• 01 jun 2022

    CHUVAS EM PERNAMBUCO – Burguesia e seu Estado são responsáveis pelas 106 mortes, 16 desaparecidos e mais de 6 mil desabrigados.

CHUVAS EM PERNAMBUCO

Burguesia e seu Estado são responsáveis pelas 106 mortes, 16 desaparecidos e mais de 6 mil desabrigados.

Raiz é a brutal exploração da força de trabalho, concentração da riqueza e miséria das massas.

 1 de junho de 2022

As mortes, desabamentos de barreiras e alagamentos com as chuvas, sobretudo na região metropolitana do Recife (RMR), escancararam a barbárie social e a incapacidade dos governantes de enfrentá-la. Entra ano, sai ano e a burguesia e seus agentes no poder do Estado nada fazem para resolver os problemas de infraestrutura e moradia dos oprimidos. Meses atrás, vimos as consequências das chuvas atingindo o sul da Bahia e Petrópolis. Moradores da RMR sabiam que sua tragédia estava programada para o inverno, mas não contaram com suas direções para se organizar com independência de classe e exigir as condições necessárias de vida, com emprego, salário, moradia e saneamento.

Desde o fim de 2021, são mais de 520 mortes por temporais no Brasil, contando as de Pernambuco. Somente em Petrópolis-RJ, foram 256 mortes. A culpa não é da natureza e, muito menos, dos próprios moradores. Ninguém escolhe morar em área de risco, em área sem saneamento, onde, quando a água sobe, se junta com o esgoto, os ratos e o lixo. A raiz do problema é social, está na brutal exploração do trabalho, na concentração da riqueza em poucas mãos. Quem tem condição financeira pode se abrigar em segurança e conforto. Os apartamentos e casas de alto padrão na beira dos rios não tiveram nenhum morto entre seus habitantes. As mortes se concentram nas favelas e morros, nos bairros operários.

As respostas dos governos são cada vez mais limitadas. Ao mesmo tempo, os efeitos da destruição da natureza que acompanha o modo de produção capitalista, traz novas ameaças. Segundo o relatório do Painel Intergovernamental das mudanças climáticas da ONU, Recife é a capital brasileira que será mais afetada pelas mudanças climáticas e avanço do nível do mar. A capital pernambucana consta entre as 16 cidades mais ameaçadas do mundo, não apenas por estar ao nível do mar, mas também por sua desigualdade social extrema. Não por acaso, é a capital mais desigual do país. Não faltam estudos sobre os problemas de urbanização do Recife, nem mesmo formas de mitigar alguns de seus efeitos. Porém, a burguesia é uma classe esgotada historicamente, não tem como garantir emprego e salário que garantam as necessidades vitais da maioria oprimida. E não vai aplicar a avançada ciência para salvar a vida das massas.

Entre as ações “preventivas” dos governos municipais, estaduais e federal, que não chegam a todos, estão: lonas nas barreiras; muros de arrimo; auxílio moradia no valor de R$200,00, para os miseráveis buscarem outra casa e cadastrarem-se à espera de construção de casas populares. Assim, apesar de todo o avanço tecnológico aplicados à engenharia e arquitetura, o que os capitalistas têm a oferecer aos explorados são medidas que mantêm a maioria sob o medo do desabamento e um auxílio aluguel de miséria, o que obriga as famílias a permanecerem nas casas, por não terem para onde ir.

Em 2010, houve uma enchente na mata sul que atingiu algumas cidades da região. O governo prometeu cinco barragens para conter as águas dos rios e abastecer os centros urbanos. A população ainda enfrenta o problema da falta de água. Das barragens prometidas, o governo concluiu apenas uma em 2017. Ou seja, permanecem as enchentes e a falta de água.

De 2013 a 2021, houve uma queda brusca nos investimentos habitacionais da Prefeitura de Recife, de R$14,4 milhões para R$61,9 mil. Além disso, caíram também os gastos com urbanização de áreas de risco em relação aos gastos totais. A prefeitura gastou, nos últimos nove anos, R$452 milhões para recapear e tapar buracos, enquanto destinou para urbanização de áreas de risco apenas R$152,5 milhões. Gastou-se mais com propaganda (R$142 milhões), nos últimos três anos, do que com áreas de risco (R$84,8 milhões).

O peso da decomposição do sistema capitalista está sendo descarregado integralmente sobre a costas da maioria explorada.  São os explorados que sofrem os efeitos das chuvas, são os que arcaram com mais mortes e sequelas pela pandemia, são os que amargam com o desemprego e as aplicações da reforma trabalhista, que feriu direitos e salário, e da previdência, que dificulta a aposentadoria, aumentando o tempo de exploração. Para piorar, é a classe operária e demais oprimidos que estão pagando pelas sanções da guerra na Ucrânia, com elevação dos preços de alimentos, combustíveis, água e energia. Neste quadro de destruição da economia mundial, as famílias atingidas pelas chuvas terão ainda mais dificuldades de refazer a vida após o desastre das chuvas. O que vai exigir uma luta unitária das massas em defesa das condições de vida, emprego, salário, direito, moradia, saúde e educação.

