-
04 maio 2019
4 de maio de 2019
A VII Conferência de mulheres ocorre em uma situação de retrocesso econômico, social e político. A Conferência será produtiva, caso faça uma boa caracterização da situação, e aprove propostas que levem à mobilização unitária do conjunto dos trabalhadores.
Está claro que o retrocesso atinge amplamente as mulheres que vivem do trabalho, que recebem salários menores para a mesma função, e que chefiam a família. O desemprego e o subemprego, que se tornam cada vez mais longos, golpeiam em geral a mulher trabalhadora e, em particular, milhões que sozinhas garantem a existência da família. A reforma trabalhista e a terceirização intensificam a dupla jornada da mulher. O objetivo de reduzir o trabalho informal da mulher não foi à frente, e tende a piorar. Agora, a reforma da Previdência promove mais retrocessos na vida da mulher trabalhadora. Ocorre que os capitalistas têm necessidade de reduzir o valor geral da força de trabalho. O que sacrifica ainda mais as mulheres que arcam com a dupla jornada, e sofrem a discriminação salarial.
Observamos que, com o golpe de Estado de 2016, a ditadura civil de Temer e a vitória do ultradireitista Bolsonaro, em outubro de 2018, o reformismo se mostrou inviável e impotente para solucionar os grandes problemas que subjugam e inferiorizam as massas femininas. Com o poder nas mãos, a ultradireita bolsonarista reforça as teses reacionárias de submissão da mulher à família, que é uma célula econômica no capitalismo. Procura-se intensificar e ampliar o obscurantismo religioso, que bloqueia a elevação da consciência de classe das mulheres exploradas, e as razões de sua opressão. Se depender desse governo, até mesmo a super limitada lei do aborto será abolida. Essa experiência indica a necessidade de concluir que nenhum governo burguês, de reformas ou de contrarreformas, modificará as relações de dependência da mulher, e de sua subordinação à economia privada familiar.
Os dados sobre a violência contra a mulher – espancamentos, estupros e assassinatos – continuam crescendo. Isso a despeito da Lei Maria da Penha e do Feminicídio. O que mostra a contradição entre as conquistas formais no plano dos direitos e a realidade social. A burguesia, seu parlamento e seus governos podem ceder no plano legal, mas não cedem no plano real. Aprovou-se uma legislação protetora da mulher sabendo que não seria aplicada.
As condições que determinam a situação da mulher são as mesmas que determinam as condições gerais da classe operária e demais explorados. A dupla jornada, o trabalho informal, a diferenciação salarial, e os restritos direitos à maternidade são consequências da economia capitalista. Essa brutal exploração, que resulta em pobreza e miséria a uma vasta camada, recai pesadamente sobre a família trabalhadora. Não por acaso, é na própria família que boa parte da violência sobre a mulher ocorre diariamente.
Certamente, serão apresentadas na Conferência estatísticas estarrecedoras. O que não faltam são dados sobre “o mapa da violência”. Via de regra, vêm acompanhados de soluções parlamentares, judiciais, educacionais e policiais. Os participantes se perdem em discussões infindáveis sobre a necessidade do Estado viabilizar as leis existentes e recursos materiais. Não se dá, porém, um passo concreto contra as fontes econômicas e de classe, que perpetuam a opressão sobre a mulher, e geram constantemente toda sorte de violência. As pretensas soluções punitivas e educativas sobre o homem, que pratica a violência, não fazem senão ocultar a raiz de classe de toda e qualquer opressão social. A burguesia e o capitalismo em decomposição não podem ceder um milímetro, nem material, nem ideologicamente aos direitos elementares das mulheres, a não ser pela luta de classes.
A Conferência ganhará uma nova dimensão, caso expresse uma ruptura e rejeição ao reformismo e ao eleitoralismo. Para isso, a discussão e a aprovação de resoluções devem reconhecer as raízes de classe da opressão sobre a mulher, assinalar o caminho da organização das trabalhadoras em educação como parte do movimento geral da classe operária e demais oprimidos. E estabelecer as reivindicações que defendam as mulheres da discriminação, e que impulsionem a luta pela sua real emancipação. Está aí por que a luta das mulheres não pode se isolar ou se contrapor ao movimento geral dos explorados, onde homens e mulheres oprimidos estão unidos. É preciso vincular o conjunto de reivindicações das massas femininas com a estratégia da revolução proletária.
É importante que a Conferência não separe a análise do caráter da opressão sobre a mulher das demais opressões (raciais, sexuais, nacionais, etc.), que emanam da opressão de classe. Que não separe a violência que recai sobre a mulher da violência geral desumanizadora do capitalismo. Que a luta contra a violência particular seja um meio para avançar a luta geral da classe operária pelo fim de toda a violência da sociedade de classes. Que a Conferência reconheça a necessidade de a classe operária tomar à frente da luta por todas as reivindicações das mulheres exploradas. Que critique e rechace a tese que procura transformar a luta das mulheres em luta contra os homens, de forma que essa luta se dirija contra a classe capitalista e seu Estado opressor. Que a Conferência afirme o método da ação direta e da organização independente diante da política burguesa. É fundamental ter claro que o governo reacionário e o Congresso Nacional reacionários somente recuaram em sua ofensiva diante de um poderoso movimento das massas, sob a direção da classe operária.
Resoluções
- Diante da reforma da Previdência de Bolsonaro-Guedes, organizar a greve nacional dos trabalhadores da educação, e lutar para que as centrais sindicais tomem esse dia para convocar uma greve geral de advertência ao governo e ao Congresso Nacional, como ponto de partida para uma greve geral por tempo indeterminado.
- Diante da reforma trabalhista e da terceirização de Temer-Meirelles, lutar por sua revogação. Em defesa do contrato coletivo de trabalho, estabilidade no emprego, fim da discriminação do trabalho da mulher, incorporação de todas as mulheres na produção social.
- Diante da crescente violência sobre a mulher, organizar um movimento por emprego a todos, trabalho igual salário igual, salário mínimo vital, redução da jornada sem diminuição do salário, aposentadoria especial às mulheres, direitos de proteção à maternidade, creches e lavanderias públicas, e direito irrestrito ao aborto, garantido integralmente pelo Estado.
- Diante dos retrocessos impostos pelo governo ditatorial de Bolsonaro, defender a educação pública, científica e controlada por quem trabalha e estuda. Combater a ofensiva obscurantista e militarista sobre a educação e as escolas. Total direito de ensino e expressão política no interior das unidades de ensino. Derrotar a investida dos partidários da “Escola sem partido”. Não à intervenção da polícia nas escolas.
- Diante da opressão sobre a mulher, de sua subordinação à família, e da vigência do patriarcalismo, lutar pela independência econômica da mulher e pelo fim de todos os laços históricos que a subordinam ao homem. Para isso, é necessário transformar a propriedade privada dos meios de produção em propriedade coletiva, socialista, por meio da revolução social. No marco do capitalismo, não se libertará a mulher, nem se resolverá a violência sofrida. Somente com o fim da opressão de classe se criarão as condições para eliminar a opressão sobre a mulher. A luta das mulheres trabalhadoras é a mesma que a dos homens trabalhadores.