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17 maio 2020
Nossa homenagem ao revolucionário, marxista-leninista-trotskista, Guilhermo Lora
Atílio de Castro, 17 de maio de 2020
Nestes 11 anos de ausência do camarada Guilhermo Lora, publicamos o artigo “À Barbárie?”, escrito em outubro de 2008, portanto, seis meses antes de sua morte, em 17 de maio de 2009. Selecionamos este artigo porque expressa a abertura da crise econômica mundial em 2008. Em maio de 2009, a recessão se expandia por todas as partes. A destruição de forças produtivas indicava que se tratava do maior debacle depois da Segunda Guerra Mundial. Nessas condições, avultava a crise de direção revolucionária. A China, no final dos anos de 1970, abria caminho para a restauração capitalista. Refletia, portanto, o esgotamento das relações mundiais do pós-guerra e da vitória imperialista em sua “guerra fria”. Cerca de 13 anos depois, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) desabava. Precederam a sua desintegração, movimentos restauracionistas no Leste Europeu. A crise de direção revolucionária já não se manifestava nas condições históricas em que Trotsky assim caracterizou no Programa de Transição da IV Internacional. A destruição do Estado operário e, consequentemente, da URSS, bem como o ingresso da China na órbita do imperialismo norte-americano, liquidaram de vez conquistas do proletariado mundial, que fariam regredir, em grande escala, sua capacidade de organização e centralização mundiais.
Observa-se que o desabamento dos Estados operários, certamente, degenerados pelo estalinismo, teve como antecedente a burocratização, revisão e destruição da III Internacional. Trotsky foi assassinado em agosto de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial. A direção que o sucedeu não se mostrou à altura dos acontecimentos e, portanto, do Programa de Transição. Os partidos comunistas estalinizados foram se dissolvendo um a um, submetidos ao revisionismo antimarxista-leninista. As poucas seções da IV Internacional se dividiram e subdividiram, sob o impacto do revisionismo pequeno-burguês, que se manifestou em meados dos anos de 1950.
O Partido Operário Revolucionário da Bolívia, dirigido por Guilhermo Lora, esteve em frente a todos esses acontecimentos, uma vez que foi fundado em 1935. Conseguiu sobreviver à gigantesca onda revisionista, que indicava a capitulação generalizada das correntes e partidos, que não suportaram o fortalecimento do imperialismo no pós-guerra, de um lado, e a circunstancial projeção da União Soviética, sob o comando de Stalin, por outro.
Constituiu, também, um marco do retrocesso histórico, a divisão interburocrática no seio do Estado operário degenerado da URSS, justamente em meados dos anos de 1950, depois da morte de Stalin. O POR não foi arrastado por esses dois polos – revisionismo do leninismo e revisionismo do trotskismo – porque conseguiu aplicar o Programa de Transição nas condições concretas da Bolívia, e penetrar no seio do proletariado mineiro, destacando-se como a verdadeira vanguarda leninista. Pagou com um longo isolamento internacional.
Guilhermo Lora cumpriu o dever revolucionário, trabalhando incessantemente na tarefa de assimilar as conquistas teóricas e práticas do marxismo e as lições do proletariado mundial. Sua militância, forçada pela repressão, junto ao movimento dos mineiros, no momento mais precioso de sua luta contra a escravização, o forjou como um marxista completo. Ou seja, que une indissoluvelmente a teoria e prática revolucionárias.
O artigo “À Barbárie?” se gestou em um momento de fragilidade física, tanto é que nos deixaria poucos meses depois. Notamos passagens em que está refletido seu estado subjetivo, que não é próprio de sua obra. O leitor poderá ter uma falsa sensação de pessimismo revolucionário. Basta se ater ao conjunto das formulações, para se verificar a importância de algumas de suas considerações, em particular. Um exemplo, é o de que o capitalismo em decomposição leva às últimas consequências a transformação dos operários em “uma peça sem cérebro”. Constatamos que, há pouco mais de uma década do artigo, a burguesia avança nesse sentido. A desorganização mundial da classe operária, com seus profundos reflexos nacionais, favorece o avanço da destruição maciça de força de trabalho, que deixa de servir à indústria, e está obrigada a mergulhar na informalidade, ou seja, na miséria.
