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04 out 2021
Novos sintomas da crise mundial, e seus reflexos no Brasil
Massas 648, Editorial – 2 de outubro de 2021
O mês que se encerra foi tomado por grandes e concentrados acontecimentos internacionais. Os Estados Unidos se retiraram do Afeganistão e anunciaram o acordo militar com a Inglaterra e a Austrália; o Japão revelou um acordo militar com o Vietnã; a China passou a ocupar um espaço no Afeganistão, e procura uma aproximação com a Rússia e o Irã. O aumento da militarização do Mar do Sul da China, agora reforçado com os submarinos nucleares, adquiridos pela Austrália, lembra movimentos de pré-guerra. Nesse mesmo espaço de tempo, a incorporadora chinesa Evergrande reconheceu a incapacidade de pagar US$ 83,5 milhões, de uma dívida de US$ 300 bilhões. Chegou-se a comparar a falência da Evergrande com a do banco de investimento norte-americano Lehman Brothers, em setembro de 2008.
A sombra da retomada da recessão de 2009, que levou a uma ampla quebradeira, portanto, à destruição maciça de forças produtivas, por toda a parte, ainda não foi dissolvida. Sabe-se que o alto crescimento, em boa parte artificial, da economia chinesa, chegou ao seu limite. Estima-se que os negócios da Evergrande ocupam uma significativa parcela do PIB da China, cerca de 30%. Depois da retração mundial em 2020, causada pelo impacto da Pandemia, a recuperação em 2021, incentivada por trilhões de dólares injetados pelas potências – somente os Estados Unidos, US$ 1,9 trilhão –, se mostrou muito aquém da necessidade de desbloquear as forças produtivas. Tudo indica que a crise da Evergrande muito pesará no crescimento mundial do ano que vem. Se o socorro do Estado chinês não adiar a quebradeira interna, a situação dos países exportadores de matérias-primas e de outras commodities poderá piorar sensivelmente.
O Brasil sofreu uma queda de 4,1% no ano passado; e as previsões otimistas para o presente ano ficaram nebulosas. Mas, tudo indica ser correta a estimativa de baixo crescimento e estagnação nos próximos anos. Uma redução na exportação de minerais e produtos do agronegócio agravará o bloqueio das forças produtivas internas, que, há décadas, se movimenta nos marcos do baixo crescimento, recessão e estagnação. O peso da dívida pública parasitária condiciona o Orçamento do país, a tal ponto que, qualquer que seja o governo, não consegue alterar o curso catastrófico da economia.
Assistimos à derrocada de Dilma Rousseff no seu segundo mandato, à de Temer e, agora, à de Bolsonaro. As contrarreformas trabalhista e previdenciária – está em andamento a administrativa – vêm protegendo os lucros dos capitalistas e o pagamento pontual da gigantesca carga de juros aos credores, mas não têm servido para impulsionar as forças produtivas como um todo.
A Pandemia não fez senão agravar as tendências recessivas e de estagnação econômica. O País se aproxima de 600 mil mortes, com uma média atual de 600 vidas que se perdem diariamente. A burguesia e os seus governantes se mostraram e se mostram incapazes de conter a contaminação. Evidenciaram que os interesses econômicos estão acima das ações efetivas de combate à Pandemia. A imensa maioria das vítimas é de pobres e miseráveis. Muito se tem falado e lamentado, diante da escalada do desemprego, subemprego, miserabilidade e fome. Mas, os exploradores nada podem fazer, uma vez que é próprio de sua natureza de classe agir sempre em proteção de seus interesses econômico-financeiros.
As privatizações caminharam, mas o valor obtido se dissolveu no orçamento, voltado à sustentação da diívida pública. A entrega das estatais lucrativas é parte do mesmo parasitismo que sangra o Tesouro Nacional, por meio de juros pagos religiosamente aos credores da divida pública. Milhares de fábricas e negócios se fecharam. O mais fulgurante espetáculo foi dado pelas multinacionais Ford e LG. Forças produtivas foram destruídas a olhos vistos. Assim, a burguesia liquidou, em pouco tempo, milhões de postos de trabalho. Acompanha esse desastre social, a volta da inflação e do custo de vida. Bolsonaro e seus críticos discutem a causa e os responsáveis pela explosão inflacionária. Enquanto isso, milhares de famílias são despejadas de suas casas, milhões vivem de migalhas assistenciais, e outros milhões de jovens não estudam, nem trabalham.
No dia 2 de outubro, ocorrerá a quinta manifestação do “Fora Bolsonaro”. A sua direção sindical e política responderá a essas contradições do capitalismo em decomposição? Não responderá! Continuará empenhada na preparação da disputa eleitoral de 2022, que inclui uma possível solução institucional, de afastamento de Bolsonaro por meio do impeachment. Continuará resmungando sobre os infortúnios dos miseráveis e famintos. E, na prática, continuará negando-se a organizar a luta pelos empregos, salários e direitos trabalhistas.
Cabe à vanguarda com consciência de classe defender o programa próprio dos explorados, e indicar, com a estratégia do proletariado, o caminho da revolução social. Cabe explicar exaustivamente aos explorados e à juventude, que o reformismo falsifica a realidade econômica e social, ao ocultar que o capitalismo da época imperialista é de desintegração, de barbárie crescente, de guerras, revoluções e contrarrevoluções. Cabe empenhar-se de corpo e alma na construção do partido marxista-leninista-trotskista, e reconstrução do Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional.