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18 set 2016
18 de setembro
O processo de impeachment ressuscitou a bandeira de unidade das esquerdas. Com a derrubada definitiva de Dilma Rousseff e a posse definitiva de Michel Temer, a discussão se ampliou. Não haveria mais justificativa para não se atuar conjuntamente contra o governo golpista, que pôs em andamento uma série de medidas antinacionais e antipopulares.
A noção de unidade das esquerdas agora é mais larga e laxa. O PT e PCdoB, seu fiel aliado, voltaram a ser recolocados nessa categoria. Até ontem eram governistas. Estavam juntos no governo de Lula e de Dilma Rousseff. Foram responsáveis pela aplicação de medidas antinacionais e antipopulares (privatizações, pagamento de altos juros aos credores da dívida pública, reforma da previdência, quebra de direitos, etc.).
É verdade que há quem os mantinha como parte das esquerdas, diferenciando o governo petista como “progressivo”, “popular” ou equivalente. Há inclusive quem justificou seu apoio a Dilma por considerar seu governo melhor do que o que viria com o golpe. E houve quem justificasse o não apoio por considerá-lo igual a todos os governos. Mas, agora, novos contornos são acrescentados a essa categoria conceitual. O PT já não tem o poder do Estado, embora continue fazendo parte dele. E está sendo perseguido pelo aparato judicial e policial. O que de fato mudou, no entanto, é a situação política e não o caráter político do PT e PCdoB.
As esquerdas não governistas também sentiram o impacto das mudanças. O PSOL se reaproximou do PT. O PSTU sofreu uma importante cisão, com a fração do MAIS se aproximando do PSOL. A constituição da frente Povo Sem Medo serviu de diferencial organizativo da Frente Brasil Popular. É bem possível que no interior do PT se desenvolva o fracionismo, a depender do baque eleitoral e do grau de adaptação da fração majoritária ao governo golpista. Nota-se que, ao mesmo tempo em que se projeta a bandeira de unidade das esquerdas, cresce o divisionismo no seio das organizações. O MAIS surgiu em nome da rejeição ao sectarismo e da unidade das esquerdas (“nas ruas e nas urnas”).
Esse novo quadro que ainda deve sofrer alterações tem uma particularidade: há agora um inimigo comum, o governo golpista. Assim, todo o esforço frentista deve nele se concentrar. Em geral, tem sentido. Temer expressa a necessidade da burguesia, em especial do capital financeiro, de ir fundo no ataque às massas e no entreguismo, que o governo do PT mantinha a meio caminho. Um amplo movimento massivo e unitário para combater e derrubar as medidas antinacionais e antipopulares está posto pela nova situação. Qualquer ação contrária a essa luta é pró-governo golpista. Converte-se em favor da consolidação do golpe de Estado.
No entanto, não é essa unidade das esquerdas e dos movimentos que se está constituindo. Mas sim a de elevação da bandeira de “Eleições Já” ou “Eleições Gerais”, que tem dado o conteúdo estratégico do “Fora Temer”. A unidade das esquerdas em torno do “Fora Temer”. “Eleições Já” (ou “Eleições Gerais”) é uma unidade no campo da oposição burguesa, dirigida pelo PT e PCdoB. É preciso que vanguarda classista rechace a frente oposicionista burguesa e defenda a frente única operária e camponesa, das massas exploradas e oprimidas, contra as medidas antinacionais e antipopulares e voltada a pôr abaixo o governo golpista pela ação revolucionária das massas.
É com essa linha que se devia atuar no processo de impeachment, como fez o POR, e é com ela que se deve atuar sob o governo golpista, considerando as novas particularidades da crise. A defesa de uma frente única da classe operária e da maioria explorada não pode desconhecer que a demissões massivas e a elevação do desemprego não apenas têm sido postas de lado, como os sindicatos têm colaborado selando acordos de PDV e flexibilização trabalhista.
A conduta da burocracia sindical cutista de acompanhar a burocracia forcista em seu esforço de aproximação como o ministro do Trabalho é contrária à unidade classista dos explorados. Em nome da unidade das esquerdas, tem-se evitado atacar abertamente a colaboração de classes, que comparece concretamente nos acordos com as montadoras e na boa vizinhança com o ministro do Trabalho. As manobras políticos-sindicais que se fazem diante das demissões é um crime que se comete contra os assalariados. É necessário combatê-las para alcançar a unidade frentista dos explorados contra a burguesia e seu governo golpista.
Desde maio, a CUT acenou com a greve geral. Mas o que se tem feito é sacrificar os interesses gerais da classe operária costurando acordos de PDV, lay-off e PPE. A cisão do movimento em manifestações de dias distintos – 22 e 29 de setembro – é um mau sinal para a organização de uma verdadeira greve geral. Há o risco do PT e da burocracia sindical canalizarem o descontentamento crescente dos explorados para a estratégia de oposição burguesa.
O POR chama a vanguarda e as correntes de esquerda a constituírem uma fração de combate pelo programa proletário e pelos métodos de luta dos explorados. Por uma frente única sindical e política, operária e camponesa, em defesa do programa de reivindicações da maioria oprimida e de combate ao governo golpista de Michel Temer.