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12 jan 2022
Inicia-se um novo ano
Ou os explorados reagem, ou pagarão ainda mais caro pela decomposição do capitalismo
Massas 655, Editorial, 9 de janeiro de 2022
O ano de 2021 se encerrou com um crescimento da economia brasileira que mal repôs a queda de 2020. A previsão para o ano que se inicia é sombria: pode ficar abaixo de 1%. Significa que a taxa de desemprego continuará alta, podendo alcançar taxas tão elevadas como as do ano passado, avançará o processo de informalização nas relações de trabalho, e a inflação reduzirá ainda mais o valor da mão-de-obra. O reajuste 10,04% do salário mínimo impõe maiores dificuldades de sobrevivência a milhões de famílias.
Nem o velho “Bolsa Família, nem o novo “Auxílio Brasil”, é capaz de proteger os miseráveis da fome. As contrarreformas de Temer e Bolsonaro – trabalhista e previdenciária – levantaram poderosos obstáculos ao crescimento econômico, que vem cambaleando, desde a crise de meados dos anos de 1970 e dos anos 1980. O retorno da inflação nas condições de depressão salarial e a alta dos juros punem a maioria oprimida, e deprimem a economia. A diminuição do desemprego, que passou de 14,5%, em 2020, para 13%, em 2021, não modificou muito a situação dos trabalhadores, uma vez que boa parte dos novos postos de trabalho padeceu e padece da precarização e da informalidade.
A combinação da corrosão inflacionária dos salários com o aumento da precarização e informalização das relações trabalhistas – marcadas pelo impulso à terceirização – aprofunda o abismo existente entre a minoria que detém a maior parte da riqueza nacional e a maioria pobre e miserável. Há que ressaltar a maciça liquidação de postos de trabalho industriais, em parte compensados pelos postos de trabalho no comércio e serviço, os quais são infinitamente mais precarizados e informalizados.
O que os economistas denominam de “subutilização e desalento”, na realidade, correspondem à destruição em grande escala da força de trabalho. Em 2020, os desempregados e subempregados compuseram o universo de mais de 50% da força de trabalho. A tendência é a de continuidade do processo de diminuição de postos de trabalho industrial. Segundo o IBGE, de 2013 a 2019, portanto 6 anos, foram fechadas 28,6 mil empresas fabris, e liquidados 1,4 milhão de postos de trabalho. Em 2020, a indústria teve uma queda de 3,5%, o que representou demissões massivas.
Nesse quadro adverso ao trabalhador, que sobrevive da venda de sua força de trabalho aos capitalistas, se encontra a explicação do bárbaro fenômeno de 13 milhões de jovens sem nem trabalhar, nem estudar; do aumento da discriminação ao trabalhador negro e à trabalhadora mulher.
Eis por que está plenamente colocada a disjuntiva: ou os explorados reagem, ou pagarão ainda mais caro pela decomposição do capitalismo. Decomposição que se reflete no fechamento de fábricas, na destruição de postos de trabalho, no aumento exponencial do desemprego e subemprego, na redução do valor médio da força de trabalho, e no avanço da miséria e fome.
O declínio do capitalismo no Brasil – uma refração da decomposição do capitalismo mundial – já tem um longo percurso, portanto, não começou com a Pandemia. Concomitante a esse processo de degradação econômica e social, se deu paulatinamente a regressão política e organizativa da classe operária. A formação de uma burocracia pró-capitalista nos sindicatos, após o fim da ditadura militar, é responsável por obstaculizar e quebrar toda iniciativa de luta do proletariado. A política de colaboração de classes chegou ao seu ponto mais alto nesse período de pandemia.
As centrais e sindicatos se negaram a enfrentar os fechamentos de fábrica, como a Ford e LG. Serviram de auxiliares ao governo, ao Congresso Nacional e aos capitalistas, na aplicação da MP 936. Anularam as campanhas salariais. E, finalmente, desativaram o movimento de rua pelo “Fora Bolsonaro”, abraçando o seu verdadeiro objetivo, que é o de se embrenhar na corrida eleitoral. As direções sindicais e políticas tudo farão para convencer os explorados que a única saída para a sua situação de pobreza e miséria se encontra nas eleições. Durante toda a Pandemia, fecharam as portas dos sindicatos. Há pouco, foram abertas, para servirem de aparatos de arregimentação eleitoral.
A vanguarda com consciência de classe tem pela frente a árdua tarefa de defender o programa e a estratégia própria de poder da classe operária, em manter o combate em toda a linha contra as direções colaboracionistas e traidoras. Os explorados necessitam sair em defesa das suas condições elementares, a começar pelos empregos. É sobre a base dessa necessidade que a vanguarda trabalhará pelo caminho da ação direta e organização independente dos trabalhadores.