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18 maio 2024
Editorial do Jornal Massas nº 715
Sinais da escalada bélica e da confrontação dos Estados Unidos com a China
As Forças de Segurança de Israel apertaram o cerco a Rafah, no sul, e recrudesceram os ataques no Norte da Faixa de Gaza. Biden pôs de lado a farsa de interromper o envio de armas a Netanyahu. As negociações em torno ao cessar-fogo e a um plano de paz se dissolveram. As pressões internacionais para que o Estado sionista não avance ainda mais a carnificina dos palestinos foram respondidas com desdém. As forças militares russas avançam sobre a segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, e caminham para o norte. Zelenski espera por uma nova remessa de armas e recursos financeiros para evitar uma derrota.
Os Estados Unidos aprovaram uma gigantesca soma para sustentar a intervenção de Israel na Faixa de Gaza, prolongar a guerra na Ucrânia e fortalecer a oposição do governo de Taiwan à China. Macron, presidente da França, referiu-se a possibilidade de envio de soldados à Ucrânia. David Cameron, secretário inglês de Relações Exteriores, declarou que Zelenski poderá usar as armas britânicas para atacar o território russo. Putin, em contrapartida, afirmou que poderia atacar o território britânico. Blinken, secretário de Estado norte-americano, em um encontro com Zelenski, repetiu a ameaça de Cameron. Até então, a diretriz da aliança imperialista ocidental era de evitar um choque direto com a Rússia. É bem provável que não haja uma orientação dos Estados Unidos de se lançarem diretamente na guerra. O que implicaria apontar as armas da OTAN para a Rússia. O importante dessas manobras está em que as vantagens das tropas russas indicarão se a aliança da OTAN vai apenas renovar o armamento da Ucrânia para prolongar a guerra de desgaste ou forçar algum tipo de armistício. Prolongar a guerra pode resultar em um transbordamento do conflito.
Em resposta a essa movimentação imperialista, Putin alertou que a Rússia é uma potência militar, detentora de um considerável arsenal atômico. Os analistas lembraram que a Rússia e os Estados Unidos detêm 90% das 12 mil ogivas contabilizadas. As manobras das forças russas com as denominadas armas atômicas táticas mais uma vez aproximaram o perigo de uma conflagração que envolveria a Europa e, assim, o mundo todo. A sombra de uma terceira guerra mundial, certamente, é usada por Putin e aliados para mostrar ao bloco norte-americano que a guerra na Ucrânia está sendo travada com o sentido estratégico de sobrevivência da Rússia, que se enfraqueceu com a derrocada da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e com o ingresso de países do Leste Europeu e parte das ex-repúblicas soviéticas à OTAN.
Por alguns meses, a intervenção de Israel na Faixa de Gaza desviou a atenção da guerra na Ucrânia e do agravamento da guerra comercial dos Estados Unidos com a China. Em maio, os Estados Unidos e as potências europeias voltaram a atenção ao insistente pedido de Zelenski para rearmar suas forças militares de forma que sejam capazes de bloquear o avanço russo em direção ao Norte. Os novos recursos financeiros e os preparativos para entregar um armamento mais ofensivo à Ucrânia vieram acompanhados de pressão sobre a China.
As conversações de Blinken com Xi Jinpin foram orientadas a exigir da China que deixe de manter transações comerciais e militares que auxiliariam o avanço russo. As sanções econômico-financeiras à Rússia não puderam sufocar sua economia, uma vez que se elevaram enormemente as importações e exportações entre os dois países. A visita de Xi Jinpin à Europa se deu no marco das exigências norte-americanas. Essas manobras diplomáticas antecederam a ida de Putin a Pequim na condição de presidente reeleito para um quinto mandato. A declaração conjunta acentuou a crítica de que os Estados Unidos “pensam em termos de Guerra Fria e são guiados pela lógica do confronto em bloco, colocando a segurança de grupos restritos acima da estabilidade regional, o que cria uma ameaça à segurança de todos os países da Ásia-Pacífico”. Esse conteúdo reflete a escalada bélica mundial e seu direcionamento pelo imperialismo à China.
