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04 fev 2022
Manifesto do POR
O assassinato do congolês Moïse é mais um crime de classe da burguesia contra os trabalhadores
4 de fevereiro de 2022
O congolês Moïse Kabagambe foi assassinado brutalmente por cobrar de seu patrão o pagamento de R$ 200,00 por dois dias de trabalho, num quiosque na Barra da Tijuca, área de elite do Rio de Janeiro. O caso ganhou repercussão nas redes nessa semana, com vídeos da família e diversas declarações e notas de repúdio de organizações políticas. Os jornais reproduziram o vídeo do espancamento, indicando que três suspeitos já foram detidos. Trata-se de mais uma demonstração da barbárie capitalista em que vivemos, onde o racismo, a xenofobia etc., expressam a opressão de classe da burguesia sobre os explorados.
Neste caso, se mistura o problema do racismo, com o da xenofobia. A crise geral do capitalismo impulsiona as imigrações forçadas de países mais atingidos pela crise econômica, sanitária, por guerras etc. Porém os imigrantes, ao chegarem ao país-destino, que também está assolado pela crise, se deparam com a xenofobia, inclusive entre os próprios explorados, que acreditam que estão perdendo seus empregos para os estrangeiros. Não compreendem que a responsabilidade pela miséria, fome e desemprego é do capitalismo, que em sua decomposição agrava a barbárie social. É responsabilidade da ação da burguesia e seus governos, e não de seus irmãos trabalhadores, sejam eles de qual país for. A Pandemia deu um salto na crise econômica, gerando grande concentração de riqueza nas mãos da burguesia, de um lado, e desemprego e miséria, de outro. Pesa sobre os imigrantes a necessidade de aceitar os trabalhos mais precários, informais, sem qualquer direito ou garantia. Pesa ainda mais, quando esses imigrantes vêm de países devastados pela exploração imperialista, como os países da África, América Latina e Oriente Médio.
Moïse se viu obrigado a cobrar sozinho seu patrão pelo pagamento atrasado. Por trabalhar na informalidade, não contou com o apoio de sindicatos, nem com garantias trabalhistas. Trata-se de um crime de classe, pois é mais um trabalhador morto pela ação da burguesia imperialista contra os oprimidos do mundo, ao devastar os países coloniais e semicoloniais e obrigar as populações a imigrarem e aceitarem as condições mais degradantes de trabalho. O proletariado é internacional, por isso, deve estar irmanado em uma luta comum contra o imperialismo e todas as suas formas de opressão em qualquer parte do globo.
A exigência de justiça é um direito da família de ver os algozes presos e condenados. Mas a vanguarda, partidos e movimentos não podem confundir essa resposta com o problema geral, e se limitar a exigir da justiça burguesa a punição dos culpados. A maior justiça que pode ser feita por Moïse é a organização da luta da classe operária e dos demais trabalhadores para que isso não se repita. Estamos cansados de assistir a repetição dessa barbárie, que muda apenas a forma de um mesmo conteúdo. Porta-vozes da própria burguesia pedem justiça, prende esse ou aquele criminoso, logo acaba sendo solto, mas a classe responsável pela sequência de acontecimentos como esse permanece oculta aos olhos dos oprimidos. Para responder consequentemente, a classe operária tem de tomar a frente da luta com seu programa próprio de reivindicações.
O caso de Moïse reflete concretamente a luta contra o desemprego, contra o rebaixamento dos salários e contra a retirada de direitos. Reflete a luta contra a informalidade e terceirização que destroem a força de trabalho brasileira. Reflete a luta contra a fome, miséria e a carestia de vida, que massacram a classe operária e os demais trabalhadores brasileiros e imigrantes, que buscam aqui uma saída para a opressão sofrida em seus países. Neste caso particular, se confirma a campanha do POR, ao longo de toda a Pandemia, por empregos, salários e direitos, em oposição à campanha reformista de troca de um governo burguês por outro. É por essas reivindicações que as massas exploradas se levantarão contra todos os seus carrascos, contra a burguesia e os seus governos. As direções políticas devem deixar de fazer hipocrisia em cima do assassinato e colocar seu aparato em defesa de uma ampla campanha nacional pelas necessidades dos explorados. O POR mantém sua campanha pela convocação de um Dia Nacional de Luta, em defesa do programa próprio de reivindicações dos trabalhadores. Esse é um ponto de partida para unir empregados e desempregados, sob a direção da classe operária. As organizações que promovem a manifestação de hoje devem se pronunciar e assumir a bandeira de convocação imediata do Dia Nacional de Luta, com paralisações e bloqueios.
Que a luta contra a opressão racial parta das necessidades mais sentidas dos pretos e pretas exploradas!
Que a luta contra a odiosa xenofobia, seja pela defesa incondicional dos trabalhadores de qualquer país e pelos direitos dos imigrantes que aqui vivem!
Que as centrais sindicais e movimentos sociais convoquem imediatamente um Dia Nacional de Luta, com paralisações e bloqueios, como preparação para a greve geral no país!