• 17 abr 2025

    CERQUI: Manifesto aos trabalhadores, aos sindicatos e às organizações que se reivindicam da classe operária

Manifesto aos trabalhadores, aos sindicatos e às organizações que se reivindicam da classe operária

Os Estados Unidos avançam com sua política autoritária, procurando impor suas condições ao mundo inteiro, provocando recessão, maior inflação e pobreza. Ao mesmo tempo, alimenta o militarismo e as guerras.

A classe operária deve encabeçar a necessária rebelião anti-imperialista dos oprimidos do mundo com sua política própria.

Em 2 de abril, Trump lançou sua guerra comercial global, aumentando as tarifas para o mundo inteiro e denominou seu plano como “Dia da Libertação”. O aumento das tarifas foi anunciado desde sua campanha eleitoral, mas não se esperava que fosse generalizado e dessa magnitude. Seu primeiro passo foi de ataque tarifário contra o México, Canadá e China, e sobre as importações de aço e alumínio. É comparável às medidas tomadas há 100 anos, na época da Grande Depressão.

Essa decisão rompe com todos os acordos que regularam o comércio mundial durante décadas, com regras impostas principalmente pelos Estados Unidos. Rompe com a “globalização” que promoveu e com as alianças com seus principais parceiros, na América do Norte, na Europa, na Ásia, e provoca novas alianças defensivas como contrapartida. Gerou imediatamente o caos global, com quedas violentas nas bolsas de valores, títulos, até mesmo dentro de seu país.

O governo Trump foi forçado a recuar, a suspender a medida por 90 dias, para negociar com cada país. O maior banco, o JP Morgan, e empresários que apoiaram a campanha de Trump exerceram tanta pressão para reverter as medidas que causou uma fratura dentro do gabinete do governo. Mais do que a queda das bolsas de valores, o que teve grande impacto foi a queda dos títulos da dívida do Tesouro, gerando corrida especulativa e enfraquecendo o dólar, provocando um fortalecimento do ouro e de outras moedas. Um efeito contrário ao que buscava. O agronegócio também pressionou devido ao medo de que suas exportações para a China caíssem imediatamente. O FED, (o Banco Central dos Estados Unidos) entrou em estado de alerta, recusa-se a baixar as taxas de juro exigidas por Trump e diz que deve “manter o funcionamento estável do sistema financeiro”, “que não surja um acidente do crédito”, acredita que esteve perto do momento da quebra do banco “Lehman Brother”, aludindo à crise de 2008/9. As perdas nas bolsas de valores dos EUA, Europa e Ásia foram estimadas em trilhões de dólares. O entusiasmo inicial de uma fração significativa da burguesia americana com Trump se transformou em desconfiança e frustração. A previsão geral é que a economia entre em recessão com inflação. A queda do preço internacional do petróleo é um indicador dessa previsão.

O governo Trump não apenas tornou efetivas as tarifas contra a China, mas também as aumentou, mostrando seu grande objetivo, seu principal inimigo, a quem quer enfraquecer. Procura forçar negociações e isolar a China. Em muitos setores industriais chineses, o freio nos pedidos de compra já foi sentido. Trump exige que os países definam se ficam com a China ou com os EUA. Essa ofensiva levou a uma forte retaliação da China, suspendendo também todos os contratos com a Boeing, sabendo que isso também atinge o complexo militar dos EUA. Trump teve que recuar com as tarifas sobre as importações de computadores, telefones celulares e equipamentos eletrônicos porque seu encarecimento provocará rejeição popular. O aumento extraordinário das tarifas por ambas as partes indica um colapso total das relações comerciais, que não pode ser sustentado, teremos que ver o que e quanto cede cada, entretanto isso já provocou severos danos à economia mundial.

Os massacres em Gaza com o objetivo de expulsar os palestinos e anexar suas terras são apoiados pelos EUA. As ameaças de militarizar o Canal do Panamá, anexar a Groenlândia e o Canadá e impor uma política de paz na Ucrânia que lhe garanta o controle das semicolônias, lhe permita promover o saque e a pilhagem de suas riquezas, são parte inseparável de sua guerra comercial global. A Europa segue o mesmo caminho, aprovando um orçamento extraordinário de 800 bilhões de euros para se armar. A Alemanha levanta todas as restrições orçamentárias e militares, e pede à Europa autorização para fornecer mísseis Taurus de longo alcance à Ucrânia, enquanto a França destaca seu poderio atômico para “garantir a segurança” da Europa.

Este agravamento da crise internacional revela o desespero da burguesia norte-americana para conter seu declínio como potência hegemônica e resolver sua aguda crise econômica descarregando-a sobre os demais países, incluindo seus aliados mais próximos, quebrando 80 anos de acordos. Uma política ultra protecionista e expansionista que a burguesia vem aprofundando desde a primeira presidência de Trump. É evidente que as contradições econômicas estruturais que levaram à eclosão da crise de 2008-9 ainda estão presentes, pois não conseguiram fechá-la. Seu objetivo é reduzir seu endividamento para diminuir os juros gerados por sua dívida, reduzir sua balança comercial negativa, aumentar o investimento, integrar localmente suas cadeias de suprimentos vitais, aumentar a produção de mercadorias em seu país e expandir seu território por meio de anexações, garantindo o fornecimento de minerais necessários, fortalecendo sua moeda. Medidas que geram recessão e inflação, mais desemprego e precariedade para os trabalhadores, inclusive em seu próprio país. Essa via do plano de Trump reforça ainda mais a contradição entre as forças produtivas e as fronteiras nacionais. Entre as contradições do capitalismo, esse é um dos fatores mais importantes que desencadearam a guerra comercial e a escalada militar.

A burguesia das potências e das semicolônias tentou amortecer o choque e negociar, buscando novas alianças, mas são incapazes de derrotar esse ataque. Todos eles vão descarregar a crise sobre as costas dos trabalhadores, da maioria oprimida.

A intensificação da guerra comercial e a ameaça iminente de se tornar um conflito bélico trouxeram à tona as gigantescas desproporções entre os interesses de um punhado de ultra-ricos proprietários de gigantescas corporações multinacionais e a maioria das nações oprimidas do planeta e que, junto com o proletariado das nações ricas, estão lutando para enfrentar o crescente empobrecimento, a deterioração sistemática das suas condições de vida e a ameaça de serem arrastados para uma guerra fratricida em benefício do grande capital. É mais do que evidente a necessidade de expulsar do poder à oligarquia financeira, à burguesia imperialista e às burguesias nacionais incapazes de enfrentar os desígnios imperialistas.

Estão se tornando cada vez mais evidentes as contradições insuperáveis de um capitalismo em agonia, em decomposição, que não pode ser reformado e que coloca objetivamente a tarefa de superá-lo por meio da revolução social. A classe operária deve reagir em todo o mundo enfrentando estas políticas e suas consequências desastrosas que podem levar a humanidade a um caos maior do que vivemos e do qual será mais difícil sair. A classe operária deve se levantar e encabeçar a luta anti-imperialista em nossos países.

Cabe à classe operária e aos demais trabalhadores defenderem as condições materiais de vida e trabalho da maioria oprimida, que está ameaçada, enfrentando o ataque imperialista que Trump desencadeou: defendendo o poder de compra dos salários e aposentadorias; impedindo o fechamento de fábricas, demissões e suspensões, lutando por empregos para todos; enfrentando os ataques do grande capital à força de trabalho; lutando pelo controle operário da produção.

