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04 set 2021
Aprofunda-se a divisão interburguesa
É necessário organizar e mobilizar a classe operária
Massas 646, Editorial, 5 de setembro de 2021
Bolsonaro e seus generais prepararam uma grande demonstração em 7 de setembro, principalmente em São Paulo. A Avenida Paulista será o epicentro. Doria compactuou com esse objetivo, ao ceder às pressões dos empresários, policiais e politiqueiros bolsonaristas. O movimento “Fora Bolsonaro” se viu obrigado a realizar sua manifestação no Vale do Anhangabaú. A prevalência da vontade de Bolsonaro se deveu à força do poder econômico, e à fraqueza do movimento oposicionista, que depende das direções sindicais e políticas vinculadas aos trabalhadores. Neste episódio, venceu a ultradireita, com auxílio da direita liberal. Não há que desprezar esse fato, uma vez que expressa a ausência da classe operária organizada, que tem permanecido à margem da luta contra o governo fascistizante, antinacional e antipopular.
O bloqueio imposto pelas direções sindicais colaboracionistas, durante esse longo período de pandemia, ainda persiste. Na ausência da classe operária mobilizada e organizada, reside a capacidade da ultradireita se manifestar no sentido de um golpe de Estado. Bolsonaro resiste em ceder o poder. Por enquanto, não teme a possibilidade de um impeachment. Teme a perda de força eleitoral. E seus generais temem, sobretudo, a volta do PT ao poder, encabeçado por Lula.
Se essa previsão se confirmar, a ultradireita não verá justificativa para o golpe institucional de Estado de 2016, que derrubou Dilma Rousseff. Eis por que os bolsonaristas fascistizantes não se contentam em ter servido de instrumento para as contrarreformas, em especial a trabalhista e previdenciária, bem como para andar com as privatizações. Sua meta era e é mais ambiciosa. Buscam uma contrarreforma do que se denominou grosseiramente “pauta de costume”, no fundo sectária, religiosa e retrógrada.
O bolsonarismo se revestiu de um movimento evangélico, fundamentalmente pentecostal. Mas, o mais importante é seu pilar econômico. Conta com uma importante fração do agronegócio, fazendeiros, grileiros, madeireiros, entre outros. O “Movimento Brasil Verde Amarelo” é expressão de capitalistas do agro, que se potenciaram internamente, e que necessitam manter o ciclo de expansão a qualquer custo. Está bem claro que vêm financiando o bolsonarismo, já caracterizado como um movimento social de ultradireita. Os militares, que a contragosto cederam o poder em 1985, depois de 21 anos de ditadura, recuperaram seu posto no centro da governabilidade, com o impeachment de Dilma, a ditadura civil de Temer, e a eleição de Bolsonaro.
O governo de conciliação de classes do PT prestou grandes serviços à burguesia. Como não há como realizar reformas no capitalismo em decomposição, qualquer empecilho que se crie aos capitalistas é motivo de confronto, basta ver os atuais choques em torno ao “marco temporal” da demarcação de terras indígenas.
O bolsonarismo, no entanto, não teve como manter unidas as frações burguesas, que patrocinaram o golpe institucional de 2016, e que apoiaram a ascensão de Bolsonaro. Na medida em que o governo ultradireitista foi revelando suas limitações e incapacidade para cuidar das profundas contradições da crise estrutural do capitalismo, que é mundial, acirraram-se os conflitos interburgueses. As respostas à Pandemia, que está se aproximando à casa dos 600 mil mortos, ampliaram as divergências políticas no seio do Estado. A intervenção do Supremo Tribunal Federal, que se vem projetando desde a crise do “Petrolão”, no governo Lula, para limitar as ações de Bolsonaro, elevou às alturas os choques institucionais. Os quatro inquéritos contra o presidente da República, que estão nas mãos dos ministros do STF, têm sido considerados pelo governo como violação da independência dos poderes. A contraofensiva de Bolsonaro, apresentando um pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, assustou boa parte da burguesia.
A CPI da Covid foi montada como um instrumento para promover o impeachment. Cada vez mais, aperta o cerco político da oposição ao presidente. Mesmo que não tenha ainda chegado ao ponto de viabilizar o impeachment, Bolsonaro reage, para não perder de vez as rédeas da governabilidade. Os ataques de Bolsonaro e bolsonaristas ao STF são acontecimentos inéditos na história política do país. As ameaças de golpe vêm causando uma maior rejeição da fração do grande capital, que tem clareza sobre o seu caráter aventureiro. Em não havendo nenhuma ameaça da classe operária aos interesses gerais da burguesia, a movimentação do governo em direção a um golpe comparece como um espantalho. A gravidade está em que o dilaceramento das relações de poder do Estado pode abrir caminho à luta dos explorados, que não suportam o peso do desemprego, subemprego, miséria e fome.
O manifesto da Febraban, exortando a pacificação entre os poderes da República, foi o sinal mais claro do crescente isolamento de Bolsonaro diante do grande capital. A crise política se caracteriza, portanto, como resultado da divisão interburguesa.
O PT, aliados no movimento “Fora Bolsonaro” e a burocracia sindical – de direita, centro e esquerda – se dedicam a insuflar a ilusão de que a terrível situação da maioria oprimida será resolvida com substituição de Bolsonaro por outro governo. Essa estratégia tem condicionado o curso das manifestações, iniciadas em 29 de maio. Esse é o grande obstáculo para a classe operária se mobilizar e se organizar, no campo da independência de classe.
Sem a presença física da classe operária no Anhangabaú, a manifestação não poderá fazer frente à arregimentação bolsonarista da classe média e camadas populares seguidoras das igrejas evangélicas. De manifestação em manifestação, fica comprovada que a tarefa é pôr em pé um movimento de massas, que tenha por base um programa próprio de reivindicações, a democracia operária, e o método da ação direta.
Viva a manifestação dos trabalhadores e da juventude oprimida no Vale do Anhangabaú!
Fora Bolsonaro e bolsonaristas da Avenida Paulista!