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29 out 2023
Declaração do Partido Operário Revolucionário (POR), seção do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CEQUI)
Nova etapa da guerra do Estado sionista na Faixa de Gaza
Unir as forças da classe operária e demais oprimidos para derrotar a ofensiva colonialista de Israel
No vigésimo dia de bombardeio sobre a Faixa de Gaza, a Força de Defesa de Israel deu início às primeiras invasões com tanques e soldados. A primeira etapa da guerra consistiu em despejar milhares de potentes bombas sobre prédios, casas, escolas, moradias e centro de refugiados, não poupando sequer as imediações de hospitais. Estima-se a destruição de mais de 40% de estrutura e infraestrutura urbana; e mais de 6.000 mortos, dentre eles uma infinidade de crianças e adolescentes. Agora, espera-se que, com a invasão por terra, a mortandade se eleve a números estratosféricos.
Essa tem sido a reação do Estado sionista e do governo de Binyamin Netanyahu ao ataque do Hamas em 7 de outubro e à morte estimada de 1400 judeus. Inicialmente, a imprensa criou uma grande comoção mundial contra a “barbárie praticada pelo Hamas terrorista”, que tomou os israelenses de surpresa, quando se encontravam em festividade. A violência da operação militar do Hamas pairou no ar, como se fosse um ato insano, sem justificativa e sobretudo “covarde”.
O governo de Netanyahu, os Estados Unidos e todas as potências ocidentais aliadas levantaram imediatamente a bandeira de “direito à defesa de Israel contra o Hamas terrorista”. E armou-se a campanha internacional em torno à ideia de que a “existência de Israel estava em perigo”. A solução, segundo Netanyahu, os comandantes militares, a casta burguesa sionista e Joe Biden, estava em destruir o Hamas. O “direito à defesa”, portanto, se concentrava nesse objetivo estratégico. Eliminando cirurgicamente a “organização terrorista”, a existência de Israel estaria protegida.
Mas, surgia um grande problema: acabar com o Hamas sem provocar uma mortandade de civis palestinos da Faixa de Gaza sem precedentes na história das guerras de implantação do Estado sionista seria impossível. Netanyahu, Biden e aliados sabiam que haveria uma carnificina que começaria não pelo Hamas, mas pela população, que não pouparia bebês, crianças, adolescentes, velhos, mulheres e homens. O bombardeio, mesmo sob a forma da mais alta tecnologia de guerra, não poderia provocar mortes seletivas. A guerra começaria não pondo em confronto a mais avançada força militar de Israel contra o primitivo e bárbaro Hamas; inevitavelmente, teria de arrasar parte da cidade e matar civis.
A explicação para essa obra aterrorizante estava na ponta da língua dos sionistas. A sua simplicidade poderia ser facilmente espalhada sobre as massas mundiais, a mais importante força social diante de uma guerra, precisamente por ser constituída pela maioria explorada que suporta o capitalismo em decomposição – o proletariado, os camponeses e os demais trabalhadores – e por povos oprimidos pelo imperialismo. Simples assim: o Hamas se esconde entre a população da Faixa de Gaza, que comporta, comprimidamente, 2,3 milhões de palestinos miseráveis, e, portanto, para encontrar os “terroristas” que se escudam entre as massas, a solução é eliminar o anteparo humano, caracterizado por Netanyahu como “animais”.
A historieta de que toda guerra inevitavelmente provoca “danos colaterais” – contada pelas potências que podem bombardear uma região, um país ou megalópole inteiros – não podia ser contabilizada a favor de Israel para justificar a mortandade de palestinos. Restava a justificativa do “direito à autodefesa” diante do “atentado terrorista a civis judeus”. A guerra decretada pelo Estado sionista consiste, assim, na particularidade de recair sobre um povo desarmado, destituído de uma economia minimamente desenvolvida, cercado militarmente e incapacitado de exercer qualquer independência, ao ponto de depender até mesmo de água e energia, que são ministradas pelos seus colonizadores.
Trata-se de uma guerra de uma potência militar com capacidade de armamento nuclear, que se vale do apoio das potências, sobretudo o dos Estados Unidos. O imperialismo viabilizou a criação do Estado sionista e possibilitou que estendesse a fronteira traçada em 1948, se apossasse pela via da força militar da maior parte do território que supostamente serviria à constituição de um Estado palestino, dividisse o povo palestino em dois territórios – Cisjordânia e Faixa de Gaza – montasse a farsa dos acordos de Oslo, instituísse a Autoridade Palestina como fantoche de Israel, corrompesse até a medula o regime político controlado pelo Fatah-OLP e mais recentemente passasse a anexar essa parte do território por meio dos assentamentos de colonos judeus.
Os levantes dos palestinos contra o sufocante cerco do Estado sionista com pedras, paus e qualquer objeto que tivessem ao alcance das mãos foram combatidos pelas forças treinadas a defender as fronteiras de Israel pela guerra permanente. O mundo assistiu aos sionistas erguendo uma cerca em torno à Faixa de Gaza e montando um campo de concentração a céu aberto, como acabou sendo corretamente caracterizado até mesmo pelos críticos do Hamas. Sem relações econômicas próprias, com uma vida social típica da mais elevada barbárie no capitalismo e submetidos a uma discriminação nacional e racial que se assemelha à desfechada pela reação antissemita contra os judeus, os palestinos da Faixa de Gaza colocaram em sua direção o Hamas e expeliram o Fatah-OLP, corrompido pelos acordos de Oslo e subordinado à “ajuda” do capital imperialista.
A divisão imposta pelo imperialismo aos palestinos e as falsificações sobre as quais se ergueu a Autoridade Palestina enfraqueceram a resistência das massas, que instintivamente procuravam se armar, como evidenciaram as Intifadas. A casta dirigente dos palestinos não poderia defender a nação oprimida armando a população e procurando a unidade dos oprimidos árabes do Oriente Médio para fazer frente aos Estados Unidos, à aliança imperialista e ao Estado sionista, que se tornou a quarta força militar do mundo. Essa era a via da revolução social, que caminharia para unir palestinos e judeus em uma República Socialista – única via possível para acabar com as guerra insanas, que servem tão somente ao imperialismo, que passou a dominar o Oriente Médio, a impor as fronteiras nacionais entre a 1ª a 2ª Guerra Mundial, a forjar o poder das feudais-burguesias árabes, a derrotar o nacionalismo pan-arábico, a domesticar os governos ditatoriais, a explorar os recursos naturais, a se utilizar das cisões religiosas e, em particular, a isolar o povo palestino, para o Estado sionista então se firmar como enclave dos Estados Unidos no Oriente Médio.
A operação militar do Hamas em 7 de outubro e as mortes não foram um acontecimento pontual, inesperado e fugaz. Constituíram mais um dos episódios ao longo dos choques mortais desencadeados entre os judeus ocupantes e os palestinos autóctones, bem como das três guerras envolvendo países árabes, como Egito, Jordânia e Síria. Agora, mais uma vez a guerra de ocupação da Faixa de Gaza pelo Estado Sionista expõe a raiz histórica da opressão nacional exercida sobre o povo palestino, que, por suas condições derivadas da nova partilha do mundo levada a cabo pelo imperialismo, após a 2ª Guerra Mundial, não teve como encontrar uma via pacífica para se edificar em solo palestino e jamais terá.
As ilusões criadas pelos acordos de Oslo de estabelecer dois Estados, como estava previsto na resolução da ONU, deixaram definitivamente patente que o Estado sionista – imposto pelo poder econômico e militar da fração capitalista interessada em ter um enclave no interior do mundo árabe, cheio de contradições típicas das nações semicoloniais assentadas em valiosas riquezas naturais (as mais destacadas são as reservas de petróleo e gás) – tem de ser expansionista, típico de um colonialismo tardio, sem o que não há como dar curso às forças produtivas implantadas no processo de edificação de Israel. Revelou-se inviável montar de fora para dentro da Palestina uma nação judia enquadrada em estreita fronteira com os palestinos. A guerra de 1948-1949 contra os países árabes opositores à decisão da ONU serviu para afirmar o Estado sionista, mas foi a vitória na Guerra dos Seis Dias, de 1967, que deu à burguesia israelita e ao imperialismo a certeza de que teriam pela frente um confronto permanente, e cada vez mais violento, pelo controle territorial e subordinação dos palestinos aos seus desígnios econômicos e sociais.
A expansão fronteiriça serviu de base a mais um avanço colonizador com a vitória na guerra de Yom Kippur, de 1973. Os países árabes derrotados se curvaram, abandonaram definitivamente a busca da unidade do pan-arabismo, aceitaram acordos chancelados pelos Estados Unidos e abandonaram a Palestina a sua própria sorte, de forma que se perpetuaram as novas fronteiras ditadas pelo Estado sionista aos palestinos. A “prisão” da Faixa de Gaza resultou desse processo expropriador e colonizador. E a Cisjordânia, que aparentemente foi apresentada como uma solução de pacificação, de fato, comparece como uma semiprisão.
Os palestinos não têm como encarnar as forças produtivas internas, que são uma extensão das controladas pelo Estado sionista. As autoridades israelenses se gabam de dar emprego aos palestinos e de garantir cidadania aos palestinos-israelenses. Mas, essa máscara confeccionada pelos exploradores e colonizadores capitalistas, baseados no capital imperialista, não tem como ocultar a violência diária descarregada sobre a imensa maioria dos palestinos. A opressão nacional é de uma contundência que obscurece a opressão de classe. Basta, no entanto, observar as condições de existência do povo palestino para se encontrar claramente a exploração capitalista do trabalho. O conteúdo de classe da opressão nacional deve ser exposto cruamente para se compreender a guerra permanente travada no antigo território palestino que emergiu após as duas guerras mundiais.
Na medida em que a feudal-burguesia árabe aceitou as condições impostas pelos Estados Unidos, a guerra tomou a forma de confronto entre uma potência militar colonialista e um povo desarmado. O Hamas como organização político-militar, de fundo islâmico, é gestado nessas condições históricas de opressão nacional. A matança na Faixa de Gaza, a investida das Forças de Defesa de Israel contra o Hamas e o objetivo de estabelecer um controle mais rígido sobre os palestinos potencia o choque entre o Estado sionista opressor e a nação oprimida. Trata-se de uma intervenção militar dos colonizadores sobre os palestinos brutalmente oprimidos.
A imediata internacionalização do confronto na Palestina dá a dimensão do significado histórico do colonialismo imperialista revestido de sionismo. Os navios de guerra dos Estados Unidos e da Inglaterra estão apontados para o Irã e para os países árabes que se veem premidos a ficar do lado da Faixa de Gaza. A Síria sofreu bombardeios em aeroportos. O sul do Líbano se acha conflagrado pela reação do Hezbollah e pelo cerco militar de Israel. A ONU continua como palco de demonstração das divergências, servindo de fato de cobertura à matança na Faixa de Gaza, com suas discussões hipócritas e cínicas sobre a defesa dos civis e do humanitarismo. O governo de Netanyahu avança com suas tropas por terra e mantém os palestinos sem comida, água e energia. Exerce esse poderio diante das massas árabes valendo-se das armas dos Estados Unidos e dos aliados imperialistas, que fingem divergir sobre até onde vai o direito de Israel exercer a denominada autodefesa. Gesta-se um quadro de conflagração no Oriente Médio, estando no seu epicentro os Estados Unidos, que pressionam os governos árabes a aceitarem a matança, podendo apenas reclamar na ONU sobre os excessos do Estado sionista.
Em todo o mundo, cresce o entendimento dos explorados de que é preciso defender a Faixa de Gaza, acabar com os bombardeios genocidas, expulsar os tanques sionistas, unir os palestinos em defesa de sua autodeterminação nacional e contrapor-se ao intervencionismo imperialista no Oriente Médio. Manifestações massivas ocorrem em toda parte, inclusive nos Estados Unidos. Apesar de suas limitações políticas devido à crise de direção, os explorados que se erguem contra a matança na Palestina põem objetivamente à luz do dia a unidade anti-imperialista e antissionista. Cabe à vanguarda com consciência de classe constituir em toda parte a frente única anti-imperialista, anticapitalista e socialista.
Pela derrota do Estado sionista de Israel! Pela unidade dos explorados e dos povos oprimidos do Oriente Médio em defesa dos palestinos! Lutar sob a bandeira de uma República Socialista da Palestina e pelos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio!