• 04 fev 2024

    A crise na Argentina expressa a decomposição geral do capitalismo

Editorial do Jornal Massas nº 707

A crise na Argentina expressa a decomposição geral do capitalismo

As contrarreformas de Milei convergem com as necessidades do capital imperialista

Os trabalhadores do Brasil e da América Latina devem se unir à luta dos explorados argentinos, levantando seu programa e suas bandeiras

 

A eclosão de acontecimentos em várias partes do mundo alerta a classe operária e os demais oprimidos para o avanço e a aceleração da crise mundial. Neste exato momento, as manifestações em frente ao Congresso Nacional da Argentina se chocam, não somente com o governo ultradireitista de Javier Milei, mas também com os partidos e parlamentares que começaram a fazer concessões ao bárbaro projeto da Lei Ônibus. A primeira concessão foi a aprovação em geral do projeto antinacional e antipopular. Logo mais, o Congresso fará o mesmo quanto aos seus pontos específicos. Isso se passou sob intensos protestos e brutal repressão aos manifestantes.

Nem bem se acalmou o conflito entre a Venezuela e a Guiana em torno ao território de Essequibo, os Estados Unidos decidiram voltar às sanções sob a alegação de que Nicolás Maduro rompeu o acordo que garantia “eleições democráticas”. No Equador, os Estados Unidos e países latino-americanos, à frente deles o Brasil, intervieram para aplacar o choque do governo com o narcotráfico. Nos Estados Unidos, a questão dos imigrantes volta a se projetar nas disputas eleitorais, permeadas pelo intervencionismo norte-americano nos conflitos e guerras que vêm estremecendo as relações mundiais. No Haiti, crescem as pressões do imperialismo para que a ONU envie uma força militar para estabilizar o regime político em frangalho. Na França e Bélgica, agricultores se insurgem contra a assinatura de um acordo da União Europeia com o Mercosul, sendo que, na Polônia, se contestam os subsídios aos produtos agrários da Ucrânia.

Os efeitos da estagnação econômica, do alto endividamento dos Estados, das tendências inflacionárias e do rebaixamento das condições de vida das massas, em meio à guerra na Ucrânia, à escalada militar e ao fluxo contínuo de imigrantes, potenciam os desequilíbrios na Europa. As manifestações na Inglaterra, França e Alemanha, por enquanto, sobretudo, assinalam por onde passam a desintegração do capitalismo e a luta de classes. Os governos de Rishi Sunak, Partido Conservador, Emmanuel Macron, Partido Renascimento, derivado do Partido Socialista, e Olaf Scholz, Partido Social-Democrata, vêm sendo obrigados a descarregar sobre a classe operária e a classe média a crise que tomou forma mais aguda com a guerra na Ucrânia. Impõem as contrarreformas e, em particular, a Inglaterra e França, rodeadas pela Itália, recrudescem os ataques aos imigrantes, principalmente àqueles provenientes da África, que, por sua vez, se acha mergulhada em conflitos internos e externos.

A recente decisão da União Europeia de municiar a guerra na Ucrânia, entregando a Vladimir Zelensky 50 bilhões de euros (R$ 270 bilhões), indica a disposição de prolongar o conflito e manter a possibilidade de sobrepassar as fronteiras ucranianas. A burguesia europeia está preenchendo o vácuo deixado pelos Estados Unidos, devido à reprovação da oposição republicana a Biden ao projeto de financiamento da guerra com bilhões de dólares. O plano da OTAN de realizar um dos maiores exercícios militares após a Segunda Guerra Mundial, para afirmar tanto a disposição do imperialismo de forçar passagem ao cerco montado à Rússia, quanto a de estender seu raio de ação para a Ásia em contraposição à China não deixa dúvidas de que a crise vem impulsionando o ritmo da escalada militar.

Não são poucos os analistas a serviço do imperialismo que exortam os Estados Unidos a se prepararem para uma possível guerra no Indo-Pacífico. A movimentação da indústria militar vem sendo alimentada pelos choques que se manifestam em todos os continentes. Deve ser reforçada, agora, em função da guerra desfechada pelo Estado sionista de Israel contra os palestinos da Faixa de Gaza, que perfaz quatro meses e tem provocado uma onda de manifestações em várias partes do mundo. As várias bases militares norte-americanas no Oriente Médio vêm sendo reforçada por navios de guerra que rondam o Mediterrâneo e o Mar Vermelho.

A resistência de milícias islâmicas, nacionalistas por sua orientação histórica, reavivou os pavios dos choques armados, acesos pela intervenção dos Estados Unidos no Iraque. A redução da animosidade do imperialismo com o Irã sob o governo de Barack Obama ficou para trás desde que Donald Trump rompeu o acordo sobre a energia nuclear. Mas, os antagonismos das potências com o regime nacionalista iraniano assumiram proporções em que se recoloca a questão da generalização da guerra que se passa na Faixa de Gaza ao Oriente Médio.

O fato das Forças de Defesa de Israel terem se ressentido da resistência do Hamas, ainda que não coloque nenhum perigo à imensa superioridade militar do sionismo, e ficar patente que a incursão invasora da Faixa de Gaza deve ser longa, tem dificultado aos Estados Unidos e aliados de encontrarem uma solução provisória que permita suspender o genocídio e refluir as tendências bélicas na região. Alguns êxitos, como os obtidos pelos ataques às bases militares dos Estados Unidos no Iraque, Síria e Jordânia, mesmo que pequeníssimos, afetam a política interna do imperialismo norte-americano, envolvido por uma acirrada divisão interbuguesa que se reflete na ascensão eleitoral de Trump. Não é de menor importância a vitória eleitoral do candidato pró-Estados Unidos em Taiwan. Representa um maior compromisso do imperialismo de manter seu controle em função da guerra comercial com a China. Esse acontecimento, por si mesmo, não muda substancialmente as relações conflituosas, mas potencia as tendências bélicas no Oriente.

Pode-se perguntar o que tem a ver esse quadro de desequilíbrio na Europa, Ásia e Oriente Médio com a crise na Argentina e, assim, com a América Latina. Imediatamente, se constata que a necessidade das contrarreformas antinacionais e antipopulares é um fenômeno geral. São medidas que protegem a burguesia na situação de agudização dos choques entre as forças produtivas e as relações de produção. As contradições da economia mundial, dirigida por um punhado de potências, se manifestam abertamente nos marcos das economias nacionais, cujas particularidades devem ser evidenciadas no sentido de revelar suas bases mundiais. A dívida pública da Argentina se encontra no centro de seu descarrilamento. A falência dos governos peronistas está na razão direta de se sujeitarem a esse saque e ao agigantamento do parasitismo financeiro. O que se passa, também, com todas as economias semicoloniais.

A marcha da desintegração mundial do capitalismo impulsiona as contradições internas próprias dos países semicoloniais. As guerras e a escalada bélica são descarregadas não apenas sobre as massas por meio das contrarreformas, mas também sobre as economias atrasadas por meio do recrudescimento do saque. A importância da resistência da classe operária e da maioria oprimida na Argentina é crucial para a luta anticapitalista e anti-imperialista na América Latina e em todo o mundo, incluindo os países imperialistas.

Lutemos pela vitória do povo argentino! Abaixo o plano antinacional e antipopular de Milei! Derrotar o governo da ultradireita sob o programa da revolução social. Fortalecer a independência política e organizativa dos explorados argentinos! Internacionalizar a luta do proletariado argentino, sob a mesma política e programa diante das guerras de dominação na Ucrânia e na Faixa de Gaza! Organizar o movimento de frente única anti-imperialista!