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24 nov 2024
Editorial do Jornal Massas nº 727
Teatral realização do G20 reflete a decomposição do capitalismo
Não se esperava acordos promissores entre os 55 chefes de Estado. O Brasil, seu anfitrião, fez o máximo possível para dar a impressão de que um mínimo de “consenso” já seria um grande feito. Lula teria de se sair bem em seu bailado entre Joe Biden e Xi Ji Ping. Vladimir Putin não pôde comparecer, proibido pela condenação do Tribunal Penal Internacional. Seu representante, Sergei Lavrov, ficou à margem.
Nos quase doze meses de preparação, marcados por inúmeras reuniões, chegou-se à conclusão de que a guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza deveriam servir apenas de pano de fundo, já que não poderiam simplesmente ser ignoradas. No entanto, as duas conflagrações marcam a situação mundial e expressam a maior escalada bélica desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
O G20 foi criado por iniciativa dos Estados Unidos diante da derrocada da economia internacional em fins da década de 1990. O objetivo era o de atar ao carro do G7 os demais países cuja presença na ordem mundial tinham e têm importância nas relações conflituosas. Por um breve período, os Estados Unidos e aliados do G7 puderam abafar relativamente as contradições e reger a orquestra de dezenas de nações de economia atrasada.
As mudanças na balança dos interesses econômico-comerciais e as guerras foram, no entanto, minando as diretrizes hegemônicas ditadas pelos Estados Unidos. A projeção da China como potência econômica e os conflitos cada vez mais agudos da aliança imperialista com a Rússia se encarregaram de destoar a projetada orquestra do G20. Os ditames do G7 foram se chocando com a maioria dos países ditos “em desenvolvimento”, na realidade países semicoloniais que alcançaram um nível de desenvolvimento industrial, impulsionaram a agroindústria e passaram a deter as imprescindíveis fontes de matérias-primas, como é o caso do Brasil, Argentina, México, Índia, África do Sul etc.
A particularidade da China e da Rússia está em que o processo de restauração capitalista interrompeu provisoriamente a transição do capitalismo ao socialismo. Integraram-se à ordem mundial edificada após a Segunda Guerra, não sem contradições, sob a égide dos Estados Unidos. Se na década de 1990 e parte da de 2000 foi possível se ajustarem à dominação do G7, a partir de 2014 se viram em franca rota de colisão com o imperialismo norte-americano.
O G7 foi criado em 1977 nos marcos da retomada da crise geral do capitalismo do pós-guerra. Dez anos depois, a Rússia foi convidada a integrá-lo, como um gesto de fim da Guerra Fria. Em 2014, acirra-se a crise na Ucrânia com a intervenção dos Estados Unidos e União Europeia em busca de sua anexação à ordem sustentada pela OTAN, e, portanto, da quebra da ascendência da Rússia. A retomada da Crimeia pela Rússia resultou em sua expulsão do G7.
Potenciou-se o conflito em torno à Ucrânia. Em particular, o objetivo do imperialismo por colocar a OTAN na fronteira ucraniana com a Rússia levou o governo Putin a invadir o país em 24 de fevereiro de 2022. Instalou-se na Europa uma situação de confrontação com a Rússia que alterou o equilíbrio obtido nos marcos da dissolução da URSS em dezembro de 1991 favorável à estratégia norte-americana de fim da Guerra Fria.
Um ano e nove meses depois, o Estado sionista de Israel interveio na Faixa de Gaza, decido a levar a cabo o genocídio dos palestinos e anexar o que resta de seu território. São duas guerras sustentadas pelo G7 em favor da anexação da Ucrânia à União Europeia e a Faixa de Gaza e Cisjordânia ao Estado de Israel.
A unidade entre a potências imperialistas é total. No G20 deste ano, as divergências já haviam sido expostas anteriormente. O fato de não haver uma ruptura com o G7 indicou a impotência e a subordinação dos países “opositores” à hegemonia do imperialismo que paira sobre todas as organizações e instituições da burguesia mundial, incluindo o Brics.
A negociata para que se chegasse a uma declaração final visou a ocultar a rachadura que se alarga cada vez mais com a guerra comercial e com a escalada militar impulsionada pelos Estados Unidos. O governo Lula se prestou a esse serviço esforçando-se por se apresentar como arauto da cooperação e da convivência pacífica nas condições em que a desintegração do capitalismo conduz às guerras de projeção mundial.
A rota de colisão dos Estados Unidos com a China e Rússia não será resolvida pela via diplomática. Ou se capitula sem resistência diante da ofensiva da aliança imperialista abrigada no G7, ou se vai ao confronto bélico, mais cedo ou mais tarde. Em plena reunião do G20, Biden autorizou a Ucrânia a usar os mísseis de longo alcance contra a Rússia e assim intensificar a guerra. Essa é a perspectiva que esteve presente na reunião do G20.
Os acordos formais e líricos sobre a “aliança contra a fome”, taxação às grandes fortunas, transição energética e equilíbrio climático terminam em combustível para o domínio das potências. Não por acaso, em todo o mundo, os governos sejam das potências, sejam das semicolônias avançam no sentido de impor as contrarreformas que golpeiam a força de trabalho e protegem o capital. A miséria e a fome não serão combatidas com o assistencialismo burguês – nisto, o governo de Lula é notório – , mas por meio da luta de classes.
O Partido Operário Revolucionário se posicionou com a bandeira “Fora o G20 do Brasil!”, em defesa das reivindicações dos explorados, da organização de uma frente única anti-imperialista e da estratégia da revolução social.