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23 jun 2019
Agrava-se a crise política do governo Bolsonaro
As condições objetivas são favoráveis à luta da classe operária
23 de junho de 2019
O surpreendente não foi que a greve geral de 14 de junho tenha sido parcial. O surpreendente foi que tenha ocorrido sob um governo que foi eleito com 57 milhões de votos, e que tomou posse há seis meses. Era de se esperar que as ilusões democráticas das massas pressionassem as suas camadas mais revoltadas e combativas a permanecerem passivas. A parcela dos assalariados e da juventude oprimida, que garantiram as manifestações em todo o país, porém, expressaram a tendência geral de luta, que se configurou na jornada de abril de 2017.
As eleições de outubro de 2018, que concluíram a transição do golpe de Estado e da ditadura civil de Temer, não abriram uma nova etapa de superação da crise política e econômica. Ao contrário, evidenciaram as enormes dificuldades da burguesia em canalizar a classe operária e demais explorados a estabilizar o regime político. É sintomático que a aliança do PSDB, DEM e MDB não tenha conseguido manter o controle da alavanca do Estado, depois da derrubada do governo petista, em 2016. A emersão da candidatura de Bolsonaro foi impulsionada pelas forças centrífugas da crise política, que não apenas levaram o PT ao desmoronamento, como também impossibilitaram o reordenamento dos velhos partidos burgueses. A ascensão de Bolsonaro e das forças militaristas se deu à margem das forças burguesas, que fizeram a passagem do regime de ditadura militar para o de democracia, e em meio à desilusão das massas com o governo nacional-reformista do PT.
A derrocada econômica do país, agravada com a recessão de 2015-2016, fulminou o governo do PT. Ao mesmo tempo, inviabilizou um novo ordenamento e uma nova estabilidade política. As massas sentiram na carne o retorno dos altos índices de desemprego e subemprego. A classe média, em especial, se deparou com o fim da aspiração do crescimento vertiginoso do consumo. Não bastassem as duras consequências da recessão, os explorados se viram diante de uma ofensiva da burguesia, sem precedente no período pós ditadura militar, contra antigas conquistas. O golpe de Estado e a instituição de um governo preposto foram marcados pelas reformas antinacionais e antipopulares, que tiveram seu ponto alto na década de 1990, no governo “neoliberal” de Fernando Henrique Cardoso. A reforma trabalhista e a terceirização de Temer foram rejeitadas e combatidas pelos explorados, ao ponto da burocracia sindical ter de convocar a greve geral de 28 de abril de 2017. O que se deu nas condições de agravamento da crise política. Em sua base, estiveram os escândalos de corrupção. Sabemos, no entanto, que as causas de fundo eram econômicas e sociais. A eleição de Bolsonaro foi embalada pela deformação do sentimento anticorrupção dos explorados, que acreditaram na farsa de que essa era a causa da bancarrota econômica do País e da desgraça da maioria oprimida.
A dura realidade do baixo crescimento, desemprego, subemprego, implantação da reforma trabalhista e expansão da terceirização se encarregou, rapidamente, de pôr abaixo as falsificações burguesas, que arrastaram as massas às eleições. O brutal projeto de reforma da Previdência, lançado nos primeiros dias do governo Bolsonaro, mostrou a verdadeira feição burguesa e ultradireitista do governo recém-eleito. A diretriz militarista de retomar a centralização autoritária do Estado, a implantação da política econômica “ultraliberal”, e a orientação ideológica fascistizante alimentaram mais ainda as divisões interburguesas e atingiram uma importante camada da classe média. A classe operária e demais setores assalariados passaram a reagir, imediatamente, contra a reforma da Previdência, e os cortes de recursos à educação e saúde.
Os conflitos entre as instituições do Estado, que ganharam proporções no período do governo petista, não se arrefeceram. O Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) não se sujeitaram completamente ao governo, embora estivessem e estejam alinhados, principalmente, quanto à reforma da Previdência. As várias destituições de ministros indicam a dificuldade de dar fisionomia ao governo. As investigações contra o senador e filho de Bolsonaro, ligado às milícias do Rio de Janeiro, maculou a hipocrisia moralista do bolsonarismo. E, agora, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, está às voltas com as revelações sobre o complô armado com o Ministério Público para caçar os petistas e prender Lula.
É nesse torvelinho que a burocracia que comanda as centrais limitou a greve geral de 14 de junho, para que o movimento dos explorados não se chocasse diretamente com o governo em crise e com o Congresso Nacional, encarregado de impor a reforma da Previdência. Está claro que a sobrevivência do governo depende do Congresso Nacional concluir o projeto de Guedes. Essa sobrevivência, portanto, depende do sacrifício ainda maior dos trabalhadores. A oposição parlamentar, que circunda politicamente a burocracia sindical, passou a ter um papel mais ativo e aberto no arrefecimento da luta, diante da conclusão do relatório da Comissão Especial. Assistimos a importantes deputados da oposição se colocarem como auxiliares da propaganda mentirosa de que, agora, a reforma da Previdência já não é mais do governo, e sim do Congresso Nacional. As centrais, por sua vez, pretendem fazer uma “marcha” a Brasília para entregar os abaixo-assinados. É o prenúncio da intenção de encerrar o movimento.
A classe operária e demais explorados estão diante do perigo da burocracia se render ao Congresso Nacional, como fez com a greve geral de abril de 2017. No momento, a tarefa da vanguarda revolucionária e da fração classista dos movimentos sindical, popular e estudantil é o de exigir das centrais a convocação imediata de uma nova greve geral. Para isso, é imperativo que se denuncie, rejeite e combata a canalização da luta das massas para o jogo parlamentar. É preciso defender o método da ação direta, mostrando aos explorados que devem confiar somente em suas próprias forças.