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28 abr 2019
28 de abril de 2019
Os conflitos internos ao governo se acentuam. Expressam a incapacidade de Bolsonaro em centralizar as forças políticas que o elevaram ao poder. A crise econômica persiste, e nada indica que será superada em curto prazo. As previsões são de que o baixo crescimento se prolongará, pelo menos até o próximo ano. O desemprego e subemprego em alta afligem as massas, que não veem uma saída. Experimentam na carne a implantação da infame reforma trabalhista e da terceirização.
A promessa do governo e dos capitalistas de que a reforma da Previdência reverterá esse quadro não convence ninguém que vive do trabalho. A desconfiança e rejeição atingem, inclusive, uma importante camada da classe média, que, nas eleições, se arregimentou por trás do bolsonarismo. A maioria dos assalariados já se convenceu de que a reforma da Previdência sacrificará ainda mais suas condições de existência. Já trabalha muito, por um baixo salário. Assiste aos banqueiros exibirem lucros estratosféricos, enquanto o desemprego e subemprego não arrefecem. O baixo crescimento, a estagnação, a queda da massa salarial, o endividamento das famílias, a inadimplência, as drásticas mudanças nas contratações e o avanço da miséria estão na base da crise política, que se agravou desde a recessão dos anos 2015 e 2016.
O golpe de Estado e a imposição de uma ditadura civil ao País não reverteram as tendências desintegradoras da economia. A utilização de recursos, como o da terceirização, protege de imediato o lucro dos capitalistas, mas compromete o desenvolvimento das forças produtivas. É o que se passará com a desfiguração da Previdência. A substituição do governo imposto por um golpe institucional por um eleito não modificou, na essência, o caráter ditatorial e o plano econômico de ataque a vida das massas. Temer e Bolsonaro são duas faces da mesma política ditada pelo capital financeiro. A maioria dos explorados foi arrastada a eleger Bolsonaro sem ter a mínima noção de que se tratava de continuísmo. Rapidamente, no entanto, o desencanto tomou forma e cresce.
O Congresso Nacional, composto de uma porção de novos politiqueiros, não pode se alinhar automaticamente ao governo militarizante, ditatorial e fascistizante. A farsa bolsonarista de encarnar uma “nova política” em detrimento da “velha política” se afunda em meio às divisões, interesses particulares e pressões das frações oligárquicas. As massas, inevitavelmente, observam que Bolsonaro reproduz o que de pior havia se comprometido a varrer. Ao seu lado, estão o ex-juiz Sérgio Moro, tido como caçador de corruptos, e Flávio Bolsonaro, denunciado por ligações com as milícias do Rio de Janeiro.
Nos 100 dias de governo, vários ministros e cargos de segundo escalão caíram, sob o fogo das disputas internas, e pela reprovação de setores da burguesia. As desavenças entre os poderes do Estado, que recrudesceram após a derrubada do governo de Dilma Rousseff, se transformaram em choques. As denúncias de corrupção, que ganharam corpo contra os ministros do STF Dias Toffoli e Gilmar Mendes, transbordaram no formato de caça aos denunciantes, censura a uma revista, e desentendimento com o Ministério Público. O recuo do ministro Alexandre de Moraes na aplicação da censura e a instauração de procedimento disciplinar ao procurador Deltan Dallagnol indicam a que ponto chegaram as controvérsias entre os poderes.
O sintoma mais sensível da crise política se evidenciou nas acusações de Bolsonaro e bolsonaristas ao vice-presidente Hamilton Mourão, de agir paralelamente ao presidente da República. A ascendência do impostor Olavo de Carvalho, assumidamente pelos bolsonaristas como chefe ideológico da ultradireita, sobre o presidente expõe a degradação da burguesia e das forças políticas brasileiras. Os seus setores mais esclarecidos criticam os excessos dos olavistas, por provocarem atritos desnecessários, quando há uma união em torno à política econômica de Paulo Guedes. O fato é que a ultradireita força passagem para implantar seu ideário religioso, chauvinista e militarista.
A resistência de uma parcela da classe média ao avanço do obscurantismo comparece como um fator da crise política. O fundamental, porém, está em que os explorados pressionam os sindicatos, centrais e movimentos a reagirem contra a reforma da Previdência, às demissões, ao desemprego e subemprego. A unificação do 1º de Maio se dá nestas condições. O problema está em que perdura a política de conciliação de classes, encabeçada pelo PT e aliados. As condições favoráveis à luta deve ser aproveitada pela vanguarda classista para empunhar as bandeiras que movimentam os explorados, impulsionar a ação direta e desenvolver a estratégia revolucionária do proletariado.