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02 dez 2023
Editorial do Jornal Massas nº 703
Henry Kissinger serviu às forças da barbárie imperialista
As condições objetivas para a retomada das revoluções proletárias estão dadas
A morte de Kissinger aos 100 anos trouxe à luz do dia grandes acontecimentos do passado que condicionam e evidenciam, em boa medida, as raízes do agravamento da crise mundial, das recentes guerras e da retomada do impulso das tendências bélicas.
Kissinger ascendeu a Conselheiro de Segurança Nacional do governo Richard Nixon, em 1969. Elevou-se a Secretário de Estado no governo de Gerald Ford, em 1973. Em sua vida política, serviu de alguma forma a vários presidentes dos Estados Unidos, sendo o último Joe Biden. Neste longo trajeto, interveio como estrategista do imperialismo norte-americano nos fatos que envolveram a “Guerra Fria”, a destruição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a incorporação da China na órbita do mercado mundial, a guerra do Vietnã, o conflito entre a Indonésia e o Timor Leste, a guerra entre a Índia e o Paquistão e os golpes de Estado na América Latina. Contribuiu com Georg W. Bush, na condição de coordenador da Comissão de Investigação sobre o Terrorismo, para forjar a linha de combate à jihad islâmica, e utilizar o ataque de 11 de setembro às Torres Gêmeas para promover a invasão militar do Afeganistão em outubro de 2001 e do Iraque em março de 2003.
O homem que se diz voltado a procurar o equilíbrio de forças nas relações mundiais e que recebeu o Prêmio Nobel da Paz por ter selado o acordo que pôs fim à guerra do Vietnã, em 1973, não teve como morrer sem levar para a tumba sua obra de opressão e de carniceiro dos povos. A imprensa se viu obrigada a recordar que Kissinger foi responsabilizado por crimes de guerra, sem, contudo, sofrer qualquer transtorno. Assim se passou porque o fardo da matança pesa sobre os Estados Unidos e sua burguesia imperialista.
O bombardeio do Camboja, como parte da intervenção militar no Vietnã, resultou em massacre, com 50 mil mortos. Kissinger arquitetou com o general Pinochet o golpe sangrento no Chile. Esteve na sombra da brutal repressão da ditadura militar na Argentina e no Brasil sob o governo do general Garrastazu Médici. Não apenas deu apoio ideológico, como também material, financeiro e militar, aos carrascos dos explorados chilenos. Intervenções, guerras e apoio à reação fascistizante fizeram o nome de Kissinger como grande estrategista. Reconhece-se também a importância do Conselheiro de Segurança e Secretário de Estado dos Estados Unidos quanto às diretrizes para o Oriente Médio, sob a política exterior da “Guerra Fria”, em desmontar o movimento nacionalista árabe, fortalecer o Estado sionista de Israel e reduzir a influência da ex-URSS.
Dentre essa ampla gama de feitos contrarrevolucionários, no entanto, se destaca o trabalho de Kissinger em apertar o cerco à URSS, explorar a divisão sino-soviética e criar as condições para os Estados Unidos penetrarem no interior da economia chinesa e impulsionarem o processo de restauração capitalista. A burguesia em geral e o imperialismo em particular devem muito a esse sagaz inimigo das revoluções, do direito à autodeterminação das nações oprimidas e, em síntese, historicamente, do comunismo.
Kissinger esteve à frente das decisões da Casa Branca em um período sensível da retomada da crise capitalista após a Segunda Guerra Mundial, dos sinais de mudanças nos choque entre as forças produtivas e as relações de produção, dos impasses da política estalinista e do nacionalismo maoísta. Soube aproveitar excelentemente bem as contradições dos Estados Operários burocratizados, que levavam seus governantes a bloquearem as tendências revolucionárias do proletariado mundial e a traírem as revoluções.
Atribui-se a Kissinger o êxito em limitar a escalada militar. Os tratados de redução e controle de armas nucleares esteve na base do objetivo de desarmar a URSS e enfraquecê-la como potência militar, que saiu fortalecida como componente fundamental da vitória da aliança liderada pelos Estados Unidos e Inglaterra e com a nova partilha do mundo. A consolidação do distanciamento da URSS e da China sob a condução da estratégia da “Guerra Fria” de impulsionar a contrarrevolução restauracionista, sem dúvida, é em síntese a grande contribuição de Kissinger às forças do imperialismo e à manutenção da hegemonia mundial dos Estados Unidos.
Segundo os jornais, o governo de Xi Jinping enviou uma efusiva condolência a Biden e aos familiares de Kissinger. Reconhece o carniceiro dos povos como “um querido velho amigo do povo chinês”. Exalta a “visão estratégica, coragem política e sabedoria diplomática”. Espera que seus feitos sirvam para uma “relação sino-americana saudável, estável e sustentável”. A burocracia do Partido Comunista Chinês refere-se ao papel positivo que teve o carniceiro para promover a fatídica reunião de Richard Nixon e Mao Tse-tung, em 21 de fevereiro de 1972, que serviu para aplainar o caminho da contrarrevolução restauracionista na China e, assim, fortalecer o processo de decomposição da URSS.
Kissinger morre no momento em que a crise mundial marcha em linha ascendente. Os Estados Unidos estão em posição de acelerar a guerra comercial com a China e impor limites à sua expansão mundial. A guerra na Ucrânia continua acesa e caminha para completar dois anos. A recente guerra de Israel na Faixa de Gaza contra os palestinos se configurou como genocídio. O contorno aos conflitos na África, que expõe a insuportável situação de opressão imperialista e disputa de espaço entre as forças do capital, é provisório. A difícil situação da União Europeia, que sofre com os obstáculos ao crescimento econômico, agravada com a guerra na Ucrânia e as disputas comerciais dos Estados Unidos com a China, tende à sua desintegração. Na América Latina, ressalta a sua dependência comercial com a China e passa a refletir com maior contundência os reflexos da guerra comercial. Gestam-se as tendências ultradireitistas e fascistizantes em vários países. Na América do Sul, ressalta a vitória, na Argentina, do reacionário Javier Milei.
A situação mundial também está marcada pelo gigantesco movimento de massa contra o massacre sionista na Faixa de Gaza. Na Europa, vem se acumulando lutas operárias e populares contra o rebaixamento das condições de vida dos explorados. Nos Estados Unidos, as massas já estão cansadas de arcar com a medidas antioperárias e antipopulares. Agrava na Europa e nos Estados Unidos a crise migratória. Dessas condições objetivas, emerge o programa da revolução social e do internacionalismo proletário. O que expõe a gravidade da crise de direção. A tarefa da vanguarda com consciência de classe se concentra na defesa da vida das massas, do direito à autodeterminação dos povos oprimidos, do combate às guerras de dominação, na construção dos partidos marxista-leninista-trotskistas e na reconstrução do Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional.