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11 jan 2025
Editorial do jornal Massas nº 731
Início do ano de 2025
Novas manifestações da crise mundial
O ano de 2025 se inicia marcado pela continuidade e agravamento das guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza. A tentativa de golpe de Estado na Coreia do Sul evidenciou o quanto a crise mundial vem se ampliando. Mas, foi a queda do regime de Bashar al-Assad na Síria que mais projeção teve, uma vez que faz parte dos confrontos no Oriente Médio, que vêm estremecendo a região desde a intervenção do Estado sionista de Israel contra os palestinos em outubro de 2023. Na Europa, a autorização dos Estados Unidos ao governo ucraniano de usar mísseis capazes de atingir a Rússia recrudesceu a guerra. A aliança imperialista, chefiada pelos Estados Unidos, fez do povo ucraniano bucha de canhão, objetivando avançar sobre o terreno outrora controlado pela ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e cercar econômica e militarmente a Rússia. A guerra atravessou de 2022 a 2024, e adentra 2025.
A Ucrânia se encontra arruinada, sem capacidade própria para vencer o poderio militar da Rússia e ainda mais dependente do fornecimento de armas e recursos financeiros despejados pelos Estados Unidos e União Europeia. Ainda se encontra pendente a única via possível de derrotar a Rússia, que é a da intervenção direta da OTAN e, portanto, também das Forças Armadas norte-americanas. O que desencadearia uma guerra europeia, cujo alcance internacional movimentaria forças no sentido de uma terceira guerra mundial.
Os acontecimentos no Oriente Médio confluem para esse curso, uma vez que os Estados Unidos sustentam a ampliação da intervenção de Israel na Faixa de Gaza e no Líbano. Com a derrubada de Assad e a constituição do governo da Organização pela Libertação do Levante (HTS), que foi apoiada pela Turquia, Catar, Emirados Árabes etc., se fortalecerão os Estados Unidos e o Estado sionista de Israel. É claro que esse enorme desequilíbrio a favor do imperialismo dependerá da luta das massas árabes contra o endurecimento da opressão nacional no Oriente Médio. O mais provável é que a curto prazo se fortalecerão as forças capitalistas que se valem da dominação e do saque dos povos mais indefesos, como no caso dos palestinos, libaneses e sírios.
Os sintomas mais visíveis das confrontações indicam que a escalada bélica continuará em ascensão. Em sua base se encontra a crise econômica geral do capitalismo. Os Estados Unidos estão no seu epicentro desde a derrocada financeira de 2008 e a recessão mundial de 2009. Sob o governo Biden, a guerra comercial contra a China foi acompanhada de uma ampla movimentação militar no Sudeste Asiático. A guerra na Ucrânia emergiu nesse marco.
A vitória de Trump consubstancia a arremetida da fração imperialista norte-americana ainda mais voltada à guerra comercial. A volta do republicano ao poder ocorre quando a Europa se acha espremida pela estagnação e pressionada pelas tendências recessivas. Os abalos políticos na Alemanha e na França – os dois pilares da União Europeia – são reflexos da decomposição econômica agravada pela guerra na Ucrânia. Há expectativa do que fará Trump para cumprir sua promessa eleitoral de pôr fim à guerra por meio de um acordo mediado pelos Estados Unidos.
As vantagens obtidas pelos Estados Unidos não os subtraíram da condição de epicentro da crise mundial. É o que explica também a crise política que se manifesta na divisão interburguesa entre democratas e republicanos. A derrota eleitoral da candidata Kamala Harris, por ter sido fragorosa, deu os poderes congressuais que Trump necessita para pôr em prática seus objetivos internos e externos. Já diplomado e próximo da posse presidencial, Trump apresentou alguns dos objetivos mais contundentes, que trazem à tona a necessidade dos Estados Unidos exercerem seu poder mundial garantido pelas armas. Declarou que não descarta o uso de força militar para tomar o controle do Canal do Panamá e da Groelândia. Em suas palavras: “O Canal do Panamá foi construído para nosso Exército. Ele é vital para nosso país. Ele está sendo operado pela China. Mas nós demos o Canal do Panamá ao Panamá. Não o demos à China”. Quanto à Groelândia: “Precisamos da Groelândia para fins de segurança nacional. Há 45 mil habitantes lá. Essas pessoas nem sequer sabem se a Dinamarca tem ou não algum direito legal. Mas, se ela tiver, deveria abdicar dele”.
Trump foi mais longe, revelando as ambições expansionistas e anexionistas. Referiu-se ao Canadá e ao México nesses termos: “Se o Canadá se fundisse com os Estados Unidos, não haveria tarifas, os impostos cairiam e eles estariam totalmente seguros da ameaça dos navios russos e chineses. Juntos que grande nação seríamos. (…) Vamos mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América, que tem um belo litoral que cobre um grande território (…)”.
Não são a China e a Rússia, porém, que ameaçam os países e regiões indicadas por Trump, mas sim a necessidade dos Estados Unidos se contraporem ao seu declínio como potência mundial hegemônica recorrendo às ameaças de intervenção militar. Pode-se considerar como palavreado radical de um governo que precisa erguer mais alto possível o nacionalismo imperialista. O que não se pode é desconhecer que na prática os Estados Unidos vêm potenciando a guerra comercial e a escalada militar desde há muito tempo, mas principalmente desde a crise de 2008.
A referência de Trump ao Canal de Panamá e ao Golfo do México diz respeito à orientação imperialista para a América Latina. Estão previstas ações contra a penetração econômica da China no continente latino-americano. O Brasil foi pressionado a não assinar um acordo com a China correspondente à Nova Rota da Seda. O Peru tem sido denunciado como uma porta de entrada de capitais chineses aplicados em infraestrutura, como o gigantesco porto marítimo – complexo portuário de Chancay -, que coloca em risco a influência norte-americana. O cerco à Venezuela será arrochado, objetivando apossar-se da riqueza petrolífera e afastar a China e a Rússia.
Esses acontecimentos e tendências não ocorrem a despeito da luta de classes. As manifestações populares e greves de resistência vêm ocorrendo constantemente em vários países, incluindo os Estados Unidos. Avanços e recuos, nesse sentido, são visíveis. O exemplo mais flagrante é o da luta mundial das massas pelo fim do genocídio do povo palestino e pelo seu direito à autodeterminação. Sem as manifestações populares na Coreia do Sul, o golpe de Estado teria se efetivado. A greve dos metalúrgicos da Volks na Alemanha serviu de sinal para a burguesia e o governo de que o proletariado pode recorrer aos seus métodos próprios de luta. O mesmo se passou com a greve na Boeing nos Estados Unidos. Inúmeros são os protestos na América Latina. Trata-se de uma tendência que se generaliza impulsionada pela decomposição do capitalismo, pelos ataques da burguesia às condições mais elementares das massas e ao avanço da opressão nacional. A vanguarda com consciência de classe necessita compreender e avaliar o desenvolvimento da crise mundial para melhor lutar pelo programa de reivindicações dos explorados e das nações oprimidas sob a estratégia da revolução social.