Vemos, com especial atenção, as considerações sobre a necessidade da autocrítica. Instrumento este manejado naturalmente pelos marxistas. No entanto, nos deparamos com a dificuldade de compreendê-la como parte da aplicação do programa, da formulação da linha, e da análise dos acontecimentos da luta de classes. Somos testemunhas, no processo de construção do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional, da insistência de Guilhermo Lora para que dedicássemos todo esforço na elaboração do programa e no reconhecimento dos erros, das falhas, das projeções subjetivas, etc.
É preciso ler as considerações de Lora no âmbito das novas condições de desintegração do capitalismo e de resposta das massas. Não temos dúvidas de que, se estivesse presente, observaria uma mudança sensível na situação de 2008 e a atual. A classe operária e demais explorados estão sendo obrigados a dar vazão aos instintos de revolta. As experiências negativas com os revisionismos tornam a classe operária mais permeável às posições revolucionárias e à necessidade de organização do partido marxista-leninista-trotskista. O imenso trabalho de Lora nos serve como instrumento para enfrentar as novas condições da crise mundial, que se aprofunda com a pandemia.
Nossa homenagem ao seu trabalho de militante profissional, que dedicou toda sua vida e energia para pôr em pé o Partido Operário Revolucionário, defender o internacionalismo marxista-leninista-trotskista, assentar as bases do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional, e fortalecer a inquebrantável convicção de que o futuro da humanidade é o comunismo.
À Barbárie?
Outubro de 2008
(Extraído de Obras Completas, Guilhermo Lora, tomo LXX, 2008, Ediciones Masas)
O capitalismo putrefato
Na atualidade, a sociedade capitalista se degenera, aceleradamente, em escala mundial. Os fatos demonstram que sua desintegração não pode ser detida e menos ainda superada pelos governos burgueses, pelo imperialismo, que exploram e oprimem os povos e continentes.
A história da humanidade é a da sucessão de uma sociedade por outra baseada na propriedade e no manejo dos meios de produção. Ninguém ignora o que os clássicos escreveram sobre as teses básicas do materialismo: “Na produção social de sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada fase do desenvolvimento das forças produtivas materiais”.
No “Manifesto Comunista” (1848), se lê : “A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias (Engels acrescenta: “à exceção da história da comunidade primitiva) é a história da luta de classes. Homens livres e escravos, patrícios e plebeus, barões e servos, mestres e oficiais, em uma palavra, opressores e oprimidos, sempre se enfrentaram, empenhados em uma luta constante, algumas vezes oculta, em outras franca e aberta; luta que sempre terminou com a transformação revolucionária de toda a sociedade e com o desmoronamento das classes beligerantes…”. “A moderna sociedade burguesa, que surgiu do seio da sociedade feudal, não aboliu as contradições de classe. Ela somente criou novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta, no lugar das antigas. Nossa época, a época da burguesia, se distingue, no entanto, por ter simplificado as contradições de classe. Toda sociedade vai se dividindo, cada vez mais, em dois campos inimigos, em duas grandes classes que se enfrentam diretamente: a burguesia e o proletariado”.
A economia capitalista é mundial, engloba tanto as potências imperialistas, que controlam o poderoso capitalismo internacional, quanto as burguesias assentadas em seus países, e também as economias dos países que não conseguiram apagar as marcas, os traços, do pré-capitalismo. Na atualidade, estas são as características da economia capitalista mundial (imperialista), que se encontra em acelerada decomposição.
O caminho da barbárie
O desenvolvimento do capitalismo se expressou, politicamente, na democracia burguesa, e foi criando as condições objetivas e subjetivas, para a revolução proletária, cujo objetivo central é o de sepultar a propriedade privada capitalista dos meios de produção, e, com sua substituição, desenvolver a propriedade social.
