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08 abr 2022
Um mês de guerra
O povo ucraniano, os explorados europeus e de todo o mundo arcam com a guerra de dominação
Somente a classe operária unida, sob bandeiras próprias, pode contrapor-se aos interesses da aliança imperialista, e à criminosa ocupação militar da Ucrânia pela Rússia
Massa 661, Editorial, 3 de abril de 2022
A presença de Biden na Europa, no momento que a guerra completava um mês, demonstrou que não havia muito o que fazer. Prometeu mais armas a Zelenski, recursos à Polônia, e reforço às sanções econômicas à Rússia. Aproveitou para militarizar ainda mais os países implicados no cerco à região da Comunidade de Estados Independentes (CEI), ou seja, à Federação Russa. Chamou a atenção que a presença de Biden não despertou grande entusiasmo na classe média, e não teve a função de fortalecer a aliança ocidental europeia.
Que balanço o imperialismo poderia realizar das quatro semanas de guerra? Repisaram-se os argumentos da inesperada resistência ucraniana, tendo à frente o surpreendente “heroísmo” e o “espírito nacional” de Zelenski. Requentaram-se as denúncias de que Putin é um ditador sanguinário, que ataca a ordem mundial do pós-Segunda Guerra. E acalentaram-se as imagens do quadro dramático da Ucrânia em ruínas, das mortes de civis, e da onda de refugiados.
Biden aproveitou uma de suas entrevistas, para conclamar a derrubada de Putin e o estabelecimento da democracia na Rússia. A Casa Branca procurou desfazer essa posição, com o argumento de que os Estados Unidos não agem para derrubar governos de outros países. O que é uma grande mentira, desmentida, por exemplo, pela invasão do Iraque, Afeganistão e Líbia. Biden não tomou esse cuidado, tendo em vista que a Rússia não é uma de suas semicolônias.
É bem provável que as potências europeias não gostaram de tamanha desenvoltura do chefe do imperialismo norte-americano. Mas, esse tipo de bazófia indica mais as dificuldades dos Estados Unidos em garantirem a unidade da aliança europeia, caso a guerra se prolongue. Os seus efeitos econômicos e sociais já estão sendo sentidos pelos países mais dependentes do petróleo, gás, matérias-primas e alimentos. Caso esses impactos se alastrem, e indiquem que vão persistir por muito tempo, a classe operária e as camadas mais pobres da classe média não demorarão para ver que a guerra é de interesse eminentemente dos Estados Unidos.
O difícil período da Pandemia para as massas estava se arrefecendo, quando sobreveio a guerra, e com ela as sanções econômicas, o rompimento de canais comerciais, e a aceleração da alta dos preços das commodities. Não se sabe ainda se Putin conseguirá impor aos europeus o pagamento em rublo do fornecimento de gás. A medida é inteiramente justificável, diante do brutal bloqueio financeiro à Rússia.
No fundo, se encontra a guerra comercial, chefiada pela burguesia e pelo governo norte-americano, voltada sobretudo contra a China, cujos reflexos mundiais se manifestam no choque com a Rússia. A intenção de Biden, de sufocar a principal fonte de divisas da Rússia, instando os países europeus a se livrarem da dependência do petróleo e gás, é de interesse exclusivo dos monopólios petrolíferos, controlados pelos Estados Unidos. O custo é elevadíssimo, para as contas públicas dos Estados europeus e para as massas. Eis por que a presença de Biden no teatro de guerra indicou as dificuldades em manter a aliança imperialista unida por muito tempo.
O fator econômico acabará por obrigar os explorados a reagirem e identificarem os Estados Unidos como o principal interessado na guerra, e reconhecerem o papel subalterno desempenhado pelas principais potências europeias, que não precisavam, neste momento de agravamento da crise mundial, incorporar a Ucrânia na OTAN. Seria mais vantajoso trazê-la para a União Europeia, com a garantia de neutralidade, que poderia ser rompida mais adiante. Eis por que cresce a pressão sobre os Estados Unidos e a Rússia, para que estabeleçam um acordo, o mais rápido possível.
Prologar ou abreviar a guerra, infelizmente, depende apenas das forças burguesas envolvidas na guerra comercial e na escalada militar. Isso por que a classe operária se encontra desorganizada, padecendo da profunda crise de direção revolucionária.
A bandeira dos explorados é a de cessar imediatamente a guerra. O que exige a luta unitária do proletariado pelo desmonte da OTAN e das bases militares dos Estados Unidos, revogação de todas as sanções econômicas, autodeterminação, unidade territorial, e retirada das tropas russas da Ucrânia. Essas bandeiras colocam a tarefa revolucionária de unificar a classe operária sob a política e a estratégia do internacionalismo socialista.
O Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI) vem realizando uma campanha sistemática em torno a esse conjunto de bandeiras e à estratégia da revolução mundial. O que tem exigido de suas seções expressá-las nas condições objetivas de cada país. O fundamental está em vincular as necessidades prementes dos explorados com a luta internacionalista pelo fim da guerra.