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18 jul 2020
Que frente é necessária?
Qual é o programa?
Editorial, Massas 614, 18 de julho de 2020
Está mais do que claro que a classe operária e demais explorados estão voltando ao trabalho, golpeados pela pandemia, desemprego e redução salarial. Também é visível que os micros, pequenos e médios comerciantes e do setor de serviços sentem o peso das perdas. Milhões, que antes da pandemia estavam empregados, se somam a milhões de desempregados e subempregados. Milhares de empresas, micros, pequenas e médias, fecharam as portas, fonte de milhares e milhares de empregos. Milhares que trabalhavam por conta própria sentem que poderão ser futuros desempregados. Perdem suas fontes de renda, muitas delas familiares. Endividados, não conseguem cumprir os compromissos financeiros, e não têm como sustentar o aluguel de sua venda, bar, salão de cabeleireiro, etc.
A classe operária, demais explorados e pequenos comerciantes e de serviços são as camadas sociais que arcam com o maior peso da crise econômica, potencializada pela pandemia. Essa massa de milhões forma a maioria oprimida. É esse gigantesco contingente que necessita, objetivamente, de se colocar em movimento, para defender sua fonte material de existência.
As centrais sindicais, os movimentos (MST, MTST, etc.) e as correntes políticas, que se identificam como defensoras dos explorados, tinham o dever de estar inteiramente voltadas a organizar a luta. É sobre as massas, atingidas pela pandemia e pela crise econômica, que se justifica a necessidade imperiosa e urgente de organizar uma frente única por um programa de emergência, que tenha por base a defesa dos empregos, dos salários, da fonte de renda dos micros, pequenos e médios comerciantes e de serviços. A classe operária, organizada e mobilizada, inevitavelmente, arrastará atrás de si outras camadas de trabalhadores e pequenos negociantes e serviços, caso expresse suas necessidades de existência. A classe operária deve expressar na frente única a exigência dos aliados – micros, pequenos e médios comerciantes/serviços – de que os governos cancelem suas dívidas, adiem o recolhimento de impostos, promovam financiamentos subsidiados, e garantam o pagamento dos aluguéis.
Está mais do que claro que o grande capitalista teve como se proteger. Uma de suas frações, inclusive, lucrará com a pandemia, a exemplo dos banqueiros e dos fundos que exploram a dívida pública. Assim que a quebra do isolamento social se completar, os grandes capitalistas se recuperarão da queda econômica, e sairão fortalecidos. As consequências da pandemia não ameaçaram a existência dos poderosos grupos. Além de terem um gigantesco excedente de capital acumulado, contaram com as medidas de Bolsonaro e do Congresso Nacional. A PEC do orçamento de guerra, as MPs. como a 936 etc., foram montadas como um escudo às multinacionais, aos grandes grupos nacionais, banqueiros e fundos.
A essa proteção, denominamos de “política burguesa de isolamento social”, cujos resultados comprovam que, de um lado, mantém os explorados descobertos; e, de outro, o grande capital, resguardado. Isso se passou em todo o mundo, sem exceção, apesar das diferenças de governos e das particularidades econômico-sociais. Não por acaso, a pandemia pôs e opôs, meridianamente, de um lado, a classe operária, demais explorados e micro, pequenos e médios negociantes-serviços; e banqueiros, grandes industriais e agroindustriais, de outro. Isso se passou, tanto no Brasil, com alto índice de contaminação e mortalidade, que ultrapassa 2 milhões, e logo ultrapassará as 80 mil mortes, respectivamente, quanto na Argentina, considerada – a boca pequena – como exemplo bem-sucedido de isolamento social.
Em todo o mundo, está colocada a organização da frente única em defesa dos empregos, salários, direitos, saúde pública, e proteção aos micros, pequenos e médios produtores, serviços e comércio contra as quebras. Certamente, trata-se de uma frente contra o grande capital, a burguesia como um todo e seus governos. Por isso, organizada e dirigida pelo proletariado, a partir dos sindicatos fabris e da central sindical, que concentra a maior força da classe operária. O que, então, os impedem de unir empregados e desempregados, formais e informais, e de arrastar atrás de si os pequenos que se quebram? Precisamente, os sindicatos e centrais submetidos à política de conciliação de classes. Suas direções não respondem à classe operária, mas à burguesia, ou a uma ou outra de suas frações.
A vanguarda com consciência de classe tem pela frente a luta política contra qualquer desvio das direções burocráticas, vendidas e traidoras. E a luta intransigente pela constituição da frente única de defesa da vida das massas, que, nos países semicoloniais, se erguida, se desenvolverá como frente única anti-imperialista. Concretamente, está posta a rejeição à frentona pelo impeachment de Bolsonaro. Isto por que submete a luta do proletariado e demais explorados contra a burguesia e seu governo ao Congresso Nacional. Essa frente é claramente burguesa, portanto, se opõe à tarefa de pôr em pé a frente única de defesa da vida das massas.