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28 nov 2016
28 de novembro de 2016
Declaração do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional
Viva a Revolução Cubana! Defesa incondicional de suas conquistas!
Derrotar a crescente restauração capitalista!
A primeira revolução social vitoriosa na América Latina teve um extraordinário impacto no mundo, mas especialmente em nosso Continente. Demonstrou que em um país atrasado, semicolonial, e, mais ainda, estando de frente aos Estados Unidos, podia protagonizar a revolução. Questionou a política do estalinismo, contrária à revolução, defensora da coexistência pacífica com o imperialismo e a divisão do mundo que havia sido pactuada pela Rússia com as potências. Comoveu toda a vanguarda e as massas, que acompanharam com enorme atenção e entusiasmo os acontecimentos.
O Movimento 26 de julho, comandado por Fidel Castro, tinha uma plataforma política nacionalista, anti-imperialista, democrática, baseada no ideário de Martí, cujo principal objetivo era derrubar a ditadura de Batista. Nem bem conquistou o poder, teve de enfrentar o boicote das empresas estrangeiras ao governo, o que provocou poderosas divisões políticas e a radicalização do setor liderado por Castro e Che, provocando a ruptura com aqueles que se davam por satisfeitos com a derrocada do ditador. É necessário lembrar que o Partido Comunista da Argentina não apoiou a revolução. Sua direção tinha responsabilidade sobre boa parte do Continente.
O imperialismo norte-americano não podia tolerar uma revolução que começava por se proclamar comunista. Em 1960, a CIA começa a organizar a invasão da “Baia dos Porcos”, que é levada a cabo em 1961, com tropas dirigidas por cubanos dissidentes. Iniciativa contrarrevolucionária que foi derrotada pelas massas.
Fidel realiza uma extraordinária manobra comprometendo a União Soviética a defender militarmente a revolução, instalando misseis na Ilha. Efetivamente, se instalaram os misseis e, assim, eclodiu uma crise internacional de grandes proporções.
Os Estados Unidos hostilizaram Cuba todo o tempo, com sabotagens, bloqueios, tentativas de assassinato e condicionamento de sua economia e sua política. A heroica resistência da Ilha não deve, no entanto, nos fazer perder de vista o papel político que cumpriu o castrismo. A colaboração da Rússia com a economia e com a defesa militar custou um alto preço. O estalinismo foi dominando a revolução. Burocratizou-se a revolução. Passou-se a perseguir os opositores – nos referimos àqueles que defendiam a revolução, mas não aceitavam o curso burocrático que havia assumido. A revolução devia reconhecer e garantir a atuação política de todas as organizações que a defendiam. O regime de partido único é contrário à democracia proletária. O próprio Castro diria: “compramos todo o pacote” da URSS.
Ditadura? Os meios de comunicação e os politiqueiros de toda a laia qualificam Castro de ditador, autoritário, contrapondo-o à sua democracia, que, em realidade, é a ditadura da burguesia, de uma ínfima minoria da sociedade. Deste ponto de vista, podemos dizer que Cuba era o país mais democrático pelo fato de não existir a grande propriedade privada dos meios de produção. Assinalamos ambas questões: Cuba foi o país mais democrático e, ao mesmo tempo, criticamos o processo de burocratização e lutamos por uma revolução política em Cuba, para instalar a ditadura do proletariado.
O jovem revolucionário que dirigiu a primeira revolução vitoriosa se converteu em sua negação. A falta do programa, portanto, a ausência do partido revolucionário, o levou a ir contra sua própria experiência, adotando posições políticas que o afastariam cada vez mais do terreno da revolução.
Aderiu a políticas contrarrevolucionárias: apoiou a Unidade Popular no Chile, considerando-a como a “via pacífica ao socialismo”, como se fosse possível. A Frente Popular, liderada por Allende, jogou um papel contrarrevolucionário, que abriu as portas ao pinochetismo.
