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24 set 2023
Editorial do Jornal Massas nº 698
Quadro de agravamento da crise mundial
O problema fundamental se encontra na crise de direção
Uma sucessão de acontecimentos e um ritmo mais acelerado dão a dimensão, de um lado, das dificuldades de a burguesia em conter seus conflitos que se ampliam em toda parte e, de outro, da crise direção do proletariado. No epicentro da crise mundial, a guerra na Ucrânia, que adentra o décimo nono mês, continua vigente. A dissenção entre os Estados Unidos e a China, em vez de atenuar, se agrava. Na Europa, se estampa o cansaço com a guerra na Ucrânia e o descontentamento das massas que arcam com suas pesadas consequências sociais. Nos Estados Unidos, a população se opõe cada vez mais aos gastos bilionários, para sustentar a guerra na Ucrânia sem perspectiva de solução, emerge um importante movimento grevista e, nesse marco, se acirra a disputa eleitoral entre republicanos e democratas e se projetam os fatores da profunda crise econômica. Na África, golpes de Estado assumem características de rebeldia diante do imperialismo e se gestam tendências de guerra entre os próprios países oprimidos. Na Ásia, a escalada militar vem sendo impulsionada sob as condições de agravamento da guerra comercial. No Oriente Médio, as forças em conflitos se realinham motivadas pelos reflexos da guerra na Ucrânia e pelos choques econômico-comerciais entre Estados Unidos e China. Na América Latina, os governos democratizantes, moldados pela caricatura do nacional-reformismo, se mostram impotentes para amenizar as contradições do capitalismo em decomposição; e as variantes burguesas de direita e ultradireita trabalham para retomar a ofensiva perdida no último período.
Os Estados Unidos se movem como uma potência em declínio, que têm de sustentar a hegemonia alcançada após a Segunda Guerra, valendo-se de seu poderio militar e de sua aliança imperialista, que tomou forma com a guerra na Ucrânia, tendo como braço armado a OTAN, aliança que até certo ponto vem se estendendo à Ásia. A guerra na Ucrânia evidenciou a necessidade de as forças econômicas do imperialismo penetrarem, ampla e profundamente, no território da Eurásia, onde se assentava a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que se desintegrou dando origem a várias caricaturas de Repúblicas burguesas, e submeterem a Rússia que emergiu do processo de restauração capitalista. A guerra comercial que vem se desenvolvendo desde o Oriente, com a potenciação econômica da China, que também sucumbiu ao processo de restauração capitalista, por sua vez, evidenciou a mesma necessidade das forças econômicas do imperialismo de inviabilizarem uma nova potência concorrente, capaz de dirigir seus próprios negócios à margem dos ditames dos EUA.
A elevação da China, em meio às relações capitalistas de produção e distribuição, à condição de potência econômica vem alterando a ordem mundial do pós-guerra e colidindo com a hegemonia norte-americana. Não por acaso, a Rússia e a China, cujas revoluções proletárias haviam aberto um caminho de transição do capitalismo ao socialismo e cujos processos de restauração voltaram a subordiná-las ao funcionamento econômico e ao mercado capitalista, estão obrigadas a se confrontar com a aliança imperialista, que expressa a hegemonia norte-americana.
Não bastou reincorporar a Rússia e a China ao capitalismo. Isso porque não lhes cabe um lugar de independência na esgotada partilha do mundo, partilha da qual a URSS participou na Segunda Guerra, sob a política de Stalin, e com a qual se consolidou a hegemonia norte-americana, que se voltou a promover a “Guerra Fria” para destruir a URSS. Os choques de interesses entre as velhas potências também se recompuseram, basta ver a formação da União Europeia, o rompimento da Inglaterra pelo Brexit e a atual situação de decomposição do continente. A aliança europeia montada pelos Estados Unidos contra a Rússia, motivada pela guerra na Ucrânia, não se mantém livre de contradições e divergências. Não é pacífica a diretriz de estender a OTAN para a Ásia e montar o cerco contra a China. No fundo, a crise mundial se agrava com a potenciação de várias linhas de conflitos, que se estendem nos continentes e convergem na situação para o confronto dos Estados Unidos com a China e a Rússia.
As forças produtivas voltaram a se colocar em choque aberto com as relações de produção capitalista e com a divisão do mundo em fronteiras nacionais. O processo de restauração e a liquidação da URSS resultaram em uma vitória do imperialismo contra a transição do capitalismo ao socialismo. Mas é também uma vitória transitória, que somente a luta de classe do proletariado vai determinar o quanto vai durar.
Está absolutamente claro que as derrotas da classe operária, principalmente desde os anos de 1970 a 1990, contribuíram para o avanço da barbárie capitalista, que dará passos ainda mais obscurantista, se os explorados não se reorganizarem, construírem os partidos revolucionários e reconstruírem o Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional.
A recente Assembleia Geral da ONU atestou o enfraquecimento da hegemonia dos Estados Unidos. A China e a Rússia praticamente desconheceram a sua importância, sabendo que não haveria nenhuma resolução que assinalasse um caminho para acabar com a guerra na Ucrânia, arrefecer a guerra comercial e reverter a escalada militar. O pronunciamento de Biden não teve a menor importância, uma vez que repetiu o apoio à Ucrânia, mas os republicanos não estavam dispostos a recepcionar Zelensky como fizeram os democratas em dezembro. O discurso de Lula passou ao largo da guerra. Zelensky pediu mais apoio e reiterou as denúncias à Rússia, e lamentou ter sido enganado pelo acordo de 1994 que tirou da Ucrânia o arsenal nuclear. A surpresa surgiu com o anúncio da Polônia que não está mais disposta a enviar armas para a Ucrânia. Repercutiu a revelação da manutenção do veto da Hungria, Eslováquia e Polônia à compra de grãos ucranianos, que passaram a inundar os seus mercados e a atingir as suas agriculturas.
A contraofensiva planejada pelos generais ucranianos era a esperança do imperialismo. Se ameaçasse as posições russas, então a Ucrânia estaria em condições de receber mais armas e financiamento como garantia de impor a Putin um acordo. Uma vez que fracassou, fortaleceu um setor do imperialismo que questiona os gastos bilionários sem resultados, a não ser o prolongamento da guerra. Zelensky apelou referindo-se a uma possível vitória da Rússia. Os reveses da resistência ucraniana tem se tornado cada vez mais duros para manter a projeção internacional da conflagração.
Na Cúpula do G-20, Biden teve de admitir uma quase omissão da questão ucraniana no comunicado final, caso contrário nem haveria. A China pôde tranquilamente ignorar o G-20. O que ficou consubstanciado foi o resultado da cúpula do Brics, que foi ampliado como pretendia Xi Jin Ping. Nenhuma dessas organizações internacionais tem conseguido apaziguar as forças econômicas, políticas e militares que vêm expressando a decomposição do capitalismo.
A classe operária, os demais trabalhadores e a sua vanguarda combativa não podem se sujeitar à diretriz de nenhuma dessas forças. Têm pela frente o objetivo de protagonizarem a luta de massa e conquistarem posições de independência de classe. As conquistas programáticas do proletariado mundial são indestrutíveis. Sobre a base do programa da revolução social, os explorados reagirão ao curso da crise mundial e em particular à guerra. Pelo fim da guerra na Ucrânia! Por uma paz sem anexação!