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27 jan 2024
Somente o movimento das massas, sob a direção da classe operária, pode derrotar o Estado sionista de Israel e impedir o avanço do genocídio na Faixa de Gaza
É preciso impulsionar a luta em defesa da autodeterminação do povo palestino sob a bandeira de fim dos bombardeios e pela retirada imediata das tropas israelenses da Faixa de Gaza
Que as centrais, sindicatos, movimentos e partidos que se dizem a favor da causa dos palestinos rompam a sua paralisia, organizando desde as fábricas a luta contra o genocídio
Um fato político de repercussão mundial foi o julgamento na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, Holanda, de abertura de um processo contra Israel por cometer crime de guerra e colocar em prática uma política de genocídio do povo palestino. O importante desse fato se encontra no reconhecimento da África do Sul de que está em marcha uma matança que se caracteriza por genocídio. Inúmeros países compartilham dessa denúncia, incluindo o Brasil. O parecer da Corte foi de que era procedente o pedido de abertura de processo. O que contrariou a defesa de Israel e de seu principal aliado, os Estados Unidos. A aceitação da proposição da África do Sul resultará em uma investigação que levará anos para se chegar ao veredito se houve crime contra a humanidade e genocídio.
Diante de uma carnificina diária que provocou cerca de 26 mil mortos, sendo a grande maioria de crianças e mulheres; diante da destruição em grande escala de moradias, hospitais, escolas e campos de refugiados; diante do deslocamento de mais de um milhão de palestinos de suas moradias; diante do bloqueio de serviços fundamentais como água, alimentos, energia e remédios; diante da fome e das doenças que se alastram e diante de corpos insepultos; diante, portanto, desse horror está mais do que claro que as ações militares do Estado sionista de Israel promovem o genocídio como forma de anexar o pouco que resta do território aos palestinos. Não havia como a Corte Internacional de Justiça deixar de acatar o pedido da África do Sul. No entanto, admitiu abrir o processo sob pressão do movimento mundial, que expressou a condenação das massas a Israel e a rejeição ao apoio do imperialismo à destruição e matança na Faixa de Gaza.
O posicionamento da Corte à proposição da África do Sul de um cessar-fogo e restabelecimento imediato das condições elementares de existência da população, porém, evidenciou a influência dos Estados Unidos, que se opuseram ao pedido da África do Sul. Os seus juízes não apenas não determinaram o cessar-fogo como também exigiram do Hamas a libertação dos reféns israelenses. Essa posição não é surpreendente, porque a Corte responde aos interesses das potências e está sob a influência política dos Estados Unidos, embora o governo de Bush não tenha ratificado o Estatuto de Roma.
A diferenciação política da Corte entre a condenação da Rússia e a posição contemplativa diante de Israel é vergonhosa. Nem bem começou a guerra na Ucrânia, a Corte exigiu, a pedido de Zelenski, que a Rússia suspendesse a invasão. Ao contrário, o Estado sionista de Israel foi tratado com luvas de pelica. Israel foi à Corte para brandir a mentira de que estava apenas se valendo do direito de se defender e que tomava todo cuidado para proteger os civis. Benjamin Netanyahu, por sua vez, havia rejeitado antecipadamente qualquer decisão dos juízes de Haia. Afirmou: “Vamos continuar essa guerra até a vitória absoluta. Até que todos os reféns sejam devolvidos e até que Gaza não seja mais uma ameaça para Israel”. A decisão da Corte, como se constata, favorece a determinação do Estado de Israel de continuar impunemente a carnificina.
É preciso rechaçar as ilusões insufladas pelas ações voltadas à ONU e a seus organismos, como a Corte de Haia. Nenhum Estado e nenhum governo burguês, por mais que reconheçam o direito do povo palestino a ter seu Estado, não se contraporão aos Estados Unidos, que comandam estrategicamente as ações genocidas da burguesia sionista. A divisão no campo burguês, sem dúvida, deve ser utilizada em favor da luta do povo oprimido. O que não se deve é seguir a política desta ou daquela fração burguesa. A experiência no Brasil é exemplar.
O governo Lula se colocou pela Resolução da ONU que previa o cessar-fogo e, agora, apoiou a petição da África do Sul. Essa posição política favorece a luta dos palestinos, desde que sirva para demonstrar que somente a classe operária e demais explorados em luta podem combater pela causa palestina e derrotar a burguesia sionista e o imperialismo. O governo Lula não tem como romper com o Estado sionista e com os Estados Unidos. Esse jogo é seguido pelo PT e pelas direções sindicais que não têm independência política e servem de correia de transmissão das diretrizes diplomáticas do governo incapaz de assumir a luta anti-imperialista.