Teve enorme responsabilidade sobre o sandinismo, sobre o qual tinha uma grande influência, levando-o a uma política de tipo nacionalista burguês, que fracassou rotundamente e dilapidou a revolução. E também teve a responsabilidade sobre a orientação política da Frente Farabundo Martí, em El Salvador, que tinha melhores condições para a tomada do poder e não o fez quando teve a oportunidade devido à orientação da política derrotista. E teve grande responsabilidade no apoio ao reformismo armado na América Latina, ao foquismo pequeno burguês, responsável por bloquear a construção de uma direção revolucionária. A aventura de Che na Bolívia, procurando estabelecer um foco a partir do campesinato, o que lhe custou a vida, é responsabilidade da direção castrista e, certamente, do estalinismo contrarrevolucionário que abertamente o traiu.
Não nos esqueçamos do apoio às burguesias nacionais latino-americanas, a seus partidos e movimentos. Burguesias que se prostraram diante do imperialismo.
O castrismo preparou o caminho da restauração capitalista. Não havia outro caminho? A queda da URSS acelerou sua crise, a dependência de sua débil economia a levou à ruína. Poderíamos dizer, a seu favor, que durante muitos anos procurou – ainda que equivocadamente – dar impulso à revolução no Continente e em outros lugares do mundo, para superar seu isolamento, estando consciente de que a revolução isoladamente teria dificuldades para sobreviver. Seu “internacionalismo” se orientou a relações com os partidos comunistas contrarrevolucionários e com os movimentos foquistas da pequena burguesia, bem distantes da estratégia da revolução proletária.
Distintamente de outras correntes da IV Internacional, Guillermo Lora advertiu, logo de início, em 1960, sobre os perigos que representava a direção estalinista da revolução.
Ficará na história pelo seu protagonismo na primeira Revolução social vitoriosa no Continente, mas não podemos deixar de assinalar os desastres políticos, sua responsabilidade em ter contribuído para desviar o caminho da Revolução.
Grande parte do povo cubano lamenta sua morte e o reivindicará como herói nacional. Diferentemente de outras revoluções, em Cuba, muitos de seus dirigentes, de seus protagonistas diretos, ainda estão vivos, como está viva sua experiência com o regime anterior. Estão diante da contradição de defender as conquistas e, ao mesmo tempo, duvidar que o restabelecimento das relações com os Estados Unidos e as medidas de impulso à propriedade capitalista vão contra essas conquistas, agravado por um Estado burocratizado, que os leva a duvidar que seja certo que não havia outro caminho.
Ainda em processo de restauração capitalista, Cuba sustenta importantes conquistas que a colocam como a sociedade mais igualitária, menos injusta, com maior educação e saúde de todo o Continente, conquistas que perduraram apesar das enormes dificuldades que teve de enfrentar.
Os malditos gusanos, o imperialismo, a direita latino-americana e do mundo celebraram sua morte, porque Fidel simboliza que a revolução era possível, ainda que a distância de apenas 140 quilômetros dos Estados Unidos. Em um dos países mais atrasados, Fidel passou a ser sinônimo de expropriação dos capitalistas, enfrentamento à contrarrevolução com mãos de ferro e edificação de uma Cuba que foi motivo de orgulho de sua cultura, de sua educação, de sua ciência, de seu esporte, colocando-se muito à frente de todas as burguesias parasitárias do Continente.
Os revolucionários estão comprometidos com a verdade, com toda a verdade. Ressaltar as virtudes de suas origens revolucionárias, as dificuldades pelas quais passou e também a sua responsabilidade diante dos desastres políticos que protagonizou.
Defendemos a Revolução Cubana e enfrentamos os ataques do imperialismo à figura de Fidel, enquanto sejam ataques à revolução e suas conquistas.
A conclusão obrigatória é que o socialismo é insustentável em um só país. As conquistas da Revolução Cubana são parte do arsenal político e prático do proletariado revolucionário. São uma antecipação do que se pode conseguir sobre a base da socialização dos meios de produção, porém, sua preservação e desenvolvimento dependem do avanço da revolução socialista mundial e dos Estados Unidos Socialistas da América Latina. Esta luta começa dentro das fronteiras nacionais e em um movimento permanente deve continuar fora e dentro do país até acabar com toda forma de opressão social e nacional, até instaurar o comunismo em escala planetária.
Viva a Revolução Cubana! Abaixo a restauração capitalista!