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16 abr 2022
Carta às centrais, sindicatos e movimentos
Por um Primeiro de Maio classista e internacionalista
14 de abril de 2022
Teremos, desta vez, um Primeiro de Maio presencial. No ano passado, rejeitamos o Primeiro de Maio virtual. Estávamos certos. As direções sindicais e políticas se valeram das redes sociais, para fazerem discursos demagógicos sobre o crescimento das desigualdades sociais, pobreza, miséria e fome, quando fizeram e faziam acordos de rebaixamento salarial e de demissões, durante toda a pandemia. É bom lembrar as traições das direções dos sindicatos metalúrgicos aos operários da Ford, da LG e de fornecedoras de componentes, que perderam seus empregos com o fechamento de fábricas. A negativa em realizar uma campanha nacional pela estatização das multinacionais, sem indenização, mostrou o quanto os sindicatos estão submetidos aos interesses e decisões dos capitalistas, contrários às necessidades e interesses dos assalariados. Essa conduta política anti-operária se refletiu no Primeiro de Maio virtual.
Agora, a classe operária, os demais trabalhadores e a juventude oprimida não estão em melhor situação. Ao contrário, continuam a pagar caro pelas brutais consequências econômicas e sanitárias do período da Pandemia, que ainda não se encerrou completamente. E enfrentam uma alta insuportável do custo de vida. A combinação do desemprego e subemprego com a disparada inflacionária dos produtos e serviços de primeira necessidade mostra o quanto os capitalistas e seus governantes estão descarregando a crise nacional e mundial sobre as massas trabalhadoras. É do conhecimento público, por outro lado, que os monopólios e o capital obtiveram e vêm obtendo altos lucros. A riqueza ficou mais concentrada nas mãos de poucos; e a pobreza e miséria se expandiram entre a maioria oprimida. Esse quadro social catastrófico resulta das leis de funcionamento do capitalismo e, particularmente, da época de domínio imperialista. Ou os explorados recorrem à luta de classes em defesa própria, ou pagam com a desintegração social crescente.
A céu aberto, espalham-se a indigência e a fome de milhões de brasileiros. Aí vem a pergunta: por que a classe operária tem suportado tanto fechamento de fábricas, tanta demissão, tantos acordos de PDVs e de rebaixamento salarial? Por que aumentam os despejos de famílias de seus casebres? Por que a juventude sofre tanto com o desemprego e subemprego? Por que, então, diante de tamanho horror social, não temos um poderoso movimento operário e popular? Por que os explorados não contam com um programa próprio e unificado de reivindicações? Por que a revolta latente não se transforma em movimento organizado contra a exploração capitalista e a política antipopular dos governantes?
A resposta não é simples, mas pode ser resumida. Porque impera a política de conciliação de classes nos sindicatos, nas centrais e nos movimentos populares e da juventude. Os acordos de fechamento de fábricas, redução da jornada com redução salarial, demissão em massa, por meio de PDVs, afastamento do tipo lay-off, e outras modalidades, resultam em colaboração de classes, que somente favorecem os exploradores.
O fato de direções sindicais terem renunciado a antigas reivindicações, como redução da jornada sem redução salarial, estabilidade no emprego, reposição das perdas e aumento real, e salário mínimo calculado pelo Dieese, é um reflexo do predomínio da política de colaboração de classes. A renúncia do programa de reivindicações elementares levou as direções sindicais a abolirem as campanhas salariais. Abolindo as campanhas salariais, aboliram também as assembleias gerais. No passado, a CUT, mesmo que em palavras, defendia as “campanhas salariais unificadas”. Não restou nada desse passado. Tudo que era classismo foi varrido, passando a predominar a colaboração de classes.
Essa mudança se deve à profunda penetração da política burguesa e pequeno-burguesa nos sindicatos. O PT foi e é a correia mestra de transmissão da política burguesa da colaboração de classes. Isso porque condicionou o sindicalismo ao parlamentarismo, às eleições e às instituições estatais. Mas, não teria tanto êxito, se não contasse com partidos burgueses, como Solidariedade, PSB e PDT. E, também, se não contasse com partidos pequeno-burgueses, como PCdoB, PSOL e PSTU.
Esse conjunto de forças se manteve unido durante toda a Pandemia, aplicando o programa de emergência de Bolsonaro e Congresso Nacional, desviando a luta contra o fechamento de fábricas para acordos de demissão, submetendo-se à frente dos governadores em torno ao isolamento social, transformando o Primeiro de Maio de presencial em virtual e, finalmente, armando as manifestações do Fora Bolsonaro, condicionadas às manobras políticas da oposição burguesa, que pretendia o seu impeachment. Nenhum dos velhos e “novos” partidos da burguesia é capaz de estabelecer as bases da colaboração de classes, como o PT e seus aliados orgânicos ou circunstanciais estabeleceram. Depois do fim do período de isolamento social e da aplicação do programa emergencial, abriu-se o período de pedido de impeachment de Bolsonaro, que concluiu com o encerramento da CPI do Covid. O atual período está voltado às definições eleitorais, marcadas pela polarização entre a candidatura de Lula e a de Bolsonaro.
No período inicial, predominou o conflito dos governadores com o presidente da República e a aplicação do programa emergencial; no segundo, a realização de manifestações pelo Fora Bolsonaro, e, agora, no terceiro, o PT procura potenciar a candidatura de Lula, ampliando sua frente da esquerda para a direita liberal. A constituição da chapa Lula-Alckmin deu a partida para uma frente burguesa mais ampla possível. O Primeiro de Maio, assim, tem tudo para refletir a política de colaboração de classes, que se estendeu por um longo período, se tomado do ponto de vista da luta de classes. Muda-se a forma, mas se mantém o conteúdo.
Esta Carta objetiva combater a subordinação do Primeiro de Maio à política de colaboração de classes, que toma a forma de campanha eleitoral. A posição do POR, de defesa de um Primeiro de Maio classista e internacionalista, portanto, está voltada à luta política pela independência de classe dos explorados, diante dos governantes e das forças políticas da burguesia.
Eis os pontos para um Primeiro de Maio classista e internacionalista: 1) lutar por um programa próprio dos explorados, que tenha por base a defesa dos empregos, dos salários e dos direitos trabalhistas; 2) unificar as greves em andamento; 3) convocar um Dia Nacional de Luta, com paralisações e bloqueios; 4) preparar as condições para a organização da greve geral; 5) responder à guerra na Ucrânia.
Esse último ponto tem particular importância. Trata-se de uma guerra de dominação, e não de libertação do povo ucraniano. Os Estados Unidos e aliado usam a Ucrânia como bucha de canhão; e a Rússia, como escudo para barrar o avanço da OTAN. O POR está empenhado na campanha do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI), que vem lutando pelo internacionalismo proletário, sob as seguintes bandeiras interligadas: pelo fim da guerra, desmonte da OTAN e das bases militares norte-americanas; revogação das medidas de sanções econômico-financeiras; autodeterminação, unidade territorial e retirada das tropas russas da Ucrânia.
Cabe ao Primeiro de Maio tomar para si essas bandeiras que unificam a classe operária russa, ucraniana, europeia e mundial. A luta pelo programa de reivindicações próprio da classe operária no Brasil se fortalecerá com a luta pelo internacionalismo proletário diante da guerra na Ucrânia.
Que as centrais, sindicatos e movimentos convoquem assembleias, para organizar a participação dos explorados no Primeiro de Maio!
Que organizem comitês locais, regionais e nacionais!
Não à política de colaboração de classes!
Não fazer do Primeiro de Maio um palanque eleitoral!
Viva o Primeiro de Maio classista e internacionalista!