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16 abr 2022
Ucrânia
Quanto mais se prolongar a guerra, mais se agravará a barbárie
Massas 662 – editorial, 17 de abril de 2022
Dois fatos se destacaram recentemente. As tropas russas desfizeram o cerco a Kiev, e se concentraram no leste da Ucrânia, na região de Donbass. E as negociações por um acordo de paz foram interrompidas.
A decisão de Putin e seu comando militar, de renunciar à tomada da capital ucraniana, indicou o reconhecimento de que o cumprimento desse objetivo ampliaria e aprofundaria a guerra. E o problema maior seria o de como sustentar a ocupação militar do país.
Os Estados Unidos tudo têm feito, de acordo com as condições políticas na Europa, para que a guerra se prolongue. O sangramento dos ucranianos se converterá na forma de dilaceramento econômico e social da Rússia.
A rachadura na ordem mundial após a Segunda Guerra está aberta, e tende a se ampliar com a necessidade do imperialismo, de manter e avançar a guerra comercial. O melhor para as diretrizes norte-americanas seria se a Ucrânia se integrasse de vez à União Europeia, e se tornasse membro da OTAN, sem que a Rússia reagisse. Se assim ocorresse, os Estados Unidos poderiam concentrar suas forças econômicas, políticas e militares no cerco à China.
A finalização da longa ocupação do Afeganistão e o arrefecimento do intervencionismo no Oriente Médio visavam a essa estratégia. O que foi acompanhada da escalada militar na região do Indo-Pacífico, impulsionada pelo acordo Alkus, entre os Estados Unidos, Inglaterra e Austrália. A criação de uma frota de submarinos atômicos para controlar o Mar do Sul da China, por onde se realiza um poderoso fluxo de mercadorias, pôs às claras as tendências militaristas da guerra comercial, que, por sua vez, tem refletido a ampliação do processo de decomposição do capitalismo mundial.
A China ameaça a supremacia econômica dos Estados Unidos, e tem sido também obrigada a se fortalecer militarmente. A Rússia é importante porque detém vastos recursos petrolíferos e metálicos. Com as ex-repúblicas soviéticas, constitui um potente complexo de recursos naturais. A Ucrânia se tornou um país chave para a penetração do capital financeiro no amplo território, anteriormente controlado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Não bastava ao imperialismo a militarização do Leste Europeu, que se havia passado ao controle da URSS, como resultado da Segunda Guerra, sob a forma de repúblicas populares. Era e é preciso, para os interesses do imperialismo, desmontar a ascendência da Rússia sobre a região.
A Alemanha aproveitou as vantagens comerciais com o desmoronamento da URSS e a aceleração do processo de restauração capitalista na Rússia e no conjunto das ex-repúblicas soviéticas, sobretudo quanto ao gás. Mas os interesses particulares dessa potência econômica europeia acabaram por conflitar com os interesses gerais do imperialismo. Eis por que crescem as pressões para que o governo alemão seja mais ofensivo no apoio à Ucrânia.
Os Estados Unidos e Inglaterra não tardaram em lançar mão de violentas medidas econômico-financeiras, visando a bloquear o fluxo do petróleo e do gás, e, assim, sufocar a economia russa. Concluiu-se que, sem golpear as receitas das exportações de commodities, as demais medidas, por si só, não abalam o governo de Putin, que continua a ter apoio da população. Crescem as exigências de Zelenski, a mando de Biden, para que a Alemanha se livre da dependência energética da Rússia. A União Europeia discute formas de atingir esse objetivo de guerra. Espera-se a eleição de Macron, para ver se é possível obter da Alemanha uma posição mais ofensiva.
Os Estados Unidos estão propensos a enviar armas mais sofisticadas à Ucrânia. A Finlândia e Suécia contribuem com as orientações do imperialismo norte-americano e inglês, acenando com a adesão à OTAN. É sintomático que tenham abandonado a antiga posição de neutralidade. É mais uma indicação de que está esgotada a partilha do mundo da Segunda Guerra, e de que os Estados Unidos, para manterem seu domínio, necessitam das guerras. Não vão poder – por enquanto, é o que tudo indica – transformar a intervenção da Rússia na Ucrânia em guerra europeia, mas a semente está plantada. Aí se encontram as bases das dificuldades em abreviar a guerra e estabelecer um acordo que, mesmo que provisório, suspenda o ingresso da Ucrânia na OTAN, a mantenha desmilitarizada e submetida à órbita de influência russa, como se passa com parte significativa das ex-repúblicas soviéticas.
O problema fundamental se encontra na crise de direção revolucionária. A guerra conduzida por interesses capitalistas divide a classe operária e joga um povo contra o outro. Se não se transformar em uma guerra civil, voltada a constituir governos revolucionários, contra os governos, a classe capitalista e as oligarquias burguesas, não há como vencer o imperialismo e acabar com a opressão nacional. Essa possibilidade inexiste. Mas a vanguarda com consciência de classe tem de trabalhar sob essa estratégia histórica, para dar passos no sentido da superação da crise de direção.
As posições programáticas e o conjunto de bandeiras do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI) estabelecem o caminho seguro do internacionalismo proletário. Lutemos pelo fim da guerra! Lutemos contra a barbárie da guerra de dominação!