• 16 jul 2024

    Editorial: Estados Unidos e a OTAN avançam a guerra contra a Rússia

Editorial do Jornal Massas nº 719

Estados Unidos e a OTAN avançam a guerra contra a Rússia

Na Cúpula dos 75 anos da OTAN, foram anunciadas medidas de guerra contra a Rússia, em nome do direito da Ucrânia de se incorporar na União Europeia e no pacto militar do Atlântico Norte. A guerra se tornou inevitável precisamente pelo fato de a incorporação da Ucrânia às forças do Ocidente imperialista resultar em avanço do cerco econômico e militar à Rússia.

O processo de restauração capitalista e a desintegração da URSS impulsionaram profundos choques na Eurásia que se achavam latentes e abriram caminho para a penetração das forças econômicas do imperialismo. Entre as ex-repúblicas soviéticas que foram atraídas e arrastadas pelos EUA e União Europeia, a Ucrânia emergiu como a mais estratégica. Vincular-se-ia ao Leste Europeu restaurado e serviria de instrumento de isolamento e cerco à Rússia que saiu enfraquecida do desmoronamento da URSS.

Afloraram-se em toda parte as raízes da opressão nacional que não puderam ser erradicadas nos marcos da URSS, uma vez que dependiam da revolução mundial e em particular do avanço do socialismo na Europa. Qualquer que fosse o caminho da restauração levaria a Rússia a exercer a opressão nacional sobre as ex-repúblicas soviéticas. Esse processo, no entanto, avançou nas condições da decomposição do capitalismo, retomada, décadas após o fim da Segunda Guerra Mundial. O imperialismo, chefiado pelos EUA, necessita tanto quanto a Rússia, ou ainda mais, controlar as ex-repúblicas. Esse era e é o caminho para submeter a própria Rússia e passar a controlar a Eurásia. A estratégia das potências de liquidar a URSS pressupunha incorporar a Rússia na ordem mundial como uma república burguesa vassala.

A criação da OTAN, em 4 de abril de 1949, tinha por objetivo uma guerra com a URSS. Esse foi o fundamento da doutrina imperialista da “Guerra Fria” lançada pelo presidente norte-americano Henry Truman. A Europa Ocidental arruinada foi reconstruída sob a intervenção dos Estados Unidos que se ergueram como potência hegemônica. Tratava-se de barrar o avanço das revoluções e erguer fortalezas para quebrar a influência da URSS que saiu fortalecida da Segunda Guerra Mundial, contando com uma grande influência no Leste Europeu e em certa medida nos Bálcãs.

As contrarrevoluções restauracionistas, principalmente na Polônia, abriram caminho à OTAN. Acirrou-se o cerco à URSS, que finalmente caiu em dezembro de 1991, sob a condução restauracionista do PCUS estalinizado, que se fracionou e deu curso à restauração das relações capitalistas de produção. Não foi preciso a conflagração de uma guerra que seria protagonizada pela OTAN. A orientação inicial do imperialismo foi a de estabelecer um período de inserção de suas forças econômicas no território da ex-URSS e de subordinação da Rússia, que saiu do processo de restauração como uma potência regional, cuja capacidade militar da URSS se avultou na Segunda Guerra, ao ponto de criar em maio de 1955 a Organização do Tratado de Varsóvia (OTV), contraposta à OTAN. O fim da “Guerra Fria” pressupunha não apenas a interrupção da transição do capitalismo ao socialismo, como também a vassalagem econômica das ex-repúblicas soviéticas, em especial da Rússia, seguindo o curso percorrido pelo Leste Europeu.

A OTAN foi preservada como braço armado dos Estados Unidos na Europa e a OTV se dissolveu antes mesmo da derrocada da URSS. O resultado desse processo histórico foi que a OTAN, de 12 países fundadores, chegou a 32 membros com os recentes ingressos da Finlândia e Suécia em meio à guerra na Ucrânia. Os 75 anos da OTAN encarnam as mais profundas tendências bélicas alimentadas pelo imperialismo, tendo os Estados Unidos como carro-chefe.

A classe operária mundial e, em particular, a norte-americana e europeia, tem diante de si a tarefa de levantar a bandeira de dissolução da OTAN como parte da luta anti-imperialista e da estratégia programática da revolução social. Trata-se tão somente de uma organização militar comandada pelos monopólios, pelo capital financeiro e pela indústria bélica – uma organização tão ampla e com capacidade de provocar uma catástrofe muito superior à das duas guerras mundiais. Um perigo que não tem paralelo na história.

Caso sejam cumpridas as novas medidas de armamento da Ucrânia, a guerra tomará um novo curso, que é o do envolvimento direto da aliança imperialista e, portanto, da OTAN. Os caças F-16, o sistema de defesa aérea Patriot, os mísseis de longo alcance, a nova base de lançamento de misseis na Alemanha e o reforço de defesa na Polônia formam um conjunto voltado a uma guerra de dimensão muito superior a que se circunscreve há dois anos e cinco meses na Ucrânia.

As potências aproveitaram o Cúpula de Washington para acusar a China de trapacear enviando materiais que servem à indústria militar da Rússia. Essa sinalização tem por objetivo indicar que se prepara uma contraofensiva altamente potenciada e capaz de causar grandes estragos às forças russas. Assim, caberia à China apenas assistir à escalada bélica na Europa contra a Rússia, que amanhã se voltará para a Ásia Oriental. A OTAN, ou seja, os Estados Unidos estão, de fato, com as armas voltadas contra a Rússia e a China, que não têm alternativa senão fortalecer sua aliança. As movimentações de ambos os lados evidenciam os preparativos para uma confrontação que pode provocar uma terceira guerra, como denunciou o embaixador russo em Washington. É nesse marco que se coloca a luta de classes e a necessidade de a vanguarda classista combater pelo fim da guerra com o programa da revolução social e com a bandeira de paz sem anexação. Faz parte desse enfrentamento a defesa da autodeterminação do povo palestino e fim do genocídio na Faixa de Gaza.