A guerra comercial dos Estados Unidos com a China foi recentemente marcada pela proibição da Tik Tok de operar em solo norte-americano, elevação de tarifas de importação de carros elétricos chineses e intervenção em bancos que realizam transações com a Rússia considerados violadores das sanções ditadas pelo governo Biden. As potências europeias, por sua vez, acusam a China de inundar seus países com mercadorias de baixo preço. A guerra comercial e a escalada militar aproximam cada vez mais a Rússia da China, portanto, no sentido inverso pretendido pela aliança imperialista ocidental.
O complexo militar – controlado pelos Estados Unidos e pelas potências europeias – está no centro das guerras e da confrontação econômico-comercial. A China e a Rússia estão obrigadas a se colocarem no terreno da economia de guerra. A retomada da China do projeto de construção de usinas nucleares flutuantes concebido em 2010 é um reflexo do crescente desequilíbrio da ordem mundial estabelecida no final da Segunda Guerra. As disputas e conflitos em torno às novas tecnologias e as matérias-primas movimentam o complexo militar e o elevam a um patamar mais alto desde o fim da URSS, em 1991.
Putin realizou uma mudança ministerial, que foi interpretada como destinada a impulsionar a economia de guerra, dobrando o orçamento militar. Na realidade, os gastos militares têm crescido mundialmente. Em 2023, alcançaram a marca de US$ 2,2 trilhões, ou seja, 9% a mais em relação ao ano anterior. A Rússia passou de 2,64% do PIB para 4,01% em 2023 e está prevendo cerca de 8% em 2024. A OTAN aumentou seus gastos em 8,5% em 2023. Os Estados Unidos “empenharam 41% do gasto militar total do planeta, seguidos pela China (10%) e Rússia (5%)”. Esses numerosos por si só põe à luz os interesses do complexo militar norte-americano refletidos nas guerras da Ucrânia e da Faixa de Gaza, bem como no impulso ao rearmamento na Europa e na Ásia.
A condenação puramente verbal do genocídio na Faixa de Gaza e naturalização da longa guerra na Ucrânia permitem ao imperialismo potenciar a escalada bélica. Nenhuma fração da burguesia mundial é capaz de se contrapor a esse processo, apesar de faltarem vozes pacifistas e chamados a se respeitar o multilateralismo. Nem a Rússia, nem a China, que se veem pressionadas pela aliança norte-americana e ameaçadas militarmente, pode erguer um movimento de massa anti-imperialista. O motivo está em que nesse embate não deixam de expressar interesses econômicos capitalistas. Em particular, a Rússia não tem como ocultar sua posição de opressora das nacionalidades que antes constituíram a URSS. A própria questão da Ucrânia – premida pelo imperialismo e acossada pela Rússia – eleva a necessidade de combater a opressão nacional, de maneira que conflui com a luta do povo palestino por sua autodeterminação.
A guerra comercial e a escalada militar recaem sobre as nações oprimidas e as massas exploradas. Essa constatação é ponto de partida para a compreensão de que somente a classe operária, com seu programa, seus métodos de luta e sua organização independente, tem a necessidade de combater as guerras de dominação e transformá-las em guerras de libertação frente ao domínio capitalista e à opressão imperialista.
As mobilizações em torno ao genocídio na Faixa de Gaza mostraram e mostram o caminho por onde a classe operária assumirá a direção dos combates. O atraso da luta para acabar com a guerra na Ucrânia evidencia a contradição de classe que deverá ser superada. A crise de direção se manifesta em sua plenitude justamente em situações convulsivas. Os sindicatos e as direções políticas vinculadas aos explorados se acham comprometidos com a política burguesa que se mascara de democrática e pacifista. O fato de predominar a política que separa a guerra na Faixa de Gaza da guerra na Ucrânia favorece a escalada militar. A situação objetiva, no entanto, empurra os explorados no sentido das bandeiras anti-imperialistas e anticapitalistas. Expõe, apesar de toda a confusão política que reina no interior do proletariado e dos demais oprimidos, as bandeiras que permitem aglutinar as massas e revela o programa da revolução social. Esse é o curso que deve ser seguido pela vanguarda com consciência de classe, para se colocar à frente da luta anti-imperialista e pelo socialismo. Esse é o curso por onde os marxista-leninista-trotskistas se colocam a tarefa de superar da crise de direção, reconstruindo o Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional.