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01 mar 2025
Editorial do jornal Massas nº 734
Três anos da guerra na Ucrânia
Trump avança em seu objetivo de “paz”
Somente a classe operária ucraniana, russa e europeia pode acabar com a guerra de dominação e rejeitar a paz anexadora e saqueadora imposta pelo imperialismo
Depois de três anos de guerra, ficaram bem estabelecidos os limites de seu desenvolvimento. Ou os Estados Unidos e a sua aliança europeia lançariam a OTAN contra a Rússia, ou a Ucrânia continuaria sendo enfraquecida e caminharia para uma derrota final.
A ocupação militar do Leste da Ucrânia evidenciou a incapacidade dos ucranianos em conter o avanço das forças russas e as perdas territoriais. A derrota da contraofensiva planejada pelas Forças Armadas da Ucrânia e amparada pelo reforço bélico fornecido pela aliança imperialista, iniciada em 4 de junho e encerrada em 1º de dezembro de 2023, demonstrou a imensa superioridade militar e econômica da Rússia. Nesse momento, ficou claro que a Ucrânia não poderia vencer com suas próprias forças, e o apoio dos Estados Unidos e da Europa tendia a se esgotar. Ficou claro, também, que a OTAN não seria autorizada a intervir diretamente na Ucrânia contra a Rússia.
Desse momento em diante, a guerra já não podia ascender. O máximo que as Forças Armadas e o Estado ucranianos poderiam fazer era sustentar uma posição defensiva de Kiev. Conquistado o Leste, as forças russas passaram a ter melhores condições táticas para enfraquecer militar e politicamente o Estado ucraniano.
As consequências negativas da guerra sobre a União Europeia e a Inglaterra passaram a ser um fator de grande peso na crise política, atingindo principalmente a Alemanha e a França. Nos Estados Unidos, o governo Biden se ressentiu do impasse da guerra e da impossibilidade de derrotar a Rússia apenas com as forças ucranianas, ainda que autorizando o envio de armamentos ofensivos e mantendo fartos recursos financeiros. Por mais que as sanções econômicas tenham prejudicado a Rússia, não foram capazes de quebrar sua economia, que se acha amplamente entrelaçada com países do porte da China e Índia.
Biden e seus asseclas europeus não conseguiram isolar a Rússia internacionalmente com o argumento falacioso de que o Estado russo era o único responsável pela guerra e que o fazia seguindo uma estratégia expansionista na Europa. Ao contrário, o capital financeiro e monopolista forçava passagem à penetração nas ex-repúblicas soviéticas, em detrimento do controle da Rússia. A incorporação da Ucrânia na União Europeia e na OTAN daria poderes significativos aos Estados Unidos e aliados.
A liquidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) pela contrarrevolução restauracionista favoreceu à expansão das forças imperialistas na Eurásia. Ocorre que a Rússia não deixou de ser uma potência regional, cuja sobrevivência dependia e depende de manter o controle das ex-repúblicas soviéticas, e, em particular, da Ucrânia. O capital internacional não estava impossibilitado de explorar na própria Rússia e em toda a região. O problema estava em que o imperialismo objetivava com o fim da URSS submeter a Rússia à condição de mais uma de suas semicolônias. Não sendo possível, os Estados Unidos e aliados foram apertando o cerco por meio da OTAN.
A mudança realizada por Trump, em oposição às diretrizes de Biden, se baseia no fracasso militar da Ucrânia. Cedo ou tarde, teria de se chegar ao fim da guerra. Quanto mais avançada for a penetração das forças russas, piores seriam as condições para a Ucrânia aceitar a derrota. Certamente, Trump daria seguimento à linha de Biden caso houvesse possibilidade da Ucrânia avançar na reconquista do terreno perdido no Leste do país. A alteração de posição não modifica a essência da política imperialista dos Estados Unidos em relação à guerra. A questão para os republicanos foi posta nos termos de como tirar proveito do fracasso militar da Ucrânia.
Biden fez do povo ucraniano bucha de canhão para alcançar os objetivos estratégicos da dominação imperialista. E a Rússia se utilizou da invasão militar fazendo da Ucrânia um escudo. Agora, Trump faz da Ucrânia uma moeda de troca com a Rússia, por meio de um acordo com Putin. No final das contas, a Ucrânia sai derrotada e os Estados Unidos saem vitoriosos, aproveitando-se da derrota de Zelensky, de seus generais e da oligarquia burguesa ucraniana. O serviçal Zelensky resolveu exigir segurança da Ucrânia no caso de um acordo de cessar-fogo. E quase saiu enxotado dos Estados Unidos por Trump, na reunião de 28 de fevereiro. Como se nota, os próximos passos, em direção a uma reunião com Putin, dependerão dos termos do acordo de paz trumpista.
Trump admite que a Rússia anexe a parte do território conquistado, já que se trata de uma condição para pôr fim à guerra. Nesse mesmo sentido, exclui a possibilidade de a Ucrânia se integrar à OTAN. Em contrapartida, a Ucrânia deverá se sujeitar ao saque dos Estados Unidos. Está em andamento o acordo de entrega das reservas minerais e das terras raras para a exploração das multinacionais norte-americanas. Putin, por sua vez, ofereceu a Trump o retorno dos capitais norte-americanos para a exploração no território russo. No caso, entraria a região ucraniana do Leste anexada, já que contém boa parte das terras raras. Esse plano explica por si só porque Trump deixou os aliados europeus à margem do acordo. A discussão dos governos europeus sobre a segurança da Europa contra a Rússia “expansionista” oculta o interesse dos seus capitalistas em participar do saque da Ucrânia e das facilidades que Putin oferece aos capitalistas norte-americanos.
É obrigatório denunciar e rejeitar a paz ditada pelos Estados Unidos expressão mais alta do imperialismo e negociada pela Rússia que oprime as ex-repúblicas soviéticas. Chegou-se a essa situação dramática ao povo ucraniano precisamente devido à contrarrevolução que destruiu a URSS, à restauração capitalista e à necessidade de a Rússia oprimir as ex-repúblicas soviéticas. Mas, no fundamental, se deve à crise de direção revolucionária, à completa desorganização da classe operária e à sua subordinação às forças que sustentam o capitalismo em decomposição. O que não quer dizer que a classe operária e os demais explorados não tenham sua própria resposta diante da paz dos dominadores. Emerge da guerra iniciada a três anos as bandeiras proletárias de “Paz sem anexação” e “Autodeterminação da nação oprimida”. Essas bandeiras indicam concretamente que somente a classe operária pode derrotar a ofensiva imperialista contra a Rússia e impor a autodeterminação da Ucrânia, sob um governo revolucionário, comunista.