As limitações do movimento mundial de defesa da Faixa de Gaza se devem, precisamente, ao predomínio das políticas governistas e do próprio nacionalismo das organizações palestinas. Há muito não ocorriam manifestações internacionais impulsionadas pelas guerras de dominação e opressão nacional. É bom lembrar, nesse sentido, a importância dos protestos mundiais diante da intervenção norte-americana e a consequente matança no Vietnã, na década de 1970.
Basta que se torne bem visível o caráter e o conteúdo da guerra de dominação, para que os explorados se movimentem no terreno da luta anti-imperialista. É bem provável que, no caso da guerra na Ucrânia, essa visibilidade permaneça até hoje ofuscada, pela campanha do imperialismo que responsabiliza a Rússia e oculta sua ofensiva colonialista voltada a controlar o território onde se assentava a ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
As direções sindicais e políticas se utilizaram e se utilizam das contradições para não combater a poderosa aliança militar soldada em torno à OTAN. Justamente quando Israel é acusado de genocídio em um dos tribunais da própria burguesia, a OTAN realiza uma demonstração de força, mobilizando seu arsenal em direção à Rússia e à China. No Mar Vermelho, os Estados Unidos e a Inglaterra realizam operações militares contra o Iêmen, visando o Irã. No Mar Mediterrâneo, apontam suas armas para os países que não se alinham por detrás do Estado de Israel.
Tomados de conjunto, esses acontecimentos expõem a profundidade da crise geral do capitalismo e, em suas entranhas, a escalada militar. Basta se ter o mínimo de clareza sobre essas tendências desagregadoras e destruidoras do capitalismo em decomposição, para se constatar a enorme importância do movimento de massa desencadeado a partir da guerra na Faixa de Gaza. Ao mesmo tempo, se constata o seu atraso em relação à crise mundial, à guerra na Ucrânia e à guerra comercial desenvolvida pelos Estados Unidos contra a China. Em particular, a greve geral e a gigantesca manifestação que os trabalhadores argentinos realizaram no dia 24 de janeiro é parte desse processo econômico, social e político.
A luta pela existência dos explorados está completamente interligada à luta contra a opressão nacional. Esse embate nos estreitos limites nacionais da crise Argentina se deve à questão geral da crise de direção. A luta de classes do proletariado e dos demais explorados contra os ataques da burguesia às suas condições elementares de existência, para se desenvolver, depende da luta anti-imperialista, e essa se dirige ao grande capital e ao saque praticado pelas potências. Não há uma divisória entre a luta anti-imperialista em defesa da economia nacional e a defesa da autodeterminação de um povo oprimido, como no caso dos palestinos. O imperialismo intervém com inúmeros instrumentos e meios, desde o FMI, Banco Mundial, OTAN, ONU etc. É obrigatório compreender que a classe operária e os demais explorados se acham em meio a grandes confrontos gestados pelo imperialismo.
As inúmeras manifestações que expressam a decomposição do capitalismo e as variadas formas de barbárie social têm de ser combatidas com o programa e a estratégia da revolução social. O movimento anti-imperialista ganha importância para os explorados convergirem sua revolta com a estratégia da derrocada do capitalismo e retomada das conquistas do socialismo.
O atraso da classe operária mundial em caminhar nesse sentido se deve à ausência dos partidos revolucionários e de um Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional. O que não quer dizer que não existam as experiências e o programa para transformar as inúmeras lutas encerradas nas fronteiras nacionais em lutas mundiais. O movimento gigantesco em defesa do povo palestino e contra o seu genocídio põe às claras como a luta de classes tende a romper as fronteiras nacionais e os limites localistas.
Como se vê, a importância e o valor programático das ações voltadas a levantar os movimentos de massa se espelham no combate anti-imperialista em defesa da causa palestina. No interior desse movimento, vem se travando um choque histórico que tem suas raízes na primeira e segunda guerras mundiais. O genocídio na Faixa de Gaza é a prova irrefutável de que a criação do Estado sionista de Israel foi uma imposição do imperialismo nas condições de partilha do mundo. O sionismo chegou ao ponto de usar os métodos nacional-fascistas que foram aplicados contra o povo judeu.
O programa que vai à raiz da questão palestina é o da luta por uma República Socialista, como parte da luta pelos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio. Somente a classe operária e os demais explorados podem encarnar esse programa.
Nenhuma ilusão nos tribunais da burguesia!
Toda força à luta independente dos explorados!
Organizar a frente única anti-imperialista!
Pelo fim da intervenção sionista na Faixa de Gaza!