-imperialista.
Fora o imperialismo da Venezuela!
Fora o imperialismo da América Latina!
Pelo direito à autodeterminação das nações oprimidas!
Organizar a frente única anti-imperialista!
Pelos Estados Unidos Socialistas da América Latina!