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09 out 2023
Os meios de comunicação mundiais e a maioria dos governos apresentam de forma cínica e hipócrita a incursão da organização Hamas em Israel como um ato terrorista, como uma agressão. Os bandidos condenam este ato sem dizerem uma palavra sobre os contínuos atos terroristas, a violação brutal e sistemática dos proclamados “direitos humanos”, o abuso, a prisão ou o assassinato de homens, mulheres e crianças por parte de Israel, que conta com um dos exércitos mais poderosos do mundo e impõe uma política de verdadeiro apartheid à população não-judia.
O atual nível de beligerância do conflito entre palestinos e israelenses é o corolário de todas as ações de pressão sobre a população palestina, que as autoridades sionistas de Israel vêm executando de acordo com o imperialismo norte-americano e alimentados pelo reconhecimento, por parte de Trump, de Jerusalém como capital oficial e única do Estado de Israel e o incondicional apoio de Biden.
Ninguém diz que durante décadas a ONU apelou a negociações para reconhecer a autodeterminação da Palestina, para ter o seu Estado e que essas resoluções e condenações contra Israel são permanentemente ignoradas. A violência caracteriza toda a história da Palestina, desde o momento em que o seu povo foi privado do direito à autodeterminação nacional.
Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou a Resolução 181, que pôs fim ao Mandato Britânico da Palestina (em vigor desde 1920) e apelou à criação de um Estado palestino e outro para os judeus, assim dividindo a Palestina. Em 14 de maio de 1948, David Ben Gurion proclamou o nascimento do Estado Judeu. Egito, Jordânia, Líbano, Iraque e Síria declaram guerra a Israel. O conflito durou até julho de 1949.
Os ataques do Hamas são uma resposta à política terrorista de conquista e usurpação territorial que o regime israelita, agindo em cumplicidade com os Estados Unidos e as potências da Europa, tem perpetrado contra o povo palestino. Agora, a Europa já se apressou em cortar toda a ajuda à Palestina. Os Estados Unidos anunciaram o envio de ajuda militar adicional a Israel.
As brigadas Al Qasam, o braço militar do Hamas, que lançaram um ataque surpresa, contra o Estado sionista de Israel, não têm capacidade logística, nem armamento suficiente para derrotar militarmente o exército israelense, que conta com o apoio do imperialismo norte-americano. A inteligência militar de Israel é perfeitamente consciente dessa realidade. Por seu lado, o Hamas proclamou que os objetivos políticos do ataque foram alcançados, pondo em evidência que tem capacidade de burlar a vigilância da inteligência israelense.
O Hamas, desde 2007, governa a faixa de Gaza e tem uma grande influência na Cisjordânia. Um dos objetivos do Hamas com esse ataque, é obter também o controle do governo na Cisjordânia, além de boicotar o anunciado acordo de paz entre a Arábia Saudita e Israel. O que, na realidade, é uma traição da feudal burguesia árabe à causa palestina. O Hamas é a organização que depois da primeira intifada (levante insurrecional palestino em 1987) se colocou como direção das rebeliões populares na região. Essa organização político-militar não constitui um partido operário, se declara jihadista, nacionalista e islâmico, e proclama como seu objetivo alcançar a libertação da Palestina e criar um Estado palestino independente, e assim, se compromete a lutar contra a ocupação israelense por todos os meios.
Este fato coloca, mais uma vez, em primeiro plano as condições de submissão de um povo e a impossibilidade do capitalismo na sua fase de decomposição poder resolver pacificamente uma reivindicação histórica. A coexistência com o Estado terrorista é impossível.
Não se pode ficar surpresos, não se pode considerar inesperada qualquer reação de um povo encarcerado na maior prisão a céu aberto do mundo. É o mínimo que se pode esperar de um povo subjugado e submetido às piores condições. A Palestina não tem um exército regular, não pode ser obrigada a travar uma guerra regular, porque simplesmente não tem condições para realizá-la. Os opressores, que praticam o terrorismo a partir dos seus Estados, querem dar uma lição de moral àqueles que tiveram seus direitos arrancados, dizendo a eles como defendê-los.
Não vamos especular, como faz um setor da imprensa, se esta intervenção do Hamas convinha a Netanyahu e ao seu governo de extrema-direita, para obter algum apoio da sua população, depois de meses de mobilizações contra ele, por querer proteger-se das acusações de corrupção que o cercam. Ou, então, porque acreditavam que nunca poderia acontecer que as milícias palestinas pudessem quebrar o muro e as fortificações israelenses, que os serviços de inteligência, os mais preparados do mundo, antecipassem sempre qualquer ataque e o desmantelassem de forma sangrenta antes que acontecesse. Estas falhas de inteligência e segurança são provavelmente o produto da crise política prolongada por que passa Israel.
Em dezembro de 2022, Netanyahu retomou as suas funções de primeiro-ministro à frente do governo mais religioso e ultranacionalista da história de Israel, prometendo dar prioridade à expansão da colonização dos territórios palestinos da Cisjordânia. Esse é o ponto fundamental a ser considerado.
