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10 set 2024
Editorial do jornal Massas nº 723
Greve geral e manifestações em Israel
Um caminho para acabar com a ocupação da Faixa de Gaza
A questão dos reféns israelenses em poder do Hamas desde o início da conflagração foi um problema para o governo de Netanyahu. À medida que os meses se passavam, a carnificina dos palestinos aumentava e a Forças de Defesa de Israel não conseguiam dominar completamente a Faixa de Gaza, ficava cada vez mais visível que o destino dos 251 reféns não fazia parte dos cálculos de Netanyahu.
O Hamas em sua operação de ataque a Israel avaliou a importância dos reféns como moeda de troca. Isso tanto no sentido do curso que tomaria a resposta do Estado sionista, quanto no objetivo de demonstrar a enorme quantidade de palestinos que se acha no cárcere israelense por resistirem à opressão. O Hamas deixou para trás 1200 mortos. Em poucos dias de bombardeios na Faixa de Gaza, milhares de palestinos morreram. Hoje, as autoridades palestinas contabilizaram 40.879 vítimas fatais e quase 100 mil feridos graves. Esse número cresce diariamente, e agrava-se com os assassinatos de palestinos na Cisjordânia.
Os Estados Unidos encorajaram Netanyahu a invadir a Faixa de Gaza e caçar o Hamas sabendo que cobriria o estreito território com um rio de sangue. Em nome do “direito à defesa”, a burguesia sionista se lançou a mais uma das guerras de dominação colonialista na Palestina. Assim que a matança foi tomando proporções de um genocídio em curso, crescendo mundialmente a condenação do governo Netanyahu, avultando o movimento pró-palestinos, chegando à Corte de Haia um pedido de condenação de autoridades governamentais por prática de genocídio e aumentando a instabilidade no Oriente Médio, Biden decidiu vestir a máscara da pacificação e de uma solução futura que permitisse aos palestinos terem uma paródia de Estado, como estava previsto nos acordos de Oslo e na original decisão da ONU, em 1948, de partilha da Palestina.
Inúmeras viagens de autoridades norte-americanas serviram para propagandear a farsa de que Biden não aprovava a inflexibilidade de Netanyahu e que despendia esforços como “mediador” de um acordo de cessar-fogo. Como parte das negociações, comparecia a troca de prisioneiros palestinos pela entrega de reféns. Chegou-se ao acordo de novembro de 2023 com a troca de 24 reféns israelenses por 39 palestinos, e quatro dias de trégua. Netanyahu manobrou sob intensa pressão, e os Estados Unidos o ajudaram deixando assentada a posição de que essa seria a via para se chegar a um “cessar-fogo”.
A destruição das estruturas da Faixa de Gaza, o morticínio e o regime de fome imposto se mantiveram sob a diretriz de liquidar o Hamas e anexar a Faixa de Gaza, dando um passo a mais na anexação de toda Palestina, já que a Cisjordânia se encontra em regime de semi-anexação.
Em junho, uma operação de resgate realizada em um acampamento matou 274 palestinos e levou para casa 4 reféns mortos. Agora, diante do resgate de 6 reféns sem vida, a central sindical – Histcdrut – convocou a greve geral que se realizou no dia 2 de setembro. Praticamente, paralisou Israel e milhares ganharam as ruas exigindo o cessar-fogo e a volta dos reféns com vida. Mediante a decretação de ilegalidade, a direção recuou e desativou a greve geral. As massas israelenses, certamente, ainda não se despertaram para os reais e profundos motivos conjunturais e históricos dessa ação militar devastadora na Faixa de Gaza.
É necessário sublinhar que judeus de várias partes do mundo, principalmente dos Estados Unidos, não compartilharam e não compartilham com a política colonialista do sionismo. A classe operária e os demais trabalhadores israelenses, bem como os judeus espalhados pela diáspora por toda parte, poderão confluir com a luta dos palestinos pelo fim de sua opressão nacional. Mas, depende em grande medida de os oprimidos palestinos e a maioria oprimida árabe se organizarem no campo de classe. Somente assim a questão nacional emergirá como parte da luta pela derrocada do sistema imperialista de dominação, que virá da luta pelo fim do capitalismo e estabelecimento das bases sociais da transição do capitalismo ao socialismo.
A Palestina conhecerá a paz entre judeus e palestinos sob uma República Socialista, como parte das conquistas revolucionárias pelos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio. Há que constituir os partidos da revolução social em Israel e na Faixa de Gaza-Cisjordânia como partidos internacionalistas que tenham o objetivo comum de superar todas as formas de opressão – a nacional é uma das mais complexas.
A história não deixará impune o massacre na Faixa de Gaza. A burguesia imperialista, da qual a fração judia sionista não passa de um agente, vem criando as condições para a sua própria derrocada com as guerras de dominação. O problema está em que a classe operária se encontra órfã da direção revolucionária, ou seja, da vanguarda consciente que encarne o programa da revolução social e expresse as experiências das revoluções que derrubaram a burguesia, expropriaram a grande propriedade dos meios de produção, implantaram as bases da propriedade social e iniciaram a transição do capitalismo ao socialismo.
É fundamental não perder de vista a guerra na Ucrânia e não desvincular o genocídio na Faixa de Gaza das tendência gerais da escalada militar. Os Estados Unidos estão na base das duas conflagrações, e caminham para uma confrontação na Ásia Oriental com a China. Desgraçadamente, as massas não se despertaram para a guerra na Ucrânia, tanto quanto com o que se passa na Faixa de Gaza. Isso se deve à crise de direção, uma vez que, sem os partidos revolucionários e uma poderosa organização internacional do proletariado, ficaram obscurecidas as suas raízes que se encontram no processo de restauração capitalista e na liquidação da URSS.
A brutal crise econômica e política que sobressaltam as potências, com os Estados Unidos, França e Alemanha à frente, vem despertando as massas para a luta de classes. A unidade dos explorados e dos povos oprimidos contra a política de guerra e de escalada militar é a tarefa fundamental a ser alcançada diante das catastróficas consequências da desintegração do capitalismo. Trata-se da vanguarda marxista-leninista-trotskista aproveitar cada situação dos enfrentamentos capitalistas para responder com o programa do proletariado e colocar-se à frente dos combates.