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09 out 2016
9 de outubro de 2016
Passo a passo, Michel Temer se sente mais confortável na presidência da República. A burguesia confirmou seu apoio à derrubada de Dilma Rousseff. O imperialismo admitiu que essa foi a melhor via para a proteção de seus capitais. Aos poucos, o ministro José Serra vem erguendo a nova autoridade brasileira diante da América Latina. As vozes discordantes dos governos aliados do PT já não oferecem real oposição.
O golpe de Estado se deu nos quadros da democracia vigente sem aparentemente feri-la e alterá-la. O PT e seus aliados foram para oposição. Podem exercitar suas críticas parlamentares e votar contra o governo golpista. A Operação Lava Jato continua centrada no objetivo de desmontar a estrutura material e política que sustentou o PT no poder. Não se sabe ainda o que fará diante das quadrilhas do PMDB, PSDB e DEM, mas tudo indica que administrará caso a caso as imputações a este ou àquele parlamentar. As eleições municipais favoreceram os partidos do golpe. A derrocada do PT e o raquitismo das esquerdas em geral aliviaram a conjuntura política.
A ampla rejeição da população ao governo Temer permanece, mas não atinge a escalada de estabilização política, uma vez que ainda permanece como descontentamento passivo das massas. A bandeira de “Fora Temer!” “Diretas Já” (ou “Eleições Gerais”) foi abafada pelas eleições municipais e pelo resultado desastroso do PT. O alto índice de abstenções, de votos nulos e brancos chamou a atenção das instituições burguesas envolvidas no processo eleitoral. Indicaram a reprovação geral aos partidos burgueses e desconhecimento da propaganda democratizante das esquerdas. Mas, de todos esses fatores, o que mais pesou a favor do governo golpista foi o esvaziamento das manobras da CUT em torno da greve geral.
O rompimento da unidade em torno das manifestações do dia 22 de setembro comprovou que a burocracia sindical blefava com a greve geral. As paralisações e manifestações dos metalúrgicos do dia 29 não passaram de breves e pequenas pausas para a burocracia discursar. Não poderia deixar de mencionar seus candidatos preferidos. O anúncio da ampla frente sindical que ia da CUT, Força Sindical, até CSP-Conlutas, retratada por uma sorridente foto, não foi além de um anúncio para pedir ao governo golpista que não deixasse de abrir negociações com as centrais.
O gesto do sindicato metalúrgico do ABC (CUT) de abrir as suas portas por onde adentrou o ministro do Trabalho de Temer disse tudo o que fariam os burocratas petistas. A subserviência é a marca do sindicalismo estatista. O golpe contra o governo petista em nada mudou a conduta dos dirigentes cutistas. No dia seguinte, lá estavam os chefes supremos da classe operária negociando e colaborando com a estabilização do governo golpista. Diante das críticas, a resposta simplista e descarada foi a de que as centrais estão obrigadas a negociar com qualquer que seja o governo. Está aí expressa a essência da política de colaboração de classes do cutismo, forcismo, cetebismo, etc. Está aí a essência da política traidora que submete as organizações da classe operária à ditadura de classe da burguesia, mascarada pela democracia, pelas negociatas e pela defesa de interesses particulares do empresariado.
O golpe de Estado teve o mérito de revelar o quanto o PT e sua burocracia sindical se tornaram apêndice da democracia capitalista e da política oligárquica da burguesia. O quanto são responsáveis pelo fortalecimento da direita burocrática, encarnada pela Força Sindical. É nessas condições que se coloca a questão: como quebrar a ofensiva antinacional e antipopular do governo Temer?
Cabe à vanguarda revolucionária propagandear e agitar as reivindicações dos explorados. Deve vincular a luta contra as demissões, o desemprego e a alta do custo de vida com a luta contra as reformas da previdência e trabalhista, com a luta contra os cortes na saúde, educação e moradia, com a luta pela terra aos camponeses, com a luta contra o pagamento da dívida pública e com a luta contra as privatizações. Esse é o programa pelo qual os operários, camponeses, demais trabalhadores urbanos e juventude oprimida se unirão e lutarão em uma frente única contra o capital, o governo e o imperialismo. Esse é o programa que permitirá à vanguarda revolucionária intervir nos sindicatos burocratizados, combater a política de colaboração de classes e desenvolver no seio dos explorados a estratégia de poder operário e camponês. Em defesa da vida dos explorados, abaixo o governo golpista de Temer, por um governo operário e camponês.