É necessário que a classe operária se coloque à frente da luta nacional nas nações oprimidas, tomando em suas mãos a luta pela defesa das indústrias e por um verdadeiro desenvolvimento industrial. As mercadorias que não podem entrar nos EUA, Europa ou China vão ser canalizadas para o restante dos mercados, liquidando ou enfraquecendo suas indústrias. Há que rejeitar a entrega e pilhagem de nossos recursos; acabar com todas as formas de rapina financeira. Há que rejeitar todas as imposições do imperialismo, defendendo a soberania e autodeterminação das nações. É necessário combater o armamentismo, desmontar as bases militares do imperialismo, romper os acordos militares. A defesa da economia dos países semicoloniais insere-se no programa de expropriação da grande propriedade privada dos meios de produção e da sua transformação em propriedade social. O que se realizará por meio da luta de classes e da estratégia de tomada do poder pelo proletariado à frente da maioria nacional oprimida.

A classe operária deve tornar-se dirigente de todos os oprimidos e levantar-se com seus próprios métodos de luta, com suas próprias organizações, com sua própria política, tornando-se independente de qualquer tutela da burguesia. Mobilizações multitudinárias em 1.200 cidades dos EUA e na Europa rejeitando as políticas de Trump agitam a luta de classes, que se potenciará devido ao rápido agravamento das condições de vida e trabalho. É necessário que a classe operária norte-americana retorne em massa à ação, e deve aparecer a orientação que trabalhe para unificar as lutas com uma perspectiva independente, proletária, internacional, rumo à vitória.

A classe operária, os trabalhadores, a maioria oprimida devem se colocar a questão de como tomar a direção da economia em nossas próprias mãos, como a organizamos e planejamos com base em nossas necessidades. Como acabar com o poder dos capitalistas que, em sua agonia, abrem o caminho para a barbárie. E, ao mesmo tempo, como organizamos nossa própria luta pelo poder. Em todas partes estamos testemunhando a agonia das formas de dominação democrático-burguesa. Políticas de ajuste, de ataque a direitos, são acompanhadas por um crescente autoritarismo e direitização dos governos.

Devemos promover a mais ampla unidade das lutas, exigindo que os sindicatos e centrais sindicais se coloquem à altura da luta que devemos travar, rompendo todos os laços com os governos, com os partidos que defendem a grande propriedade privada dos meios de produção. Convocando todos os setores da vanguarda consciente a trabalhar com essa perspectiva. Unidade que transcende as fronteiras nacionais, defendendo a unidade anti-imperialista dos oprimidos em toda a América Latina com a política da classe operária.

O imperialismo procura fraturar acordos como o Mercosul em seu benefício, apoiando-se em um país ou outro, exercendo pressão máxima sobre suas burguesias incapazes de resistir. A classe operária chama a defender o Panamá contra todas as imposições militares dos Estados Unidos; defender Cuba contra seus bloqueios intermináveis; defender a Venezuela das crescentes ameaças e bloqueios; rejeitar as expulsões sumárias de imigrantes dos Estados Unidos, uma verdadeira afronta aos nossos povos; rejeitar as imposições do FMI na Argentina e nos demais países submetidos a seus planos antinacionais e pró-imperialistas, rejeitar as tarifas e o saque de nossos países, desconhecer a dívida externa. Os Estados Unidos Socialistas da América é a bandeira política que expressa a unidade de nossos povos sob a direção revolucionária da classe operária, é a única maneira de derrotar a opressão imperialista.

Esta profunda crise do capitalismo é uma oportunidade para politizar as massas, sem deixar de fazer um balanço dos erros e problemas do passado, e procurando superá-los na luta contra o imperialismo e todas as expressões capitalistas locais. Devemos revitalizar nossa intervenção nos movimentos com uma política independente e revolucionária. A debilidade política da classe operária é o produto de derrotas, traições e vacilações, da dissolução das maiores conquistas que havíamos alcançado. Temos de amadurecer politicamente a tarefa de reposicionar a classe operária como o centro dirigente das massas, em nossos países e em escala mundial. Este é o trabalho que o CERQUI encarna, voltado a reconstruir o Partido Mundial da Revolução Socialista.