A revolução proletária, portanto, é a consequência do esgotamento do capitalismo e sua tarefa é a de substituí-lo pela sociedade comunista.
Constatamos o pleno desenvolvimento do capitalismo, seu esgotamento, a presença da revolução proletária na Rússia, seu desenvolvimento e esgotamento. Seu desmoronamento contribui para que o capitalismo imperialista agonizante permaneça em meio a uma crise que se agudiza mais e mais.
A revolução proletária russa de 1917, que sacudiu o mundo capitalista, porque trazia em suas entranhas a tendência de se transformar em mundial, e sepultar, definitivamente, a sociedade baseada na propriedade privada dos meios de produção, foi traída pelo estalinismo, que agonizou em meio ao empenho de impor um suposto “socialismo em um só país”, e, inclusive, servindo de apoio à sociedade burguesa que já evidenciava sua agonia.
Os seguidores de Lênin e Trotsky não conseguiram, até agora, levantar uma poderosa internacional, capaz de sepultar o capitalismo e estruturar o comunismo mundial.
O capitalismo moribundo está ingressando em uma fase de maior apodrecimento, porque o partido revolucionário marxista-leninista-trotskista não conseguiu sepultar a sociedade de classes imersa em seu processo de decomposição.
O imperialismo, arrastando os países atrasados, não tem como transformar em progressista o processo de desintegração do capitalismo, imerso em uma das maiores crises de sua história. As grandes potências submeteram os países dependentes e os vêm transformando, de serviçais, em base de apoio à desintegração. Pretende-se controlar a crise atual, agravando a miséria e a escravização dos países atrasados, em benefício das potências escravizadoras.
Podia-se confiar que a crise econômica potenciaria o movimento revolucionário, dirigido pela classe operária. Isso não ocorreu, nem mesmo na Bolívia, onde o proletariado, particularmente o mineiro, avançou até chegar às portas do poder estatal.
Na situação atual, era de esperar que o Partido da classe operária se colocasse à cabeça das massas, e as dirigisse à conquista do poder político, abrindo assim o caminho para a sociedade comunista. Lamentavelmente, as coisas se passaram ao contrário. O afundamento do capitalismo concluiu desintegrando o proletariado, inclusive o seu partido político. A necessária autocrítica deste surpreendente processo está de todo ausente, o que obriga a concluir que a perspectiva da revolução proletária, imprescindível nas atuais circunstâncias, se afasta mais e mais.
O problema é muito grave, se levarmos em consideração que a aguda crise do fenômeno revolucionário concluiu anulando a atividade do Partido do proletariado. Essa tragédia deve ser superada, o que exige revelar as causas do retrocesso da politização da classe operária, processo encabeçado pelo seu partido político.
Para reencontrar esse caminho, indispensável para potenciar a luta revolucionária, é preciso impulsionar o trabalho correto do partido revolucionário.
Impõe-se que, de imediato, se inicie um severo trabalho autocrítico da atividade executada, nas vésperas, no seio das massas. As correções que se façam neste processo ajudarão a potenciar a linha precisa, que se deve aplicar para orientar os explorados e oprimidos ao reencontro da linha política correta.
Como nos salvar da barbárie?
O imperialismo, procurando se salvar da crise, se esmera em descarregar o maior peso da bancarrota econômica atual sobre o proletariado, já superexplorado, e sobre a classe média, que se debate na pobreza.
A burguesia vem acentuando a submissão dos operários ao aperfeiçoamento permanente da máquina, já convertida na máxima força do processo de produção das mercadorias. O operário de hoje não é mais do que uma peça insignificante da máquina, que determina o ritmo de sua destruição física e psíquica.
A crise econômica é descarregada pelo imperialismo em desintegração sobre os países dependentes das potências mundiais, e, evidentemente, sobre o proletariado.
A tarefa central colocada à maioria é a de encontrar os caminhos que permitam descarregar todo o peso da crise sobre as potências imperialistas e o capitalismo em geral, em crise e em decomposição.
