-
10 ago 2024
Editorial do Jornal Massas nº 721
Manifestações da crise econômica expressam a decomposição do capitalismo
A escalada militar se fortalece e expõe a necessidade da reorganização mundial da classe operária
O início de agosto esteve marcado pela queda nas Bolsas de Valores. Depois da derrocada econômico-financeira de 2008 e da recessão que se seguiu em 2009, com a derrubada na Bolsa de Tokio em 14,4%, a maior desde outubro de 1987, se tem a sinalização de que as placas tectônicas da crise estrutural do capitalismo estão se movimentando no sentido do agravamento das contradições entre as forças produtivas e as relações de produção.
As Bolsas são o santuário da especulação financeira. A explicação dos analistas, no fundamental, é que a derrubada se deveu ao anúncio dos Estados Unidos de que o Banco Central iria cortar a taxa de juros uma vez que havia indicadores de recessão à vista. Quase que simultaneamente, o Japão elevou a sua taxa de juros há muito contida próxima a zero. O que levou à valorização de sua moeda (iene), causando uma corrida dos investidores a venderem parte de suas ações.
A transação pôs à luz do dia o quanto os investidores especulavam com o iene desvalorizado, adquirindo grandes somas para realizar negócios cujas diferenças com a moeda de referência – o dólar – lhes davam ganhos. Estima-se a movimentação do iene na casa dos US$ 700 bilhões, somente nos últimos dois anos. As ações das gigantescas empresas de tecnologia – Apple, Microsoft, Tesla, Amazon etc. – se mostraram artificialmente elevadas. Em qualquer momento, poderiam perder valor. Eis por que o conhecido especulador Warren Buffett orientou, nos últimos meses, ao seu grupo Berkshire Hathaway que desfizesse da metade de sua participação na Apple. O esperto capitalista estava antevendo os perigos que encerrava a supervalorização das grandes corporações tecnológicas.
A redução de “mais de 20%” no valor das ações na Bolsa de Tokio em poucos dias causou pânico no sistema financeiro internacional, afetando as Bolsas em todo o mundo, inclusive na China. O abalo foi contido pela intervenção conjunta das potências. Resta observar se de fato o aumento do desemprego nos Estados Unidos no mês de julho está mostrando a recessão a caminho na maior economia do mundo e se o Banco Central cumprirá o anúncio de corte na taxa de juro, prometida em vários momentos anteriores ao atual abalo.
Os indicadores mostram que o baixo crescimento em todos os países e a redução do desempenho da China que tem sido o motor da economia internacional revelam dias cada vez mais difíceis pela frente. Caso se mantenha o curso da estagnação e das quedas, é bem possível que se confirme a previsão de que capitalismo está diante de uma “bolha das big techs” (grandes empresas de tecnologia). O que expressa a alta especulação concentrada.
Os Estados Unidos ocuparam o epicentro da crise em 2008 com a falência no sistema de construção civil. Logo, porém, se manifestaram as contradições de conjunto, de forma que a quebra de capitais norte-americanos se internacionalizou e resultou na mais dura recessão desde a crise da década de 1970.
Os fatores da decomposição econômica não foram debelados. Ao contrário, se ampliaram e se potenciaram após a recessão. É o que comprovam o agigantamento da dívida pública mundial, o impulso à ultra concentração de capitais, a fervorosa especulação financeira e os gastos parasitários. Dados da Unctad revelam que no ano passado “a dívida pública global atingiu o recorde de US$ 97 trilhões, um crescimento de US$ 5,6 trilhões ante o ano anterior.” Em 2010, a dívida dos países “em desenvolvimento” (semicoloniais), que representava 10%, passou em pouco mais de duas décadas a representar “30% do total mundial”.
São números estratosféricos que mostram a dimensão do volume de capital acumulado que, uma vez não aplicado na produção e outras esferas da economia, tem de ser valorizado pela via do parasitismo, do qual tem grande importância o endividamento dos Estados. Ao corresponder a 20 PIBs mundiais, pressiona poderosamente todos os países a submeterem suas políticas econômicas às taxas de juros exorbitantes, a imporem as contrarreformas e retrocederem as relações de trabalho a fases primitivas de superexploração.
O reconhecimento por setores da própria burguesia de que a concentração de riqueza chegou a um ponto que se converte em fator de bloqueio às forças produtivas ocorre precisamente nas condições de decomposição visível do capitalismo. Assombra os economistas burgueses o fato de que “14 indivíduos no mundo detêm cada um fortunas de mais de US$ 100 bilhões”. Esse pequeno grupo “concentra US$ 2 trilhões em riqueza”.
Nesse marco de ultra concentração de mercados acionários, de corporações monopolistas, de endividamento dos Estados nacionais e de riquezas, se impulsionam os gastos parasitários com a indústria bélica. Em 2023, chegaram a US$ 2,2 trilhões, um aumento de 9%, reconhecidamente um “gasto global maior desde a Segunda Guerra.” Os Estados Unidos estão à frente com 41% desse total. A OTAN contou com uma elevação de 8,5%. Esses números estão de acordo com o momento de maior gravidade das guerras que se travam na Ucrânia e na Faixa de Gaza. E com a acirrada guerra comercial dos Estados Unidos com a China.
As guerras são o meio e o método do capitalismo em decomposição responder às contradições entre as forças produtivas, as relações de produção e as fronteiras nacionais. A guerra comercial entre potências econômicas tende a se transformar em guerra bélica. Eis por que se coloca em discussão a possibilidade de uma Terceira Guerra. Eis por que se fortalecem as forças burguesas de ultradireita e se reergue a sombra do nazifascismo. Eis por que as massas têm de recorrerem à luta de classes. Eis por que eclodem as crises políticas, como a que se passa na Venezuela. Eis por que cresce a instabilidade mundial e regional. Eis por que vem à tona a necessidade histórica da revolução social, proletária e socialista. Eis por que se coloca em um plano ainda mais superior a crise de direção que se aflorou no período da Segunda Guerra.
É preciso compreender as leis históricas do esgotamento do capitalismo. Assim, a vanguarda revolucionária poderá cumprir o objetivo de construir os partidos marxista-leninista-trotskistas e reerguer o Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional.