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22 ago 2022
Seis meses da guerra na Ucrânia
A responsabilidade do agravamento da crise recai sobretudo aos Estados Unidos
Massas 671, editorial, 21 de agosto de 2022
A guerra na Ucrânia ao contrário de arrefecer, recrudesceu. O acordo de liberação das exportações de grãos da Ucrânia não representou uma distensão, como foi apresentado pelo negociador da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e o secretário-geral da ONU, António Guterres. Recentemente, os dois negociadores da “paz” se reuniram com o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, para discutir como “evitar um acidente nuclear na Usina de Zaporizhzia”. Pretendem a desmilitarização da área conflagrada pela guerra. Evidentemente, Putin não pôde aceitar, uma vez que os soldados russos teriam de recuar de uma importante posição conquistada logo no início do confronto.
Zelenski aproveitou para exortar o imperialismo a “garantir a segurança” da usina nuclear. É mais do que sabido que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) é controlada pelos Estados Unidos. O risco dos bombardeios de ambos os lados provocarem uma nova tragédia atômica, como a de Chernobyl, em 1986, de fato, é real. A responsabilidade não será apenas da Ucrânia e da Rússia, mas sobretudo dos Estados Unidos e de sua aliança imperialista.
A guerra se vem prolongando, graças ao financiamento e ao armamento sofisticado recebidos pelo governo pró-OTAN de Zelenski. Há muito ficou clara a estratégia norte-americana de prolongar a guerra o máximo possível para esgotar as condições militares, econômicas e políticas da Rússia. O aumento da capacidade destrutiva dos armamentos recebidos pelas Forças Armadas da Ucrânia tem sido decisivo, como vem sendo demonstrado diante dos ataques sofridos pelas posições russas, não só na região de Donbass como também na Crimeia.
A decisão do Ministério da Defesa da Rússia de enviar aviões carregados de mísseis hipersônicos para Kaliningrado, território localizado entre a Lituânia e a Polônia, também é um indicador de que a guerra recrudesce, em vez de arrefecer e caminhar para uma solução. Essa medida, segundo o governo russo, é uma resposta ao fato da Finlândia e da Suécia decidirem vincular-se à OTAN. A notícia de que esse armamento pode carregar bomba atômica de baixa intensidade reflete a situação em que a guerra na Ucrânia tem por detrás e à sua volta a ofensiva norte-americana de cercar e debilitar a Rússia.
Nota-se que o alerta emitido pelo secretário-geral da ONU, sobre os riscos nucleares da guerra na Ucrânia, não passou de palavreado, uma vez que teve e tem por objetivo afastar as tropas russas da Usina Zaporizhzia, valendo-se de uma inspeção da AIEA. O risco existe de fato, mas somente será tratado com seriedade se ficar exposta a responsabilidade dos Estados Unidos e aliados.
A inclusão da Finlândia e Suécia na OTAN demonstra a completa despreocupação do imperialismo com o prolongamento da guerra e seus riscos para a humanidade. Não há como, por outro lado, desvincular a escalada bélica na Ásia do que se passa na Europa com a guerra na Ucrânia.
A provocação da visita da presidenta do Congresso dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan, foi muito bem planejada, apesar do presidente da República, Joe Biden, afirmar que não a havia recomendado. Mesmo tendo claro que a aliança da China com a Rússia diante da guerra na Ucrânia era pouca ofensiva à estratégia norte-americana na Europa, Biden não aguardou e não aguarda o fim do conflito para retomar abertamente a investida contra a China. Assim, Taiwan se destacou como mais um dos pontos fundamentais da política de guerra dos Estados Unidos, como tem sido a Ucrânia. A cúpula de Madri, realizada pela OTAN, corresponde a uma escalada militar na Europa e Ásia. A mesma atitude de armar a Ucrânia contra a Rússia, se repete no armamento de Taiwan contra a China.
As tendências bélicas impulsionadas pelo imperialismo são gestadas em meio à guerra comercial. O capitalismo vem sendo sobressaltado de crise em crise. A mais contundente do pós Segunda Guerra Mundial foi a de 2008, cujo epicentro da eclosão se manifestou justamente na maior potência, os Estados Unidos. De lá para cá, os desequilíbrios aumentaram.
Nessas condições, a potenciação econômica da China passou a ser um obstáculo à manutenção da absoluta hegemonia norte-americana, ainda que o processo de restauração capitalista, promovido pelo Partido Comunista Chinês, tenha favorecido às multinacionais. Tanto a Rússia quanto a China têm de ceder aos interesses do capital financeiro e dos monopólios, que se chocam com as fronteiras nacionais que resultaram da partilha do mundo na Segunda Guerra Mundial.
A decomposição internacional do capitalismo não mais permite conservar o equilíbrio de forças, que estabeleceu a nova ordem do pós-guerra. As forças produtivas altamente desenvolvidas estão em franco choque e rebelião contra as relações capitalistas de produção da época imperialista. Em outras palavras, estão mais do que amadurecidas para ceder lugar ao socialismo.
A classe operária e os demais explorados arcam com todo o peso do esgotamento histórico do capitalismo, na forma do desemprego, subemprego, desvalorização da força de trabalho, miséria e fome. As consequências da guerra na Ucrânia sacrificam ainda mais as condições de existência das massas oprimidas. A resistência vem ocorrendo, por meio de greves e levantes. No entanto, ainda são moleculares e não se elevaram à altura de responder à guerra na Ucrânia e à escalada militar na Ásia. Mas, é questão de tempo para que as massas despertem diante dos perigos de uma guerra generalizada.
Não se pode perder de vista que o obstáculo principal responsável pela ausência de um movimento internacional contra a guerra de dominação se encontra na crise de direção. As direções sindicais e políticas, que controlam os organismos dos explorados, se acham completamente adaptadas aos interesses da burguesia e do próprio imperialismo.
Durante esses seis meses de guerra na Ucrânia, o Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional tem desenvolvido uma campanha sistemática pelas bandeiras: pelo fim da guerra; desmantelamento da OTAN e das bases militares norte-americanas; revogação das sanções econômicas e financeiras à Rússia; autodeterminação, integralidade territorial e retirada das tropas russas da Ucrânia; Fora os Estados Unidos e OTAN da Ásia!