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22 dez 2021
Pronunciamento do CERQUI sobre o segundo turno das eleições presidenciais no Chile
20 de dezembro de 2021
O presidente eleito, Gabriel Boric, do partido CS (Convergência Social), é a expressão política de uma das variantes da burguesia. Um governo burguês foi trocado por outro. O caráter de classe do governo não pode ser ocultado por trás de afirmações como “a esquerda retorna ao poder”, ou coisa similar.
Boric dará continuidade à política dos governos da “Concertação”, que sucederam à ditadura fascista de Pinochet. Seu agrupamento conta com participação do Partido Comunista contrarrevolucionário – um dos maiores responsáveis pela traição à luta dos oprimidos – cujo percurso político foi de integração ao governo burguês da Unidade Popular e ao último governo de Bachelet. A experiência chilena com os governos de colaboração de classes demonstra que concluem subordinados aos interesses gerais da burguesia e do imperialismo.
Eis por que o governo de Boric não acabará, nem com o neoliberalismo, nem com o pinochetismo, que se apoiam no domínio semicolonial do país. A grande propriedade dos meios de produção, controlada pelo grande capital e pelas multinacionais, não será afetada, portanto, não haverá nenhuma mudança estrutural. Obrigatoriamente, a vanguarda revolucionária tem de combater, desde já, qualquer ilusão sobre a possibilidade de ocorrer alguma transformação profunda.
O triunfo de Boric lhe permitirá atuar em bloco com a Constituinte, para reforçar sua política de desviar o levante popular de 2019, e apresentar uma Constituição que preserve os fundamentos da dominação neoliberal, respeitando todos os acordos e contratos, que submetam o país ao capital financeiro. Boric foi um dos arquitetos da convocação de uma Assembleia Constituinte, para preservar a governabilidade Piñera, que estava esgotado. A nova Constituição reafirmará o regime de ditadura civil, que passou o reger o Chile, desde a saída de Pinochet.
É falso que seja possível melhorar a democracia burguesa, como afirma o novo presidente. O capitalismo em decomposição potencia e impulsiona as tendências autoritárias. Boric, com sua política, pretende dissolver a revolta das massas, que explodiu em 2019; e não se dispõe a resolver suas necessidades mais profundas. Esse político pequeno-burguês trabalhou para bloquear as tendências de luta, portanto, não pode expressá-las, na sua nova condição de governo da ordem capitalista, contra as posições fascistas. Afirmar o contrário, significar jogar areia nos olhos dos oprimidos.
Sua vitória foi possível porque mais de 1.200.000 eleitores, que não votaram no primeiro turno, foram ao 2º turno votar, contra a possibilidade de vitória do pinochetista Kast. Esse importante contingente do eleitorado se absteve em eleições anteriores. 55% do quórum eleitoral foi votar.
Está colocada a luta pela independência política do proletariado, para dar continuidade à luta e às assembleias populares. Nem um minuto de ilusão no novo governo da burguesia. Temos de nos preparar para enfrentar a política anti-operária e pró-imperialista do governo de Boric e aliados. Chamamos a vanguarda com consciência de classe a defender o programa da revolução proletária e estratégia própria de poder.