 

Defender os desabrigados com independência de classe – Nenhuma ilusão na burguesia e seus governos

A burguesia, sua imprensa e os órgãos do governo apelam pela solidariedade e doações para “amenizar” o sofrimento das famílias desabrigadas. Mas, não cumprem as obras necessárias para evitar que as chuvas continuem castigando os oprimidos. As centrais, sindicatos e movimentos, assim como fizeram na pandemia, no lugar de organizar a luta em defesa das condições de moradia, que é parte da defesa dos empregos e salários, são arrastados pelas campanhas assistencialistas – apontam como “medida emergencial”, mas foram incapazes de convocar plenárias unificadas e organizar os explorados para a luta em defesa de um plano emergencial, que expresse independência política e organizativa em relação aos governantes e à burguesia.

As correntes e os governos aproveitam deste momento para impulsionar a disputa eleitoral. Reformistas têm exaltado as ações passadas das prefeituras do PT. Assim, iludem a maioria sob as promessas de resolver a situação das mudanças climáticas e o avanço das enchentes nos marcos do capitalismo, com gestão e políticas públicas. Candidatos do PCB fazem coro às soluções gerenciais, reforçando as ilusões democráticas. Bolsonaro visitou Recife alagada e atingidas pelas mortes, para discursar sobre o seu “auxílio emergencial” e “Auxílio Brasil”, que não passam de esmolas. Não escondeu seu objetivo eleitoral. Não podemos confiar na solução dos problemas da falta de saneamento básico e estrutura dos bairros pobres trocando um governo burguês por outro. Já está mais que provado que virão todos os tipos de promessa, mas, no final, os governos só trabalham para garantir os interesses da burguesia, uma minoria que sobrevive parasitando sobre o aumento da exploração do trabalho da maioria oprimida.

Por enquanto, as prefeituras e governo do estado cedem as escolas, mas para onde vão os 6 mil desabrigados quando pararem as chuvas? O que garantirá às famílias terem de volta suas casas?  Ao passar o período caótico, as famílias precisarão desocupar as escolas e espaços cedidos como abrigos provisórios, os governos municipais e estaduais fazem cadastros prometendo a construção de casas – os moradores reclamam, que preenchem cadastros que não servem de nada, pois estes projetos atendem a uma ínfima minoria, sobretudo a que tem condição de pagar as parcelas. A imprensa burguesa vai parar de falar do saldo de desabrigados, até que chegue o próximo inverno chuvoso. Assim, estas famílias serão obrigadas a voltar às áreas de risco ou, a somar o quadro crescente de moradores de rua, que, pelos dados do CENSO SUAS, só de 2012 a março de 2020 cresceu 139% – com a pandemia e avanço do desemprego, este número certamente aumentou significativamente. Por isso, as bandeiras dos sindicatos, centrais, movimentos sociais e lideranças de bairro devem ser de moradia, emprego e salário, que atendam todas as necessidades de uma família.

Defendemos, emergencialmente, a ocupação de imóveis fechados e hotéis, para acomodar.oa desabrigados. Exigimos obras públicas para reformar imóveis desocupados, voltados à especulação imobiliária, urbanizar os bairros operários e construir moradias populares. Não faltam braços dispostos ao trabalho. Não falta coisa para limpar, construir e fazer a manutenção. Que a riqueza produzida pelos trabalhadores seja utilizada em nosso próprio proveito, para garantir moradia digna, e não para sustentar o luxo dos patrões.

O caminho da luta em defesa dos salários, empregos e direitos está sendo mostrado pelos operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que lutam contra as demissões, pelos salários e direitos políticos de organização independente. É preciso relacionar os ataques aos salários aos crimes da burguesia que condenam à morte a maioria, que mal consegue ter uma casa para morar, e, quando consegue, é nas regiões esquecidas pelos governos, sujeitas a todo tipo de alteração climática.

Diante disso, que as centrais sindicais e sindicatos defendam urgentemente a vida dos desabrigados, vinculando às reivindicações gerais dos explorados, sem nenhuma ilusão em promessas da burguesia e seus governos. Que mostrem aos afetados pelas chuvas e aos demais explorados o caminho da organização e levantes coletivos. Que convoquem as plenárias unificadas. Que constituam os comitês de luta. Que levantem as reivindicações, que vão além dos dias de calamidades sentidas pelas chuvas. Que convoquem e construam um dia nacional de luta, com paralisação geral das fábricas, escolas, serviços públicos – sob a unidade de empregados, desempregados e estudantes – que os explorados tomem as ruas sob as bandeiras de: moradia, empregos, salários e direitos.