O cambaleante e desacreditado governo de extrema direita de Netanyahu aproveitará o ataque do Hamas para conseguir a unificação interna e o apoio internacional. Com o aval dos Estados Unidos e Europa, a resposta das autoridades sionistas de Israel tem sido bárbara: vêm executando um massacre, um genocídio, procurando exterminar a população palestina, sob a justificativa de que esta não é uma “guerra convencional”, perante a qual se podem aplicar os tratados internacionais, mas sim que se trata de uma guerra contra o “terrorismo”. Dessa maneira, a declaração de guerra serve aos objetivos expansionistas do Estado sionista. A urgência de apresentar os verdugos como vítimas é parte da estratégia do imperialismo para assegurar o apoio internacional à presença de um enclave que serve aos seus interesses, que são os interesses do capital financeiro imperialista, principalmente o norte-americano, na região do Oriente Médio.
Rechaçamos os argumentos pacifistas e covardes daqueles que julgam esta ação negativamente, porque prejudicaria as negociações ou provocaria enormes represálias contra o seu próprio povo, incluindo uma invasão de terras por Israel. Já está ocorrendo os bombardeios sobre Gaza, que causaram mais de 600 mortos. Além disso, Israel cortou completamente o fornecimento de eletricidade, alimentos e combustível a Gaza. Rechaçamos a justificativa de que ação do Hamas permite que setores mais à direita entre os direitistas imponham um rumo militar mais agressivo. Os habitantes de Gaza escolheram o Hamas como seu governo desde 2007, precisamente pela sua atitude combativa face ao cerco dos carcereiros. Uma atitude completamente diferente da assumida pela Autoridade Palestina.
As denúncias dos palestinos incluem o longo cerco a Gaza, que se acha sitiada. O que demoliu sua economia interna. E que agora o Estado de Israel impõe o bloqueio ao longo da fronteira separada por uma cerca, impedindo a permissão para 20 mil explorados irem trabalhar em Israel.
A Cisjordânia sofre uma ocupação militar juntamente com o roubo permanente dos seus territórios e reservas de água por colonos judeus supremacistas. Em julho, a Autoridade Nacional Palestina suspendeu todos os contatos e cortou a colaboração de segurança com Israel, num gesto de rejeição à expansão das colônias e a uma ofensiva militar israelense no campo de refugiados de Jenin. A isto acrescenta-se o grave aumento da violência na Cisjordânia, ocupada contra os seus vizinhos palestinos por parte dos colonos residentes em colônias consideradas ilegais pela maioria dos governos ocidentais. Os colonos atuam como esquadrões da morte, com a cumplicidade do governo israelense, assumindo a tarefa de aterrorizar os habitantes originais das terras que estão sendo roubadas.
Oficialmente, nos territórios invadidos por Israel, as Forças Armadas daquele país causaram a morte de 6.407 palestinos entre 1º de janeiro de 2008 e 19 de setembro de 2023, e 152.560 sofreram ferimentos de gravidade variável. As vítimas israelenses nesse período foram 308 mortos e 6.307 feridos. Só este ano, 36 crianças palestinas já foram mortas na Cisjordânia, num dos anos mais sangrentos. Há denúncia da “profanação” da mesquita Al-Aqsa em Jerusalém por colonos israelenses de extrema-direita.
As mortes de civis devem ser sempre lamentadas. Mas devemos compreender o que realmente aconteceu. Repudiamos as declarações dos governos e dos partidos patronais, lacaios dos Estados Unidos, sempre contra a luta popular. E de todos os meios de comunicação dominados pelo imperialismo.
A luta internacional pela causa palestina foi enfraquecida principalmente devido ao seu abandono pelos governos árabes e islâmicos, esta é uma questão fundamental que deve ser denunciada. O governo do Egito informa que teria avisado Israel sobre o ataque massivo que se avizinhava.
É necessária uma política comum dos oprimidos em todos os países da região, lutando pelas suas reivindicações elementares, por desarmar e expulsar o imperialismo, acabar com as multinacionais, socializar os grandes meios de produção, de forma que todos os recursos possam ser usados para resolver os problemas, os principais problemas e, sobre essa base, estabelecer um Estado Palestino comum e único, como uma república socialista, destruindo o Estado Sionista.
Diante do poder armado pelo Estado sionista e pelo imperialismo, está colocada a tarefa de armamento das massas palestinas e dos explorados árabes. Somente o proletariado organizado e em luta tem como pôr fim à guerra e à opressão nacional.
Outros conflitos militares na região mostram como a guerra se espalha e tende a tornar-se cada vez mais generalizada. A classe operária deve assumir a luta para acabar com as guerras com suas próprias mãos, dirigindo a sua luta para acabar com o militarismo, acabar com a dominação imperialista e seu objetivo de impor uma nova ordem mundial que substitua a que está em processo de desmoronamento.
Em todos os lugares, se manifesta dramaticamente a necessidade de uma direção revolucionária, independente das frações burguesas e pequeno-burguesas em disputa.