Temos de compreender que a atual crise econômica do capitalismo põe em evidência que as forças produtivas já não podem continuar se desenvolvendo no marco da propriedade burguesa e do imperialismo, que se encontra em bancarrota.
A sociedade burguesa, para continuar funcionando, não tem outro recurso senão intensificar a escravização do proletariado, e acentuar sua função de uma peça a mais das máquinas.
A maior exploração dos operários, que funcionam como peças das máquinas, indispensável para que o imperialismo continue se mantendo em pé, impulsiona a cretinização do ser humano. Desencadeada a descomunal crise econômica, em torno do eixo imperialista, nenhum dos governos, nenhuma das classes sociais, nenhum dos movimentos populares se rebelaram contra o capitalismo ferido, permanecendo submetidos ao capitalismo moribundo.
O que se passou demonstra que a sociedade humana continua condenada a permanecer encarcerada pelo capitalismo em decomposição, monstruosidade cuja responsabilidade recai sobre o estalinismo traidor e serviçal do capitalismo agonizante.
Onde estão as direções sindicais e políticas das massas operárias, camponesas e da classe média? Encontram-se encasteladas nas organizações montadas pela burguesia. As poucas direções populares antiburguesas, anticapitalistas, revolucionárias, foram encurraladas e emudecidas. As massas necessitam de direção. Os marxistas leninistas enfrentam o desafio de cumprir a tarefa fundamental: estão diante da prova de dirigir os explorados e oprimidos a se libertarem do gigantesco peso opressor do imperialismo, que desmorona.
A tarefa central é a de colocar em pé a direção internacional do movimento revolucionário anti-imperialista. O que poderá se materializar somente se se constituírem as diversas seções da IV Internacional.
Corresponde ao movimento revolucionário a atualização da herança deixada por Leon Trotsky, cuja materialização imediata constitui a base da luta revolucionária do proletariado, capaz de dirigir as massas exploradas e oprimidas em sua luta pela libertação e pela construção da sociedade comunista.
Esse trabalho, como todos aqueles de conteúdo revolucionário, tem de partir de uma severa autocrítica das ideias e das ações realizadas, na véspera, pela militância.
A experiência, dura e cheia de frustrações, obriga que se materialize, da parte das seções nacionais da Internacional, a estruturação das seções da IV Internacional de seus programas nacionais, como uma expressão marxista da luta pela solução dos problemas e da estratégia de cada uma delas, como parte integrante da finalidade da Internacional mundial. Não se deve esquecer que as seções nacionais da Internacional marxista-leninista-trotskista têm a obrigação de elaborar seus programas nacionais, e aperfeiçoá-los, partindo de sua experiência cotidiana.
A experiência nos ensina que a resistência em elaborar os programas dos diversos partidos trotskistas é o resultado da incipiência da militância, que lhes dificulta conhecer a fundo o marxismo.
Novamente, devemos assinalar que o Programa de Transição da IV Internacional, aprovado em setembro de 1938, expressa as leis mundiais do capitalismo, do movimento operário internacional. Essas leis se concretizam nos marcos das particularidades nacionais, o que nos obriga a revelá-las. Os programas nacionais devem se utilizar, se aplicar, em estreita relação com o Programa de Transição.
Uma das tarefas imprescindíveis é a atualização e ajuste dos programas internacional e nacional.
A militância de revolucionários profissionais
Até o Partido Operário Revolucionário, uma das organizações trotskistas de maior importância dos países capitalistas atrasados, não conseguiu, até hoje, se transformar em um partido de revolucionários profissionais, imprescindível para que possa realizar, plenamente, as tarefas voltadas a materializar a revolução proletária, e projetá-la no plano internacional.
Pelo que sabemos, tampouco se colocou, no seio da IV Internacional, a materialização deste problema vital, para encontrar o caminho que conduz à sociedade comunista.
A verdade histórica diz que o partido marxista-leninista-trotskista tem de estar constituído, necessariamente, por revolucionários profissionais, para que possa cumprir devidamente sua tarefa de dirigente da revolução social. Somente neste caso, se pode dizer que o militante porista entrega sua vida à causa revolucionária.
