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24 maio 2023
Medidas punitivas e de conscientização não são capazes de eliminar a opressão racial
Nesse domingo (21), a sequência de ataques racistas que o atleta brasileiro Vinícius Jr. sofreu no campeonato espanhol de futebol da La Liga causou imensa comoção e repercutiu nas redes sociais. Ligeiramente, artistas, clubes de futebol, colegas de profissão, instituições, movimentos populares, políticos, dentre outras entidades, por meio de notas públicas, prestaram solidariedade ao jogador e expressaram revolta pela conivência da direção do campeonato, clube do jogador vitimado e governo espanhol de não se pronunciarem e acionarem medidas imediatas de punição aos torcedores que, em coro, xingavam Vinícius de ‘macaco’ antes e durante o jogo. Dentre outros apontamentos presentes nas notas de repúdio são recorrentes: a inconformidade com a perpetuação do racismo, expresso, por exemplo, no pronunciamento de Lula à TV Brasil nesta segunda-feira: “Não é possível que quase no meio do século XXI a gente tenha o preconceito racial ganhando força em vários estádios de futebol na Europa.” Ou cobrando medidas punitivas a mais um caso de racismo.
Mas, porque mesmo após a criminalização do racismo e injúria racial, rechaço a discursos de ódio, campanhas educativas de conscientização, dentre outros recursos, para erradicação dessa opressão, o racismo continua enraizado e constantemente operante das mais cruéis formas? A quem interessa o não avanço na consciência das massas de que esses métodos por si só não são capazes de pôr fim ao racismo? Por que perguntas cínicas, como “Até quando?”, ressoam no discurso de organizações políticas que supostamente deveriam dar resposta ao problema? Por que, casos como o do jovem negro Vinícius, principal jogador do clube, se demorou mais de 24h para ocorrer um pronunciamento de condenação, não levam à reflexão de que ascensão social, financeira e representatividade nos espaços de poder e decisão não isenta pessoas negras de sofrerem ataques racistas e muito menos elimina essa opressão?
Para responder essas contradições, o Partido Operário Revolucionário reivindica a política proletária como método para o fim da opressão racial. O racismo é histórica, estrutural e essencialmente uma manifestação da opressão de classe. Esse fato é ocultado pelas organizações reformistas que se reivindicam antirracistas, porque se propõem a contornar as mazelas do racismo dentro do sistema capitalista. O “antirracismo burguês e pequeno-burguês é hipócrita porque se indigna com casos como esse, mas ignoram completamente e até apoiam as medidas dos governos burgueses que atacam a condição de vida da maioria preta e pobre do país, como as contrarreformas trabalhista e previdenciária. A sociedade de classes determina as relações de poder e submete a massa trabalhadora negra ao subemprego, desemprego, condições miseráveis de existência com a violência policial e encarceramento em massa, dentre outras atrocidades, expondo a necessidade de superação do modo de produção capitalista, que orquestra as mais diversas formas de opressão, para superação do racismo.
A democracia burguesa com seus recursos legislativos e parlamentares é incapaz de promover até mesmo o que se propõem a fazer: reparação histórica, punições e educação. Basta olhar para a perpetuação de casos como esse e novas roupagens da escravidão, agora assalariada, e com medidas punitivas e de conscientização que, por si só, não elevam a consciência da sociedade a quão nefasto são os chamados crimes de ódio, que, na realidade, são manifestações raciais da sociedade de classes, que determinou, por razões puramente econômicas, que o branco é superior ao preto.
É urgente que se levante a bandeira de independência organizativa dos movimentos sindicais, estudantis e populares, não nutrindo a ilusão de que é possível superar as opressões dentro da democracia burguesa, com seus recursos, hastags e frases de efeito. Apontar o caminho da unidade e organização das massas oprimidas por meio da política proletária revolucionária em torno de suas reivindicações cotidianas, vinculando essas reivindicações às tarefas estratégicas da revolução proletária, ou seja, com a plena consciência de que somente com o fim do modo de produção capitalista, o reacionário e odioso racismo será erradicado.
O movimento negro brasileiro (MNU, Colisão Negra) está totalmente comprometido com o governismo, ou seja, comprometido com a política burguesa, e, por isso, não pode responder de forma consequente ao racismo. Não pode combater a opressão racial com o programa e as formas de luta próprios da classe operária. Não pode levantar as bandeiras que unem a maioria oprimida e podem movimentar as massas para um combate consequente à opressão racial: fim de toda opressão de classe! Trabalho igual, salário igual! Emprego a todos (escala móvel das horas de trabalho)! Aumento geral dos salários, por um salário-mínimo vital, suficiente para sustentar uma família trabalhadora! Abaixo às contrarreformas que massacram a maioria preta e pobre do país!
O que ocorreu com Vinícius Jr. é o cotidiano de milhões de negros no Brasil, nos Estados Unidos e na maioria dos países. Eis por que os ataques racistas de brancos opressores e reacionários devem ser respondidos imediatamente com a organização do movimento coletivo de massas, que seja capaz de unir os explorados negros e brancos contra o capitalismo arcaico e o Estado burguês putrefato. No momento em que a maioria oprimida lutar e elevar a consciência de que o racismo será banido na sociedade socialista, a classe operária estará à frente do combate pela sua própria libertação da escravidão assalariada.
Nenhuma concessão ao racismo!
Não à hipocrisia das instituições e autoridades burguesas!
Tomemos em nossas próprias mãos a luta antirracista como parte da luta anticapitalista!