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10 mar 2021
Duas tragédias combinadas
O sentido da luta pela superação da crise de direção
Editorial, Massas 630, 7 de março de 2021
Tudo indica que a pandemia permanecerá por dois anos, na melhor das hipóteses. Depois de um ano, a contaminação e as mortes voltam aos mais altos índices. A mutação do Covid-19 vem causando assombro nos infectologistas. Muito se aprendeu com o enfrentamento à pandemia. Mas, a nova incógnita, quanto à capacidade das vacinas de responderem às variantes do vírus, causa maior imprevisibilidade do futuro.
Essa apreensão ocorre no momento em que se tem a certeza de que a vacinação continuará lenta. Enquanto as potências não derem um salto na imunização, os países semicoloniais continuarão à mercê das indefinições. Está patente que os monopólios farmacêuticos se valem da guerra comercial, impulsionada pelas potências, tendo os Estados Unidos como carro-chefe.
A política burguesa do isolamento social fracassou. Esteve determinada por limites econômicos e pelos conflitos políticos, que se desencadearam no interior dos Estados e governos. Procurou-se ganhar tempo e retardar o colapso do sistema de saúde, à espera das vacinas. Devidamente testadas e aprovadas, os monopólios passaram a ditar o curso do combate à pandemia. As potências se apossaram de quase toda a produção. O restante do mundo permaneceu a descoberto. O vírus se adaptou com mutações, tornou-se mais transmissível e as mortes foram se elevando.
Os pobres e miseráveis, que formam a maioria mundial e nacional, pagaram caro pelo fracasso da política burguesa do isolamento social e, agora, pagam caro por não contarem com a imunização. Os números mudam diariamente. Basta terem chegado a mais de dois milhões e quinhentos mil no mundo, caminhando para três milhões, para se ter a dimensão da tragédia humana. No Brasil, as mortes ultrapassaram a casa dos duzentos e sessenta mil, evoluindo rapidamente para trezentos mil. Em números absolutos, o país está atrás apenas dos Estados Unidos.
Os conflitos entre Bolsonaro e Doria, envolvendo governadores, prefeitos, autoridades judiciais, etc., que pareciam ter arrefecido-se com a flexibilização do isolamento social, e se concentrado na guerra das vacinas, voltaram ainda mais contundentes. O retorno ao fechamento parcial das atividades, diante da falência do sistema hospitalar, e dos corpos que são amontoados em contêineres refrigerados, dá a precisa dimensão de nossa tragédia, que não é da burguesia e de seus governantes, mas da maioria oprimida.
Há uma outra tragédia, que permanece oculta e que poucos veem. A classe operária e demais explorados têm se sujeitado às demissões em massa, à redução salarial, à destruição de direitos e à implantação das contrarreformas de Temer e Bolsonaro. O fechamento de fábricas, comércios e serviços prejudicam os negócios da burguesia, mas quem sofre na carne é o assalariado. A expansão da miséria e fome obrigou os governantes a amenizarem a crise social com o auxílio emergencial, que é uma migalha. As massas sofrem com a pandemia e com as medidas econômicas dos exploradores.
As direções sindicais não cumpriram e não cumprem o dever de organizar os explorados, para se defenderem com suas reivindicações e com o método de luta coletivo. Abraçaram a política burguesa do isolamento social de Doria e companhia, e não se dispuseram a levantar as massas contra o governo Bolsonaro, que menosprezou durante todo o tempo a gravidade da crise sanitária, persistiu na linha das contrarreformas, e se dedicou a proteger o capital financeiro.
A classe operária, desarmada política, ideológica e organizativamente, não teve como reagir ao temor da pandemia, e se lançar à luta em defesa de um programa próprio de emergência, que respondesse à crise sanitária, às demissões e às medidas do governo e Congresso Nacional, como a MP 936.
A crise de direção emergiu da tragédia vivida pelas massas. Essa é a pior das tragédias, uma vez que o capitalismo em decomposição não tem nada de progressivo a oferecer às massas, e resulta em avanço constante da barbárie social. A economia no Brasil sofreu uma queda de 4,1%. Não vai se reabilitar no próximo período. O ano que adentra continuará sendo difícil para os explorados. A luta pela proteção sanitária e pelos empregos é uma exigência da situação.
A vanguarda com consciência de classe deve colocar-se à frente, propagandeando e agitando o programa de emergência dos explorados. As necessidades prementes da maioria oprimida estão em choque com a política de conciliação de classes das direções. Podem, portanto, se voltar contra os obstáculos políticos e organizativos, que impediram as manifestações coletivas. O avanço na construção do Partido Operário Revolucionário, vinculada à luta do proletariado, é a condição para a superação da crise de direção.
Operários, demais trabalhadores e juventude oprimida, vivemos duas tragédias: a crise sanitária-econômica, combinada com a crise de direção. É com nosso programa de reivindicações, com nossa organização e com nossas próprias forças, que atravessaremos essa tormenta do capitalismo bárbaro, e sairemos fortalecidos, para lutar pela transformação da propriedade privada dos meios de produção em propriedade social, coletiva, socialista!