O revolucionário profissional é aquele que se forma para orientar sua capacidade e seu conhecimento, voltados ao objetivo central de contribuir, por excelência, com o cumprimento das tarefas revolucionárias, partindo da potenciação do Partido Operário Revolucionário, isto é, da militância composta de membros devidamente formados.
É preciso destacar que nenhum militante é profissional por receber um soldo do partido, mas porque conseguiu se formar, devidamente, para poder desenvolver suas atividades partidárias, revolucionárias.
A luta revolucionária exige que os militantes, dirigentes ou de base, executem devidamente suas tarefas no trabalho partidário e revolucionário. É preciso reforçar que o Partido de marxista-leninista-trotskista está constituído de profissionais que dominam a teoria marxista, além de que são investigadores dos problemas e da realidade, em todos os aspectos. É preciso acrescentar que também estão devidamente preparados para realizar, com eficácia, os trabalhos manuais, mecânicos, em todas as especialidades próprias da militância partidária e revolucionária.
O trabalho partidário (intelectual e material) exige que o militante revolucionário esteja devidamente formado e treinado, tanto no trabalho manual e intelectual, com o cérebro, com as máquinas, as armas.
O trabalho revolucionário é clandestino e legal
Na sociedade capitalista (expressão do imperialismo, dos capitalismos plenos e atrasados, das metrópoles opressoras e exploradoras, das colônias, etc.), o Partido Revolucionário tem de dar resposta no terreno dos fatos, dos problemas da luta de classes e daqueles que emergem da batalha pela sociedade sem explorados e exploradores, isto é, pela sociedade comunista. Isso supõe a luta do proletariado contra o capitalismo, que é a essência da luta de classes (fundamentalmente, a que se dá entre o proletariado e a burguesia). A burguesia conta com seu aparato estatal, com seus efetivos armados, policiais e militares, assentados na propriedade privada dos meios de produção. O proletariado conta com seu partido, com sua própria classe e, mais amplamente, com o apoio das massas e nações oprimidas.
Em alguns países oprimidos e explorados pelo imperialismo, ainda que se mantenha a presença do pré-capitalismo, como é o caso boliviano, o proletariado, subjugado pelo capitalismo internacional e nacional, está obrigado a conquistar o apoio das massas e nações empobrecidas, para poder emancipar e libertar os seus aliados.
A classe operária, isto é, seu partido político, tem de constituir a aliança das classes oprimidas, com o objetivo de potenciar a luta contra a opressão burguesa. A luta anticapitalista tem de ser devidamente projetada e dirigida pelo partido da classe operária. Não se pode esquecer que somente a sociedade comunista – objetivo estratégico do proletariado – poderá acabar com a opressão e exploração das massas em geral.
É fácil compreender que parte da luta geral do Partido Operário Revolucionário, da propaganda de suas ideias, e às vezes de suas atividades cotidianas, tem de se desenvolver e se expor na clandestinidade, porque violam o ordenamento jurídico burguês, e ameaçam destruir o capitalismo. Grande parte das atividades partidárias do trotskismo tem, obrigatoriamente, de se desenvolver na mais severa clandestinidade.
No caso de torná-las públicas, se estaria contribuindo para que o partido e o movimento revolucionário das massas sofressem a repressão, não somente a legal, a policial, mas também aquela que destrói fisicamente a militância e o aparato partidário.
Isso exige que os militantes poristas sejam treinados, educados, a desenvolver de maneira satisfatória as atividades clandestinas. Isso supõe que continue aperfeiçoando o trabalho legal, público, da organização.
Permanentemente, o Partido revolucionário e sua militância devem estar devidamente capacitados para desenvolver com êxito, tanto o trabalho legal, público, quanto o clandestino.
Como o Partido Operário Revolucionário deve trabalhar? A organização do Partido e a formação da militância devem responder à necessidade de materializar, com êxito, tanto o trabalho legal, como o subversivo.
