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21 maio 2016
21 de maio de 2016
Combater o governo golpista no terreno dos explorados Organizar o movimento de defesa da vida da maioria oprimida Defender e popularizar a estratégia de poder da classe operária
Muita ilusão correu por debaixo da ponte. O PT, CUT, Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo se esforçaram para que sua militância e os explorados acreditassem que seria possível derrotar o movimento golpista com pressões sobre o Congresso Nacional. Até a última hora, ficaram agarrados à política da “esperança é a última que morre”. Ameaçaram com uma greve geral e concluíram no dia 10 de maio com um raquítico dia de protesto diante de um Senado de cartas marcadas.
A grande manifestação de 17 de abril assistiu aos deputados, um a um, dar seu voto de morte ao governo de Dilma Rousseff. Ao término da teatralização, os manifestantes estavam consternados e desacreditados em si mesmos. A causa estava perdida, mas os governistas e seus séquitos insistiam que ainda era possível reverter a derrota na Câmara dos Deputados, pressionando os senadores. Haja ilusão para manter a chama da esperança no cretinismo parlamentar! Mas foi assim que os governistas travaram a resistência ao golpe de Estado.
Não se pode dizer que seus deputados e senadores não protagonizaram árdua batalha nos castelos dos discursos, das denúncias e das promessas de ir até o fim na defesa da democracia e do Estado de Direito. Tivemos a oportunidade ímpar de ver o quanto os representantes do PT, PCdoB e PSOL (que seguiu o governismo na heroica batalha na arena do Congresso) se instruíram nas leis, na Constituição e o quanto aperfeiçoaram a retórica parlamentar.
O redemoinho da defesa do governo, do “contraditório”, como se diz no jogo das forças em choque no interior do Estado, simplesmente se dissipava como uma brisa diante da frente pró-impeachment solidamente apoiada na burguesia. Mesmo assim, os governistas insistiam em manter-se nos marcos da ordem democrática, canalizando as manifestações de rua para comícios destituídos de qualquer espírito e vontade de revolta. Não faltaram esquerdistas, porém, com seus estúpidos e banais radicalismos subjetivos, para acreditar na possibilidade dos governistas se colocarem à altura do golpe que se gestou meses e meses.
Todos estiveram tomados pelo exagerado cretinismo parlamentar. Fecharam os olhos e puseram de lado a única via que poderia quebrar a espinha dorsal do movimento golpista, como repetimos ao cansaço, que era a de organizar um movimento nacional contra as demissões em massa, a alta do custo de vida, a destruição de direitos sociais, a paralisia dos assentamentos agrários, o retrocesso no plano de construção de moradia e no avanço das privatizações.
Paralelo e sob o conflito interburguês entre governistas e oposicionistas, os capitalistas faziam uma devassa nos postos de trabalho. Protegiam-se da crise de superprodução e da queda da lucratividade com as demissões, com a aplicação da flexibilidade capitalista do trabalho e com a especulação dos preços das mercadorias.
O que faziam o PT, sua burocracia sindical e aliados? Procuravam organizar os explorados em defesa de suas vidas? Convocavam assembleias para aprovar medidas de proteção aos empregos, aos salários e às velhas conquistas trabalhistas e previdenciárias? Absolutamente, não! Esmeravam-se em manter o quadro de conciliação de classes montado pelos governos petistas. Cuidavam de não vincular a crise política com as nefastas consequências da crise econômica, que recaiam sobre as massas e atingiam profundamente a economia nacional. Faziam de conta que estavam na contramão das medidas antioperárias de Dilma Rousseff, para protegê-la contra o descontentamento dos explorados, como se essa fosse a condição para rechaçar a direita golpista. Assim, os governistas fecharam passagem à classe operária e deixaram o caminho livre para a burguesia e seus partidos organizarem passo a passo o golpe de Estado.
Esse é o destino dos reformistas – daqueles que trabalham por salvar o capitalismo de sua decomposição -, sempre vão sacrificar os explorados e desviar a luta de classes em favor da burguesia. Admitem ser varridos do poder do Estado, desde que o sejam pela democracia dos exploradores. Não se defendem dos adversários a não ser com as armas do parlamento. Oferecem até o último suspiro a política de colaboração de classes para se salvarem da queda.
Agora, o problema é como reagir e lutar diante do governo golpista. Tudo indica que a colaboração de classes permanece intacta. Mudará de aspecto, de conteúdo e de forma. Antes, tratava-se de servir ao governo burguês do PT. Agora, de se apresentar como oposição parlamentar ao governo de Michel Temer. Os novos aspectos não mudam, porém, o essencial do conteúdo e da forma. Está mantida a essência burguesa da oposição e da colaboração. Os sindicatos e centrais continuarão a servir de correia de transmissão da política capitalista. Essa é a principal conclusão que os explorados e a sua vanguarda deverão extrair da crise política que despedaçou o governo burguês do PT.
Há, no entanto, que prestar atenção às viradas circunstanciais que a burocracia poderá fazer. O golpe abriu uma nova etapa da crise política e da luta de classes. Não foi um mero acontecimento. Indica que a burguesia está prevendo dias mais difíceis e que terá de se confrontar com as forças sociais antagônicas. Nota-se que não é um fenômeno estritamente nacional. É visível a marcha da crise na América Latina. Não por acaso, os Estados Unidos tiveram de tirar a máscara e saírem em defesa do golpe na OEA. O que quer dizer que o antagonismo entre os exploradores e explorados está potenciado. E que o campo de manobra para a conciliação de classe ficará mais reduzido.
A chave do problema no Brasil está em combater o governo golpista partindo das necessidades das massas, opondo-se terminantemente contra as medidas que virão, trabalhando as reivindicações por meio da ação coletiva direta e popularizando a estratégia de poder do proletariado, que se sintetiza na fórmula de governo operário e camponês