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19 mar 2022
Ucrânia, bucha de canhão de Biden; e escudo de Putin
Pelo fim da guerra e da barbárie
Massas 660 – Editorial – 20 de março de 2022
Guerra, sem destruição, morte e sofrimento da população, não é guerra. As guerras acompanham a humanidade desde sempre. As guerras mais definidas, porém, são expressões das sociedades de classe. As guerras podem ser de dominação ou de libertação, progressivas ou regressivas. A burguesia somente encarnou as guerras de libertação, quando era a classe revolucionária que lutava contra o arcaico sistema feudal. Observa-se que essa nova classe recorreu às guerras para libertar as forças produtivas das relações de produção feudais, e edificar os Estados nacionais. Os Estados Unidos, por exemplo, tiveram de travar uma guerra de libertação da dominação inglesa; e uma guerra civil para acabar com a escravidão dos negros.
Esgotada a etapa histórica de conformação do capitalismo, as guerras gestadas pela burguesia assumiram um caráter de dominação de um punhado de potências sobre a imensa maioria das nações, portanto, guerras regressivas. A fase imperialista do capitalismo está repleta de guerras de dominação, sendo as duas guerras mundiais sua mais elevada expressão. Por serem de dominação e destruição em grande escala de forças produtivas e vidas humanas, as duas guerras mundiais evidenciaram que o capitalismo está esgotado historicamente e que, para sobreviver, empurra a humanidade à barbárie social.
Na Primeira Guerra, o proletariado russo, unido aos camponeses pobres, travou a guerra civil contra a monarquia e, em seguida, contra o governo burguês, que se instalou em fevereiro de 1917, tendo por bandeira a “paz sem anexações”. A classe operária, estando no poder, teve de defender-se, diante do cerco imperialista à revolução. A transformação da guerra imperialista em guerra civil pela derrubada do poder da burguesia foi de libertação.
Em meio à barbárie da guerra imperialista, germinou a guerra antibarbárie. Nesse mesmo sentido, passou-se com a heroica guerra de libertação da China, contra a dominação japonesa, inglesa e norte-americana, em meio à Segunda Guerra Mundial. Um exemplo também de guerra de libertação foi o da guerra de resistência anti-imperialista nos Balcãs, por meio da qual se formou o Estado da Iugoslávia, hoje inexistente, graças à guerra civil de dominação, incentivada e controlada pelos Estados Unidos e aliados europeus da OTAN. Em todos esses casos de guerra de libertação, se faz necessária a presença de uma direção revolucionária, sem a qual o proletariado e a população oprimida não podem se organizar, se armar e vencer.
Esses fundamentos históricos, de princípio, de estratégia e tática revolucionários foram elaborados por Lênin, dirigente do partido bolchevique, em situação de guerra imperialista de dominação e de guerra de libertação proletária. Aplicam-se plenamente à guerra na Ucrânia. Como em qualquer guerra, é preciso, porém, evidenciar as suas particularidades.
A imprensa imperialista faz, diariamente, a campanha de exposição das ruínas, dos alvos civis atingidos, das mortes de mães, filhos, velhos, de cidades cercadas, e da onda de refugiados desolados. O presidente Zelenski é recebido pelo parlamento norte-americano, inglês e alemão, para denunciar a crise humanitária, e pleitear uma condenação da Rússia na Corte de Justiça (ICJ), de Haia. Organismos de direitos humanos pretendem que Putin seja denunciado por crime de guerra no Tribunal Penal Internacional (TPI). A imprensa espalhou o discurso de Biden, acusando Putin de “criminoso de guerra”, “ditador assassino”, “um bandido que está travando uma guerra imoral contra o povo da Ucrânia.” O governo russo respondeu: “O presidente de um país que por muitos anos bombardeou pessoas no mundo inteiro não tem o direito de dar lição de moral à Rússia.” Os Estados Unidos jamais sentarão no banco dos réus da Corte de Justiça e do Tribunal Penal Internacional, embora sejam os maiores carniceiros do mundo.
O fundamental está em que Biden transformou o povo ucraniano em bucha de canhão de sua política de expansão da OTAN, e de cerco militar à Rússia. E Putin se utiliza da bárbara guerra na Ucrânia como escudo de defesa dos interesses capitalistas da Rússia. Sem dúvida, há uma diferença entre a bucha de canhão e o escudo, mas, no fundamental, expressam a guerra de dominação.
A destruição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas está na base do conflito entre os Estados Unidos imperialistas e a Rússia restauracionista. Interessa à potência norte-americana que a Rússia se afunde na Ucrânia, e arque com a responsabilidade mundial de ter realizado destruição e matança. E a Rússia, assim, terá de arcar com a barbárie, porque usou a nação oprimida como escudo. Por meio dos métodos e da política de opressão nacional, não há como vencer os Estados Unidos e sua aliança europeia. Um acordo de neutralidade será provisório, e não evitará o cerco militar, que já é poderoso. As ex-repúblicas soviéticas não deixarão de servir como instrumentos do Ocidente imperialista.
Sem a classe operária organizada e unida contra a ofensiva das potências, não tem sido possível transformar a guerra de dominação em guerra de libertação. A campanha do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional, porém, planta as sementes do internacionalismo proletário, embora marchando na contracorrente dos acontecimentos. Desse confronto mundial, será despertada a consciência entre os explorados sobre a necessidade de construir seus partidos revolucionários. Somente as massas em luta contra a exploração capitalista e a opressão nacional poderão se opor às tendências bélicas do capitalismo em decomposição. Somente a classe operária, lutando pelo socialismo, à frente das massas exploradas, poderá pôr fim às guerras.