A militância porista tem de estar devidamente formada e treinada, tanto para realizar o trabalho legal, público, diante do ordenamento jurídico do país, como o clandestino, contrário às leis, realizado às escondidas, sem deixar sinais, nem documentos. Tudo isso explica porque os militantes poristas estão devidamente treinados para usar pseudônimos e para aprender a não deixar nenhuma marca em seus trabalhos clandestinos.
Os documentos do trabalho clandestino têm de ser, cuidadosamente, escondidos, e não chegar ao conhecimento das autoridades policiais, e mesmo da opinião pública, mas têm de ser entregues à história do Partido, e de sua luta pela destruição da ordem social burguesa e da construção da sociedade comunista.
Não se deve esquecer que é prejudicial para o movimento revolucionário, para a história do país e para o fortalecimento da luta pela sociedade comunista, que desapareça a verdadeira história do Partido Operário Revolucionário, que constitui a alavanca capaz de impulsionar a luta pela sociedade comunista, sobretudo, nesta etapa da crise profunda do capitalismo agonizante.
Agiganta-se a ameaça da barbárie
A atual crise do capitalismo mundial não é acompanhada pelo despertar do proletariado, cuja radicalização política poderia abrir o caminho para a revolução social. Isto é, agora, quando cai em pedaços o capitalismo, deveria abrir-se o caminho à sociedade comunista.
Diante da crise mundial da sociedade burguesa, nenhum setor social espera que se abra a perspectiva da sociedade sem classes sociais. Então, o que se espera? O homem da rua responderá: não acredito que a sociedade atual sofra modificação alguma. A burguesia continuará comandando as massas, condenadas ao agravamento descomunal de sua miséria.
Não nos enganemos. A potenciação das características catastróficas da atual crise demonstra que a sociedade burguesa foi empurrada, plenamente, à barbárie. O operário, o ser humano, acabará transformando em peça sem cérebro, convertido em um monte de músculos, manejados discricionariamente, e de longe por meio da máquina automática.
A sociedade bárbara terá a finalidade de produzir e produzir, em cujo seio os operários se alimentarão miseravelmente, e acabarão se arrebentando como consequência do trabalho feroz e da alimentação limitadíssima.
Onde está o Partido revolucionário, expressão da luta para conquistar a sociedade sem explorados e exploradores, sem oprimidos, nem opressores? Novamente, comprovamos que a sociedade capitalista em decomposição, quando fecha todas as possibilidades de se orientar para uma sociedade sem explorados, nem exploradores, isto é, para se alcançar o socialismo, caminha com firmeza à barbárie, em que o ser humano é transformado em uma máquina a mais.
Voltamos a reforçar que – uma situação em que exige que a sociedade se lance à luta radical para conseguir se transformar, de maneira que rompa a marcha da barbárie, e que esta seja substituída pela luta revolucionária, voltada a sepultar o capitalismo apodrecido, que já está à porta da barbárie – é preciso transformar o capitalismo em sociedade comunista. A consigna da luta neste momento diz: a revolução já, para evitar que a sociedade burguesa acabe pulverizada em meio à barbárie, que transformará o ser humano em uma máquina a mais e sem cérebro.
E o Partido revolucionário? No plano internacional, encontramos a IV Internacional, armada com seu programa, como artilharia pesada.
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Nos países em que se considera sabedoria o fato do partido não ter programa nacional, se está condenado a concluir como um bando de imbecis.
Neste plano, não resta, na Bolívia, senão a esperança de que a IV Internacional lembre ao seu Partido, que recorra a seu Programa para o País, e, dessa maneira, armado, se lance a dirigir as massas exploradas e oprimidas para a revolução social.
Recordemos que, em 1971, o Partido Operário Revolucionário chegou às portas da ditadura do proletariado, por meio da Assembleia Popular. A esta altura dos acontecimentos, é preciso que a direção revolucionária dirija os explorados e oprimidos até a revolução social, e transforme a Assembleia Popular do passado em ditadura do proletariado, abrindo, assim, o caminho até a sociedade comunista.